Com a declaração da pandemia de coronavírus pela OMS (Organização Mundial da Saúde) em março de 2020, a médica imunologista Ester Sabino desempenhou papel fundamental no estudo do vírus, uma vez que foi responsável pelo sequenciamento do genoma da covid-19. Sabino também é docente e pesquisadora na USCS (Universidade Municipal de São Caetano) e, na última semana, passou a contribuir com os trabalhos de pesquisa na universidade.
A doutora já possuía projeto de sequenciamento antes do surgimento da covid-19. Em entrevista ao RDtv, Ester explica que o trabalho era efetuado desde a epidemia do Zika Vírus. “Era uma colaboração com a Universidade de Oxford e, em março de 2019, nós recebemos um recurso grande da Fapesp (Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo) para estabelecer um centro de sequenciamento, entendimento e de respostas à epidemias”, relata. Embora o foco fosse outro, quando o coronavírus surgiu, o centro permitiu que os pesquisadores estivessem prontos e organizados para sequenciar o novo agente.
Sabino destaca que há uma necessidade de muitas pessoas no trabalho de sequenciamento para que possam chegar a conclusões. O Brasil conta com mais de 25 mil sequências realizadas neste ano por diversos grupos. “É importante que o país inteiro consiga estabelecer e expandir a quantidade”, ressalta.
Ester acredita que muitas tecnologias são desenvolvidas para clientes internados mas há pouco foco na atenção primária. “A USCS leva muito em consideração a atenção primária e isso isso é uma coisa que me chamou muito a atenção”. Para a médica, que trabalhará como professora da universidade, há um amplo campo de pesquisa e desenvolvimento tecnológico para melhorar o dia a dia. “A atenção primária é a base de resposta de uma epidemia. Se ela é forte, é possível detectar muito mais rapidamente os casos e orientar as pessoas”, completa.
Questionada se, após a covid-19, o país apresentará condições de lidar com o surgimento de uma nova epidemia, Ester aponta que, em termos de consciência, houve uma melhora mas que ainda falta muito. “Acho que, ao menos, estão todos conscientes do quanto uma epidemia pode levar à perdas importantes. Agora sabemos que o investimento pode significar uma enorme melhoria e diminuição dessa perda que tivemos”, explica.
A pesquisadora enfatiza a necessidade de se desenvolver tecnologia. “Esse é o papel da universidade: desenvolver coisas e métodos novos, fortalecer a nossa capacidade, criar uma rede de inteligência dentro da própria secretaria, aproveitar melhor os dados que são lançados nos atendimentos”, exemplifica. “Tudo isso é muito importante e o que fortalece isso é ter universidades e novas empresas que pensem em desenvolver coisas para melhorar o sistema”, acrescenta.
Com o aumento de casos da variante Delta, Ester frisa a necessidade de agilizar a vacinação, para que a população esteja vacinada com as duas doses do imunizante o quanto antes. Além disso, Sabino também alerta para uma precipitação no retorno às atividades “Deveríamos ter cuidado, acho que estamos nos precipitando com as aberturas, que estão um pouco mais rápidas no momento da chegada dessa nova variante”, diz. Sobre o fim das restrições de horários no dia 17 de agosto, a médica fala da necessidade de se atentar aos números. “Já existe transmissão local da variante Delta no Estado de São Paulo. Ela realmente tem uma taxa de transmissão maior, não deveríamos facilitar esse começo a não ser que conseguíssemos trazer muito rapidamente toda a vacinação. Primeiro conseguir vacinar a maior parte da população com a segunda dose”, salienta.
“O mais provável é que precisemos de uma terceira dose e, também, é muito possível que surjam novas variantes. Precisamos pensar a longo prazo”, enfatiza. (Colaborou Gustavo Lima)