Com três anos de operação em São Bernardo, a Saab vive momento de grande expectativa com a aproximação da data de entrega dos primeiros caças de sua produção – os Gripen – serem montados e entregues à Aeronáutica, o que deve ocorrer no próximo ano. A fábrica da empresa em São Bernardo foi instalada em 2018 e produz as estruturas de fuselagem das aeronaves, um processo de alta tecnologia. A empresa emprega atualmente 90 funcionários na produção de seis módulos do caça e também montou um laboratório para manutenção de radares e de sistemas de guerra eletrônicos para dar suporte às novas aeronaves.
O diretor geral da Saab, de São Bernardo, Fabrício Saito, falou ao RDTv sobre a expectativa de montagem das primeiras aeronaves que terão as partes unidas na unidade da Embraer, em Gavião Peixoto (SP). De acordo com o contrato com o governo brasileiro, a Saab tem de fornecer 36 caças.
“Não é só uma aeronave, o programa Gripen é extremamente complexo, pois existem vários módulos do programa, mas o principal dele, que fez o Brasil escolher a Saab, é o processo de transferência de tecnologia. Então, mais do que entregar uma aeronave de caça de última geração e eventualmente até produzir peças desta aeronave, o mais importante é o conhecimento que está vindo da Suécia e está sendo utilizado e absorvido pela nossa mão-de-obra que está aqui no ABC. O programa prevê mais de 350 profissionais treinados diretamente na Suécia”, diz Saito.
O diretor explica que na fábrica de São Bernardo são produzidos seis módulos do caça feito sob encomenda pela Força Aérea Brasileira (FAB). ”Especificamente nesta planta estamos fabricando componentes estruturais desta aeronave que é composta de vários módulos e cinco destes estão sendo feitos aqui na planta de São Bernardo dentro de uma estratégia de São Bernardo ser o fornecedor global desse componente para a Saab. A força aérea quis buscar a transferência de tecnologia e ter a fabricação aqui no País. No momento em que se tornou uma demanda da aeronáutica, coube a Saab encontrar uma localidade adequada em termos de mão-de-obra qualificada em termos de disponibilidade de universidades, em termos de logística e São Bernardo demonstrou uma opção viável e adequada para essa iniciativa. Temos 90 funcionários, 70 para a fabricação de componentes e 20 funcionários para a manutenção de radares. No período de pandemia construímos uma área de 600 metros quadrados específica para a manutenção de radar. O site inteiro tem 5 mil metros quadrados”, afirma o executivo.
Esse espaço de 600 metros quadrados é outra demanda e que está dentro do planejamento estratégico da FAB, que colocou como requisitos que a manutenção dos radares e dos componentes de guerra eletrônica deveriam ser realizados no País. “Hoje numa aeronave de caça de última geração, o sistema de radar e o de guerra eletrônico são os mais críticos e determinantes até da capacidade desta aeronave. O radar é um sistema para identificar alvos e o sistema de guerra eletrônica é um sistema para confundir o radar inimigo e tornar a aeronave indetectável. A tecnologia está extremamente avançada para a manutenção destes componentes, só que a manutenção requer instalações específicas; começa pelo controle ambiental, temperatura, umidade e nível de poeira porque os equipamentos são extremamente sensíveis. Fomos buscar, para a estrutura, empresas especializadas em construção de laboratórios farmacêuticos. É uma estrutura única, eu me atrevo a dizer que é a primeira estrutura que a Saab coloca fora da Suécia e é uma das pouquíssimas aqui no Cone Sul. Essa atividade requer não só uma capacidade específica das instalações, mas das pessoas que irão trabalhar nessas instalações”, diz o diretor geral, que não revelou, por questões de mercado, o valor investido na planta de São Bernardo.
A fábrica de São Bernardo produz seis partes da aeronave Gripen: fuselagem dianteira, onde o piloto senta; o caixão das duas asas; a fuselagem traseira, onde fica acondicionado o motor; o cone de cauda, que é no final da aeronave e os freios aerodinâmicos. A produção é complexa, envolve muita tecnologia e mão-de-obra muito específica, mas atualmente a Saab já produz com a mesma especificação e qualidade dos caças que fabrica na Suécia. “Temos uma capacidade adequada para garantir o fluxo de produção do programa brasileiro. A construção de uma aeronave ainda é artesanal. Estamos produzindo aero estruturas que são 100% idênticas com as produzidas na Suécia o que nos credencia para ser fornecedor global”, conta o diretor.
Pandemia
“O negócio de manutenção de radares veio da aquisição de uma empresa chamada Atmos que foi adquirida durante a pandemia, essa empresa ficava em São Paulo e para a necessidade achamos que o melhor lugar era em São Bernardo. Foi aí que nós acrescentamos uma capacidade tecnológica, fizemos a transferência desta empresa, construímos as novas instalações, nós estamos desenvolvendo os equipamentos, tudo isso em plena pandemia. Foi um grande desafio construir e comprar, mas nós conseguimos e estamos dentro de todo o planejamento”, diz Saito.
Por fim o diretor geral da Saab de São Bernardo falou da expectativa da entrega dos primeiros caças que são produzidos no Brasil. Com as peças da fuselagem feitas no ABC, o caça terá montagem em Gavião Peixoto (SP) na unidade da Embraer. “2021 foi um ano bom, concluímos nossos objetivos e ano que vem é o início das operações na Força Aérea então é um ano de muita expectativa, muitos desafios e para solidificar a nossa permanência, nossa presença em São Bernardo”, completou.