O período das férias escolares traz, além do descanso para crianças e adolescentes, um desafio para os pais e responsáveis, promover o entretenimento aos filhos. Muitas vezes, por conta do cotidiano mais corrido, os adultos recorrem à utilização de celulares e computadores, bem como lançam mão da televisão para manter os pequenos ocupados durante as férias. Essa é a realidade vivida pela designer Paula Casarini, 35 anos, mãe do pequeno George Casarini Paterno, de 5 anos. “Eu trabalho fora o dia todo e meu marido não tem muita lida para realizar atividades lúdicas, por exemplo, então deixamos o George mais ligado aos desenhos animados, disponíveis em plataformas digitais, grande parte do tempo”, conta a moradora de Santo André.
Para muitos pais e responsáveis que trabalham fora de casa o dia todo, é preciso ainda encontrar companhia para os filhos. Para a moradora de Ribeirão Pires, Fernanda Mello, 39 anos, mãe da Alice de Mello Marcelino, 6 anos, é preciso contar com a ajuda da avó, de vizinhas e de outras mães para que a filha possa ficar em um ambiente monitorado enquanto trabalha. O grande desafio de Mello é ter momentos de qualidade quando está com a filha, seja no período de férias ou não. “Como ela fica com o tempo muito livre, sem se cansar a agitação dela multiplica, então, temos que nos virar para que a rotina não saia tão dos eixos. Meu marido brinca um pouco com ela a tarde e eu brinco um pouco a noite, mas isso não supre muita coisa”, explica.
O acesso a dispositivos eletrônicos deve ser mantido sem excessos. A Organização Mundial da Saúde aponta que crianças devem ficar, no máximo, duas horas por dia, em frente às telas, seja de celulares, computadores ou televisores. “É importante que os pais proponham atividades que tragam o movimento corporal, como amarelinha, caça-brinquedos, estátua em movimento, ou pega-pega”, orienta o professor Pedro Paulo Maneschy, assessor esportivo da seção de Esporte e Lazer (SEL) da pró-reitoria de Assuntos Comunitários e Políticas Afirmativas (PROAP) da UFABC.
Maneschy ressalta a importância do brincar para o desenvolvimento infantil. “Essas atividades acabam estabelecendo uma relação geracional com as crianças, pois os adultos, e até mesmo os idosos, podem resgatar memórias afetivas e estabelecer vínculos afetivos com os filhos e netos. A internet tem muitas sugestões de brincadeiras, atividades físicas para jovens como exercícios e dança, opções seguras para quem, por conta da pandemia, tem receio em deixar os filhos fora de casa”, explica.
Diferente dos adultos que se comunicam a partir da fala, as crianças se expressam através do brincar e por conta da vida corrida, o brincar tem sido deixado um pouco de lado. “Para a criança tudo pode ser brincar, se os pais estiverem trabalhando em casa podem propor uma brincadeira em que a criança vai ajudar o adulto no trabalho. Deixe papéis e lápis disponíveis, use a realidade a seu favor. O brincar é imaginário e criativo”, explica a psicóloga Amanda Morretti da Cruz.
Essa é uma das táticas utilizadas pela moradora de Santo André e fisioterapeuta, Ana Paula Lopes da Costa, de 35 anos, para unir trabalho em sistema remoto, estudos e o cuidado com o filho Vitor Lopes da Costa, 4 anos. “Quando chega a hora do almoço, ele quer me ajudar com algumas tarefas de casa, como lavar a louça. No período da manhã, enquanto eu trabalho, ele assiste desenho, depois ele se cansa e quer atenção. Aproveito para estar com ele enquanto faço a comida e depois ao arrumar a cozinha”, conta Lopes.
O período de isolamento social trouxe consequências ao pequeno Vitor. “Ficamos 5 meses em casa sem sair, apenas para dar um passeio no quarteirão de casa. Precisei levá-lo à psicóloga por um tempo depois da primeira onda. Ele sempre teve dificuldade em se socializar e por conta do isolamento, isso agravou muito”, relata Lopes. Neste momento, mesmo com a chegada da variante ômicron, Lopes mantém os passeios com o filho. “Geralmente vamos visitar os avós, ou vamos a um shopping ou parque para andar de bicicleta. Em casa, ele também gosta de desenhar e assistir televisão”, finaliza.
Para Moretti, uma das orientações aos adultos é sempre se esforçar para ter momentos de qualidade com os filhos. “Ao chegar em casa ou ao ter um tempo livre, dedique este tempo para dar atenção de verdade às crianças. Podem ser trinta minutos, mas que seja um tempo de dedicação ao seu filho”, diz. Este momento de integração com os pais, que ajuda no aprendizado da linguagem, na interação social, no desenvolvimento das emoções, entre outros benefícios. “Na televisão e redes sociais não há essa interação educativa. Então, mesmo ao assistir televisão com as crianças, faça esse momento ser produtivo indicando o certo e o errado, por exemplo”, conclui.