As indústrias da região estão buscando, num esforço conjunto, levar à concessionária de energia, a Enel, as demandas do setor que sofre com interrupções de energia e oscilações no sistema. A situação se agravou com o aumento da tarifa, por conta da bandeira vermelha nas contas, que é resultado da estiagem na região Sudeste. Na segunda-feira (09/08) a diretoria do Ciesp de São Bernardo reuniu-se com representantes da Enel, que ficou de dar uma resposta às demandas das empresas da região em um mês.
Segundo o presidente do Ciesp de São Bernardo, Claudio Barberini Júnior, a situação tem se agravado por falta de investimentos da rede de distribuição. “O problema é o pouco investimento em infraestrutura, a demanda vai aumentando, a rede está no seu limite e o ritmo do investimento não acompanha. Já tivemos problemas no passado, no Batistini foi feita uma subestação e resolveu, no bairro Cooperativa tinha previsão de investimento, mas parou. No meu caso, na minha empresa, no fim da rua tem um tipo de chave, que sempre que tem queda de energia ela desarma, aí tem que vir uma equipe técnica só para ir lá e religar, porque não trocam logo e resolvem o problema?”, indaga o empresário.
Barberini diz que a cada queda de energia, as empresas acumulam prejuízos. “Se você tem uma injetora que trabalha com plástico quente, cada vez que a máquina para, você tem que limpar todo aquele material que está nela que fica perdido”, exemplifica o diretor do Ciesp que não espera grandes soluções para os problemas colocados na reunião com a Enel. “Eles foram muito receptivos, como em outras vezes, mas não vejo solução a curto prazo, por isso quem puder se precaver com geradores é bom pensar”, resume.
A diretoria do Ciesp de Diadema, também está se mobilizando. “Na semana que vem temos um encontro na sede, em que vamos colocar que precisamos de uma reunião com a Enel para pedir respostas. A oscilação da energia na cidade é muito grande, e não dá para estabelecermos o que isso já causou de prejuízo, mas a conta essa tem um peso muito grande no orçamento das empresas. Esse custo é maior ou menor de acordo com o tamanho da empresa e do ramo da atividade. Em Diadema temos aproximadamente 1,4 mil empresas e a maioria delas é de pequeno e médio porte. O peso da conta de energia varia de 5% a 25% do faturamento. Já temos tantos problemas com a falta de matérias-primas e esse é mais um”, analisa Anuar Dequech Júnior, diretor da regional de Diadema do Ciesp.
Segundo Dequech Júnior as empresas ainda não se deram conta de que o problema da energia pode se agravar com a crise hídrica. “As empresas ainda não de atinaram para isso. No passado já houve uma movimentação em torno dos geradores de energia, mas por enquanto isso ainda não voltou a se falar”, comenta.
O diretor do Ciesp de Santo André (que responde também por Mauá, Ribeirão Pires e Rio Grande da Serra), Norberto Perrella, foi mais enfático; ele fala em engrossar a negociação com a distribuidora de energia pelo não cumprimento dos contratos. “Essa questão da crise hídrica é mais uma questão da geradora de energia, a Enel é distribuidora, mas ela também não tem atendido as nossas reivindicações, nosso pedido é o fornecimento de energia com qualidade. Temos problemas mais sérios de deficiência de distribuição em Mauá e em bairros de Santo André. No passado tivemos algumas conversas e houve até uma evolução, mas agora parou e estamos precisando de melhorias”, diz Perrella.
O empresário de Santo André considera que a indústria precisa de um canal específico de atendimento com a Enel, um serviço que forneça informação precisa. “Se há um problema ligamos no 0800 e passam informações imprecisas, dizem que a energia vai voltar em 8 ou 10 horas, e como eu faço? Tenho um turno para entrar, eu dispenso o turno inteiro? Aí minutos depois eles têm uma posição diferente e muda tudo. A indústria tem um planejamento, não pode desligar e ligar as máquinas e tudo voltar a funcionar na hora”, reclama. O Ciesp de Santo André também espera um retorno da Enel, para o próximo mês, de demandas que já foram apresentadas pelas indústrias das quatro cidades. “Está chegando a hora de mudar a estratégia e engrossar a voz, irmos até a Agência Reguladora, no caso a Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), e cobrar providências pelo não cumprimento dos contratos”, anuncia Perrella que defende a união das diretorias dos Ciesps da região para cobrar providências.