Desde 2017 que, por conta de contenção orçamentária dos municípios, as escolas de samba ficam sem desfilar pelas ruas do ABC. O jejum vai completar cinco anos no próximo Carnaval porque as prefeituras não pretendem mudar suas posições, desta vez, alegando a pandemia da covid-19. Segundo os carnavalescos ouvidos pelo RD milhares de empregos deixaram de ser gerados neste período, pois os barracões movimentam a economia durante o ano todo com a confecção de fantasias, carros alegóricos, adereços e produção musical. A região tem 48 escolas de samba que também são espaços culturais e pontos de cultura.
Para o presidente da UESA (União das Escolas de Samba de Santo André), Hamilton de Paula, não há esperanças de volta dos desfiles de rua a curto prazo. “Eu tenho 55 anos, sempre trabalhei com o samba e nunca tivemos uma suspensão dos carnavais como está acontecendo agora. Desde 2016, quando foi o último desfile de rua, que a região não tem Carnaval, mas os prefeitos resolveram manter os bloquinhos. A região tem escolas de muitos anos que pararam e quem perde é a população. Cinquenta e sete cidades do estado já disseram não ao Carnaval”, lamenta.
Apesar da dificuldade o carnavalesco continua vivendo do Carnaval com seu ateliê de fantasias em Santo André, mas trabalha por encomendas e para o Carnaval paulistano. “Eu trabalho o ano inteiro com fantasias e tem toda uma equipe que depende disso”, ressalta De Paula ao comentar sobre os postos de trabalho que poderiam ser gerados durante os anos de recesso dos desfiles. O presidente da UESA disse que tentou, mas nunca conseguiu falar com o prefeito Paulo Serra (PSDB) sobre o tema e não tem esperanças. “O Paulo Serra é contra o Carnaval e ele é presidente do Consórcio, logo, a região também não terá desfiles. Nas reuniões que tivemos ele não compareceu, mandou assessores”, aponta.
Enquanto a região não gera empregos, o Carnaval paulistano segue no caminho inverso. “O Carnaval paulistano é o destino de muita gente. O sambista de verdade não deixa o samba, vai para São Paulo ou outro lugar”, conclui Hamilton de Paula.
Para a presidente da Uesma (União das Escolas de Samba de Mauá), Meire Terezinha da Silva, de 51 anos, todo esse tempo sem desfiles desmobilizou as escolas de samba que hoje estão desestruturadas, por isso para ela a solução seria a organização de um Carnaval Regional. “No ABC já está tão enfraquecido financeiramente que um Carnaval regional seria uma saída”, analisa. Ela também avalia como grande o prejuízo social causado pela não realização dos desfiles. Somente em Mauá são oito escolas de samba. “Essas escolas são atuantes com projetos Sociais, de acordo com sua comunidade. Com desfiles são gerados cerca de três mil vagas de empregos diretos e indiretos”, calcula. Segundo Meire diversos setores da economia são afetados. “A não realização de um desfile causa um prejuízo ao turismo, hotelaria, comércio local, serviços diretos nos barracões e comercio indireto”.
Cidades
As prefeituras ainda não fecharam um posicionamento único sobre o tema, mas a maioria deve mesmo manter suspensos os desfiles. O Consórcio intermunicipal vai debater o assunto na plenária de dezembro, que deve acontecer na segunda semana do mês. O prefeito de Santo André e presidente do colegiado, Paulo Serra, já disse que é contra a realização da festa de rua, mas que por respeito às outras cidades haverá uma deliberação regional.
Serra, disse que é favorável à proibição do Carnaval. “Pessoalmente sou a favor da proibição do Carnaval e irei levar esse tema ao Consórcio Intermunicipal, na reunião que deve ser realizada na segunda semana de dezembro entre os sete prefeitos da região. No entanto, para que essa medida tenha efeito, é preciso que ela seja tomada de maneira uniforme, porque as pessoas podem sair de uma cidade e ir para o Carnaval em outro município. Outra questão é que nós, no Consórcio, vamos avaliar fazer um pedido ao Governo Federal para seja exigido dos turistas que venham para o Brasil o certificado de vacinação. Se não tivermos uma coordenação nacional e bloqueio nos aeroportos, como outros países têm feito, vamos correr muito risco. Particularmente sou a favor da proibição do Carnaval. Não acredito que é o momento de ter esse tipo de evento e outros tipos que precisam ser discutidos. No entanto, acredito que essa coordenação nacional poderia possibilitar algum tipo de flexibilização”, disse em nota enviada ao RD.
Ao RD as prefeituras confirmaram a tendência. A prefeitura de Ribeirão Pires informou que ainda não oficializou o cancelamento do Carnaval, embora o prefeito Clóvis Volpi (PL) já tenha dito publicamente que assim o fará. “Até o momento ainda não há definições sobre o regramento para o período”. A prefeitura de Rio Grande da Serra disse que, por causa das dificuldades financeiras, não realizará atividades no Carnaval. Outra que já fechou as portas para os desfiles foi a prefeitura de São Caetano, que inclusive já oficializou a decisão.
A prefeitura de São Bernardo também já descartou os desfiles de Carnaval. “A Prefeitura de São Bernardo informa que desde 2017 não repassa recursos à organização das escolas de samba para realização do Carnaval, como parte do plano de austeridade econômica. A medida visa reduzir gastos públicos e otimizar a receita municipal, o que será ainda mais necessário durante e no período pós-pandemia. Fora do contexto de pandemia, a Prefeitura dá apoio à programação de blocos de Carnaval independentes – sem recursos municipais –, por meio de chamamento público. Até o momento, não houve demanda neste sentido para 2022”, informou em nota.
A prefeitura de Diadema analisará o tema até dezembro. “A realização do Carnaval 2022 ainda está em fase de discussão entre Secretaria de Cultura, Governo e o Comitê Intersecretarial da covid-19. A previsão é anunciar algum direcionamento ainda no início de dezembro”, informou em nota.
A prefeitura de Mauá não se posicionou.