Abstenção da vacina e flexibilização podem agravar pandemia no ABC

Agentes de saúde da UBS Vila Paulina, em Diadema visitam residências na busca ativa de quem não voltou para a segunda dose. (Foto: Igor Andrade/PMD)

Perto de 10% da população do ABC ainda não tomou a segunda dose da vacina contra a covid-19. Para especialista, o número de pessoas que não voltou aos postos para completar o esquema vacinal pode complicar o cenário da pandemia e os mais prejudicados serão as pessoas com doses em atraso ou que não se vacinaram. O pneumologista e professor da Faculdade de Medicina do ABC, Elie Fiss, considera que, somada à liberação do uso de máscaras em locais públicos, essa abstenção tem chance de agravar o quadro pandêmico.

No Estado de São Paulo, 4,3 milhões ainda precisam tomar a segunda dose do imunizante. No total, 201 mil idosos acima de 60 anos devem procurar as unidades básicas de saúde para completar o esquema vacinal. Entre 50 e 59 anos, são 267 mil pessoas; entre 40 e 49 anos, 438 mil faltosos e entre 30 e 39 anos, o número é de 707 mil pessoas. Na faixa etária entre 20 e 29 anos, 1,4 milhão de pessoas ainda precisam tomar a segunda dose da vacina e entre os adolescentes, de 12 a 19 anos, o número chega a 1,3 milhão de faltosos.

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No ABC os números também são elevados. Somente em Mauá são 40 mil pessoas com a segunda dose em atraso, sendo que a cidade tem pouco mais de 481 mil habitantes segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), portanto o número de faltosos passa dos 8,3% da população total estimada.

“Realmente esse número de Mauá, que representa quase 10% da população, é muito importante, infelizmente, mas por outro lado 90% já tomou a segunda dose, então eu acho que, mesmo com a liberação do uso de máscara, pode aumentar o número de infectados e mortos, pode sim, mas isso vai repercutir principalmente entre os não vacinados ou entre os que não completaram a vacinação. Não completar a vacinação é praticamente a mesma coisa do que não estar vacinado”, diz o pneumologista da FMABC.

No caso de Mauá, a Prefeitura realiza busca ativa. “Os agentes comunitários de saúde das 13 UBSs (unidades básicas de saúde), que têm como modelo assistencial exclusivo a Estratégia Saúde da Família, irão bater de porta em porta em busca dos atrasados. Até esta terça-feira (23/11) foram aplicadas 285.262 segundas doses na cidade”, informa.

Busca ativa dos agentes de saúde de São Bernardo. (Foto: Divulgação PMSBC)

Em Diadema, 9,55% da população estão em atraso com a segunda dose de acordo, são 40.921 pessoas. APrefeitura também adotou políticas para evitar a abstenção. “A equipe de “Informação em Saúde”, faz extração de relatórios do sistema Vacivida, com listas nominais de pacientes que receberam D1, e estão atrasados para receber a 2ª dose, a partir de um dia de atraso. As listas são encaminhadas para as UBSs que, diariamente, acessam a lista e fazem busca ativa (por telefone, WhatsApp ou de forma presencial) para localizar os faltosos ou incentivar os moradores a comparecerem à UBS. O trabalho é feito por Agentes Comunitários de Saúde, equipes de enfermagem e funcionários dos setores administrativos”, explica a Prefeitura.

Em São Bernardo, 53.488 pessoas estão com o calendário vacinal em atraso, número que corresponde a 6,29% da população estimada segundo o IBGE. Em nota a prefeitura informa que adota estratégias para reduzir a abstenção. “A Prefeitura informa que as UBSs realizam busca ativa diária para contatar quem está com a segunda dose em atraso, por meio de ligação telefônica e pessoalmente, com a presença dos Agentes Comunitários de Saúde (ACS) nas residências. As doses atrasadas são ofertadas por agendamento em qualquer uma das 33 UBSs, conforme horário de atendimento de cada unidade, sendo 20 delas com funcionamento até às 22h. Neste sábado (27/11), os equipamentos estarão abertos com doses disponíveis para vacinação de 1ª, 2ª e 3ª doses contra a Covid-19, das 8h às 17h.

São Caetano tem duas equipes com 10 funcionários para fazer a busca ativa. “Na cidade são 12.189 pessoas que precisam tomar a segunda dose. Destes, 3.355 são jovens de 12 a 17 anos, parte deles, ainda recebendo a segunda dose porque tomaram depois do grupo (não estão atrasados). O número de faltosos corresponde a 7,49% da população estimada”, diz.

Morador de Ribeirão Pires, Braz Cavalcanti é abordado pela equipe da busca ativa. (Foto: Divulgação PMETRP)

Santo André não informou quantos não voltaram para a segunda dose. Diz apenas que a abstenção gira em torno de 10% a 15%. Não informa também se faz busca ativa. Informa somente que as unidades de saúde fazem contato com a população para esclarecer sobre a importância da vacinação e que os agentes comunitários de saúde também atuam no território esclarecendo sobre a questão.

Ribeirão Pires também faz busca ativa para tentar convencer os 6.991 moradores que não voltaram para tomar a segunda dose. Segundo a prefeitura a busca é feita por telefone e por visitas domiciliares.

A Prefeitura de Rio Grande da Serra informou que também está fazendo a busca ativa de pessoas que ainda não tomaram a segunda dose. Esse público compreende 14.502 pessoas.

A não vacinação complica não apenas a vida de quem não se imunizou, mas a do próximo, segundo o especialista. “A recomendação continua sendo completar as duas doses e agora a terceira dose que está indicada para todos os adultos também é o recomendado. Tem um número muito grande de vacinados, esses 10% vai atrapalhar muito a vida deles mesmos. A vida dos outros pode também acabar complicando, um pouco, mas não na mesma proporção”, diz Elie Fiss.

 

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