A família que mora na rua Recife, no bairro Sacadura Cabral, em Santo André, a qual na semana passada foi vítima de ofensas e agressões, que teriam partido de policiais militares da 2ª Companhia do 10° Batalhão, teve a casa atingida por disparos de arma de fogo na madrugada desta segunda-feira (30/8). O autor seria um homem de jaqueta preta e vermelha que passou de moto atirando. Ninguém se feriu; os disparos atingiram o portão e a fachada da casa.
O advogado, especialista em direitos humanos e presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Ariel de Castro Alves, que acompanha o caso desde sexta-feira (27/8), quando ocorreram as agressões, diz que esse novo fato foi uma clara tentativa de intimidação e que deve ser alvo de apuração. “Esse ataque à casa das vítimas, numa tentativa de intimidação é um fato gravíssimo e inédito em casos do tipo aqui em São Paulo, casos de grande repercussão como esse, uma verdadeira afronta contra o próprio comando da Polícia Militar, contra a Corregedoria e a Justiça Militar. Nós já comunicamos a Ouvidoria da Polícia para que acompanhe essa situação. A Polícia Civil está apurando a autoria destes ataques, destes tiros contra a residência das vítimas e esperamos respostas imediatas, para que essas vítimas sejam protegidas”, declarou.
Por causa do episódio de sexta-feira (27/8) dois sargentos e dois soldados estão presos no presídio Romão Gomes, na Capital, os outros três policiais presentes na ação estão afastados dos trabalhos nas ruas. Tudo começou por volta das 3 da manhã quando um rapaz estava em frente de casa junto a uma motocicleta. Os policiais suspeitaram dele e resolveram abordar, mas ele estava sem documentos. A confusão com o jovem e os familiares aconteceu quando a família saiu para ver o que ocorria e entregar os documentos do rapaz aos policiais, houve uma confusão generalizada, o jovem e familiares foram agredidos por socos e os policiais teriam também ofendido a família e invadido a residência. Um IPM (Inquérito Policial Militar) apura a atitude dos policiais, e um inquérito aberto na Polícia Civil também investiga o ocorrido.
O episódio lembra o ocorrido há 24 anos, em Diadema, o Caso da Favela Naval, onde 10 policiais militares do 24° Batalhão agrediram civis que passavam de madrugada pela favela, em uma destas ações, um tiro foi disparado e acabou atingindo o conferente Mário José Josino, que morreu. Nove policiais foram julgados, Otávio Lourenço Gambra, que ficou conhecido como Rambo, respondeu pela morte e foi condenado a 15 anos de prisão. Nove policiais foram expulsos da corporação.
Há 24 anos as imagens das agressões foram feitas por um cinegrafista amador. Desta vez também as imagens foram feitas pelos celulares das vítimas e de pessoas que presenciaram a situação. Para Alves muita coisa mudou neste intervalo de tempo entre os dois casos, mas uma coisa não mudou; a violência da PM. “Desde o caso da Favela Naval, ocorreram aprimoramentos, com a criação da Ouvidoria de Polícia e Fortalecimento da Corregedoria. O atual comando geral da PM tem mostrado ser contrário a essas condutas, inclusive estão implantando câmeras nos uniformes, visando coibir abusos e assassinatos cometidos por PMs, mas a tradição de violência infelizmente se mantém na PM paulista. Essa cultura de violência na PM, que nunca esteve tão forte como agora”, diz o presidente do Tortura Nunca Mais.
Ariel de Castro Alves considera que, se não fossem feitas as imagens, seria mais um caso de resistência e desacato. “Ficariam as denúncias das vítimas contra as afirmações dos PMs e as afirmações dos policiais são tratadas com presunção de verdade e eles ficariam impunes”, completa.