Convocados por grupos de centro-direita, manifestantes foram às ruas neste domingo, em 15 capitais, pedir o impeachment do presidente Jair Bolsonaro. Mas a divisão da oposição ao governo acabou esvaziando os atos organizados pelo Movimento Brasil Livre (MBL), Vem Pra Rua (VPR) e Livres. O número de pessoas que aderiu aos protestos foi bem menor do que o contabilizado nas manifestações de 7 de Setembro, quando o presidente ameaçou o Supremo Tribunal Federal e pregou desobediência a decisões judiciais.
O maior ato foi o da Avenida Paulista, em São Paulo. De acordo com estimativa da Secretaria de Segurança Pública de São Paulo, cerca de 6 mil pessoas compareceram à manifestação, ante 125 mil estimadas pela Polícia Militar no mesmo local no dia 7.
Foi o primeiro protesto pelo impeachment de Bolsonaro encabeçado por esses movimentos, que ganharam projeção durante a campanha pelo impedimento de Dilma Rousseff (PT) em 2016. A adesão foi além da direita, alcançou presidenciáveis do centro democrático em São Paulo, o PDT e centrais sindicais ligadas à esquerda. Principal partido de oposição, o PT ficou de fora, inspirado pelo mote original do protesto: “nem Lula, nem Bolsonaro” .
Os movimentos pretendiam evitar o uso das manifestações contra Bolsonaro como palanque político, mas presidenciáveis participaram dos atos e discursaram em carro de som na Avenida Paulista. A tônica dos discursos dos pré-candidatos foi a união de grupos diversos em torno do afastamento de Bolsonaro.
Frente democrática
O governador de São Paulo, João Doria, pré-candidato nas prévias tucanas, defendeu a criação de uma frente democrática que incluísse também o PT. “Todo começo tem dificuldades. Isto aqui é um começo”, afirmou Doria. Questionado se subiria no mesmo palanque que os petistas, o governador respondeu: “Não tenho dúvida disso. É uma evolução. Não é algo feito com ansiedade”.
Antes do tucano, o pré-candidato do PDT à Presidência, Ciro Gomes, também pregou a união de movimentos divergentes. “Nós somos diferentes, temos caminhadas diferentes, temos olhar sobre o futuro do Brasil diferentes”, disse. “Mas o que nos reúne é o que deve unir toda sociedade civicamente sadia, é a ameaça da morte da democracia e do poder da nação brasileira. Assumo qualquer risco e qualquer contradição para defender o povo brasileiro”, afirmou o pedetista.
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), apontada como presidenciável, afirmou que esquerda e direita “estarão no mesmo palanque”: “Temos aqui o centro e a direita se fazendo presentes em praça pública. Teremos a manifestação da esquerda no próximo mês. Não tenho dúvida que, em novembro, estaremos todos no mesmo palanque, sem nomes e sem extremismos”.
Em São Paulo, também participaram dos atos outros pré-candidatos para 2022: o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta (DEM)e o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE). Em Porto Alegre, as manifestações tiveram a presença do governador Eduardo Leite (PSDB), que disputa com Doria a indicação do partido à corrida presidencial.
A deputada estadual Isa Penna foi única representante do PSOL no protesto contra Bolsonaro. Ela disse que não se aproximou do MBL, mas se juntou à pauta contra o atual presidente. “Às vezes é preciso se unir a adversários para derrubar um inimigo em comum”, afirmou.
Lula
No Rio de Janeiro, com dois carros de som – um do Vem Pra Rua e outro do MBL –, a manifestação não encheu, mas conseguiu viver uma divisão. Enquanto o Vem Pra Rua se concentrou em martelar o bordão que rejeita tanto o atual presidente quanto Lula, o MBL “esqueceu” o petista, em uma tentativa de atrair a esquerda para a defesa do impeachment.
Poucas lideranças políticas compareceram ao ato. Entre elas, estavam o candidato a presidente em 2018 João Amoêdo (Novo) – que à tarde participou do ato em São Paulo. Questionado pelo sobre o embate entre os dois carros do ato, Amoêdo se colocou ao lado do MBL. “A pauta dos brasileiros não é eleição, terceira via, nada disso”, disse. “A gente tem que entender que qualquer construção de um Brasil melhor passa pela saída do Bolsonaro. Se a gente não tiver prioridade total nisso, vai ter ainda mais dificuldade nessa tarefa, que já não é fácil.”
Em Brasília, o protesto ocorreu na Esplanada dos Ministérios. O ato não teve um grande número de participantes, mas conseguiu reunir algumas centenas de pessoas próximo ao Congresso Nacional.
MBL, VPR e Livres não divulgaram estimativas nacionais de público. Nas redes sociais, parlamentares governistas e ministros ironizaram o baixo número de manifestantes que foram às ruas no primeiro ato em resposta aos eventos de 7 Setembro.