Considerando aspectos que a ciência ainda estuda; a duração da imunidade conferida pelas vacinas contra covid-19 e a capacidade de proteção contra futuras variantes, o professor José Paulo Guedes Pinto, da UFABC (Universidade Federal do ABC) considera que é prematura a reabertura dos comércios em toda a sua capacidade. O professor é membro do coletivo Ação Covid-19, que reúne 25 pesquisadores de vários países e que vai lançar esta semana um estudo com projeções sobre a pandemia. No pior cenário deste estudo, com vacinas incapazes de proteger a infecção por novas variantes e a perda da imunidade ao longo do tempo, o país pode viver uma nova onda, tão forte quanto às primeiras, entre abril e maio do próximo ano.
Em entrevista ao RDTv desta segunda-feira (16/08) o professor da UFABC elogia o posicionamento de seis, das sete prefeituras do ABC em não aceitar uma nova flexibilização do Plano São Paulo de combate a covid-19 o que liberaria todas as atividades para recebimento da totalidade do público e horário normal de funcionamento. Os seis municípios decidiram manter as normas da fase de transição, sendo que os estabelecimentos comerciais de Santo André, Diadema, Mauá Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra podem receber até 80% da sua capacidade, podendo atender até a meia-noite, e em São Bernardo até 60%, com funcionamento até as 23 horas. Apenas São Caetano vai seguir o Estado. “Tem novas variantes, que são mais infecciosas, podem ser mais mortais. É preciso ter cautela, que bom que a maioria das cidades do ABC não vai aderir ao Plano São Paulo, A gente saúda isso aí, nós do Ação Covid-19 e UFABC, recomendamos que, quem puder, fique em casa e para todos continuarem seguindo protocolos como uso de máscara, lavar sempre as mãos, evitar contato social, evitar aglomerações porque a maior parte da população não está vacinada ainda”, aponta o professor.
Guedes Pinto considera usou os números divulgados pelo RD, de que apenas pouco mais de ¼ da população tem a sua imunização completa. “Significa dizer que 75% da população ainda corre risco de pegar a doença e de ir a óbito. Mesmo que a morbidade tenha diminuído, a gente não pode esquecer que a covid pode deixar sequelas de longo prazo, no pulmão, ou neurológicas, fora que o nosso corpo é um grande incubador de novas variantes”.
O membro do coletivo Ação Covid-19 considera que o momento em que o país vive é difícil continuar com as medidas de restrição de circulação. “A gente está num momento muito difícil de segurar a população, o discurso oficial da grande mídia pode ser esse da liberdade, mas que bom que tem veículos como o Repórter Diário que estão alertando a população de que a pandemia não acabou e toda a cautela é pouca. Nós do coletivo avaliamos que essa flexibilização do Plano São Paulo é extremamente precipitada, boa parte da população não foi imunizada e mesmo que fosse imunizada deveria vir no clima de todo cuidado é pouco. Mas o que a gente está vendo é um plano de abertura total do comércio com a volta de atividades sociais, festas, jogos de futebol, não só em São Paulo, mas no Brasil todo, então a gente vê com maus olhos e o coletivo está alertando para isso. A gente entende que há pressão do capital para a abertura do comércio, achamos que é inevitável uma certa abertura, mas da forma como está sendo feita a gente acha que tem pouco cuidado”, recomenda o professor.
O estudo do coletivo Ação Covid-19 vai analisar as variáveis que pode influenciar o andamento da pandemia. “Esse estudo selecionou algumas cidades, entre elas São Paulo e São Caetano. A gente não sabe, por exemplo, quanto que dura a imunidade vacinal, quanto tempo ela confere de imunidade. Essa imunidade cai? Vamos ter que vacinar novamente? A situação é muito complexa e por isso esse nosso estudo, aponta para a possibilidade de novas ondas, provavelmente no ano que vem, entre abril e maio. Os municípios têm que saber qual a hora dessa nova onda e voltar com as medidas de restrição, de distanciamento social e seguir com o auxílio emergencial, que é fundamental para deixar o povo em casa”, alerta José Paulo Guedes Pinto.
A preocupação do professor se dá porque a variante Delta, a mais infecciosa no momento, já está presente no ABC. Segundo o levantamento na Grande São Paulo, 23,5% dos testes já mostram a presença dessa mutação do novo coronavírus. O professor também comentou sobre a notícia de demissões de trabalhadores da saúde em São Bernardo, denunciada pelo presidente do SindiSaúdeABC, Almir Rogério, o Mizito. “É inaceitável em plena pandemia demitir pessoal da saúde”, opinou. O sindicato pretende realizar um ato de protesto na quarta-feira (18/08).
Temor
Num cenário negativo, o professor da UFABC cita duas situações que podem fazer o plano do estado retroceder, uma é a redução da imunidade, para quem tomou a vacina primeiro, a outra é o surgimento de variantes cujas vacinas atuais não tenham efeito. “Se essas suas hipóteses forem verdadeiras podemos vir a ter novas ondas. Para evitar tem que monitorar a pandemia com testagem em massa. Se o governo federal não está fazendo, que as prefeituras façam. Se a imunização for para sempre e as vacinas protegerem contra todas as variantes, a pandemia vai acabar logo mais. O estudo vai ter essas variáveis”, disse o mestre.
José Paulo Guedes Pinto diz não ser possível prever, por exemplo, quando a população poderá abolir o uso de máscaras e destacou mais uma vez o lado positivo da atitude das prefeituras do ABC. “A gente não recomenda tirar, eu não sei quando, eu não consigo cravar. Não faltou esse tipo de previsão tipo Nostradamus durante a pandemia. O positivo é que seis cidades do ABC não vai aderir ao Plano São Paulo, isso significa que a maioria dos prefeitos está querendo cuidar da sua população. Logo São Caetano se enquadra também”, conclui.