Com a aproximação do verão e temporada de chuvas intensas na região, ambientalistas voltam a se preocupar com a situação dos córregos e rios do ABC. Isso porque toneladas de lixo estão jogadas nos leitos e, sem serviços básicos de limpeza, manutenção e desassoreamento, há surgimento de esgotos a céu aberto, enchentes e poluição ambiental. Quem passa perto dos rios e córregos da região reclama do abandono do poder público pela falta de manutenção.
Fábio Modesto, professor de Geografia em Ribeirão Pires, costuma caminhar nos arredores do córrego situado na extensão da avenida Prefeito Valdírio Prisco. No entanto, com o passar dos anos, tem percebido esquecimento do poder público no que se refere a serviços de manutenção e fiscalização do córrego. “Fui guarda mirim até 1995, de lá pra cá, com o aumento da população e do despejo direto de esgoto no rio, a situação piorou muito. É um absurdo usarem um rio que deságua na represa (que usamos para beber água) virar um esgoto a céu aberto”, aponta.
Em nota, a Prefeitura de Ribeirão Pires informa que no início deste ano, desassoreou 20 córregos: Jardim Itacolomy , Jardim Valentina, Vila Amália, Jardim Ribeirão Pires, Jardim Luso, Santa Luzia, Barro Branco, Jardim Santa Rosa, Vila Gomes, Centro, entre outros. O objetivo foi retirar entulhos, lixo, excesso de areia e lama acumulados no fundo do rio. No entanto, não foi informado a quantidade de lixo retirado.
Ao RD, a pesquisadora, ativista ambiental e professora da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Marta Marcondes, esclarece que quando os córregos não são colocados como prioridade pela população e poder público, a água chega poluída até o rio Tamanduateí ou Reservatório da Represa Billings, que faz a distribuição para a casa das pessoas. “É uma cadeia sem fim, gerando poluição atrás de poluição”, diz.
Segundo a professora, os córregos devem se manter com suas margens limpas e regulares e, caso isso não ocorra devido a falta de tratamento dos esgotos, quem sofre é a própria população. “Os esgotos são jogados diretamente nesses corpos de água e levam doenças como a gastroenterite, problemas respiratórios e/ou problemas de pele”, elenca.
São Bernardo recolhe 820 toneladas de lixo
São Bernardo possui 31 córregos espalhados pela cidade e, segundo a Prefeitura, todos recebem manutenção semestral. De janeiro até agora, foram removidas 820 toneladas de resíduos desses córregos, enquanto no ano passado, 650 toneladas foram recolhidas – em sua maioria entulhos domésticos, além de móveis e resíduos de motos e automóveis.
Quem vive na cidade, denuncia o descarte irregular feito em alguns pontos da cidade, a exemplo do Ribeirão dos Meninos. “Principalmente no fim do ano, sempre vemos carros encostando perto da nascente, ali na (avenida) Omar Daibert, para jogar material dentro do rio. Isso acontece porque ninguém fiscaliza”, denuncia Maria Antonia Figueira dos Santos, moradora do bairro Demarchi.
Em São Caetano, o único córrego a passar pela cidade é o Córrego dos Moinhos, que se encontra canalizado ao longo da av. Presidente Kennedy e possui uma parte a céu aberto, próximo ao Corpo de Bombeiros (no entroncamento da avenidas Presidente Kennedy e a Goiás), até o rio Tamanduateí. O Saesa (Sistema de Água, Esgoto e Saneamento Ambiental) de São Caetano diz que inspeciona as dependências e realiza a limpeza e manutenção quando necessário.
Os demais córregos que passam pela cidade (Meninos, Utinga e Tamanduateí) estão situados na divisa com outros municípios, o que torna a manutenção e conservação de suas superfícies responsabilidade do Estado, através do DAEE (Departamento de Águas e Energia Elétrica).
Santo André retira 2 mil toneladas de resíduos
Santo André possui uma bacia: rio Tamanduateí; duas sub-bacias: Ribeirão Oratório e Ribeirão do Meninos e 35 afluentes. A limpeza é realizada de forma manual (capina e roçagem) ou mecânica (de acordo com a necessidade após vistoria técnica). Com a aproximação das chuvas, há intensificação nas intervenções. Enquanto no ano passado foram retiradas 9.090,37 toneladas de resíduos dos córregos, este ano a Prefeitura retirou 2.071,60 toneladas de resíduos.
Durante a execução das limpezas mecânicas são encontrados resíduos de obras (residenciais), colchão, sofá, pneus e até animais mortos. Para combater o problema, em parceria com a Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo), o município estuda a ampliação do tratamento de esgoto para trabalhar na despoluição dos córregos. No entanto, não há data para execução do projeto.