Até o ano passado, a estimativa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) é de que Brasil tem quase 212 milhões de habitantes, mais de 55% negros ou pardos, 28% são mulheres negras. Apesar da representatividade dos números, no dia a dia a luta por melhores condições segue esbarrando no machismo e no racismo estrutural. Para relembrar essa luta foi criado em 1992 o Dia da Mulher Negra, Latina e Caribenha, celebrado em 25 de julho. Para tratar deste tema o RDtv convidou nesta sexta-feira (23/7) quatro mulheres que relataram sobre os problemas e o que ainda temos para avançar na sociedade para combater a opressão de gênero e racial.
Selma Maria de Almeida é coordenadora da Ocupação Manoel Aleixo e do MLB (Movimento de Luta nos Bairros, Vilas e Favelas), em Mauá, e considera que os movimentos de luta foram um avanço na busca de uma maior consciência das mulheres negras.
“No MLB buscamos a nossa forma de luta que é a questão da moradia para expor também a questão da mulher negra. Estamos em um país em que mais da metade da população é negra e os índices que são pesquisados são mais cruéis com este grupo. Lutamos para denunciar, para expor essa situação de escravidão, de racismo, o racismo estrutural que enfrentamos”, explicou.
Apesar do aumento da luta, Cleone Santos, coordenadora de Políticas das Mulheres na Prefeitura de Diadema, considera que ainda é necessário avançar mais nos debates para que as conquistas realmente apareçam.
“Concordo com a companheira Selma, mas os avanços ainda são tão ínfimos. Lutamos a tantos anos, a luta que vem de tão longe e hoje ainda temos que assistir nossos filhos sendo vítimas de chacinas, com as mulheres negras ainda vendo como única ocupação para se encaixar os trabalhos precarizados, vendo isso como única forma de sobreviver. Por isso que temos que aumentar essa luta”, falou.
“Pensando no ponto de vista histórico, nós estamos vindo de uma história de escravidão e a partir do momento em que você traz a história da escravidão como nós trazemos da nossa ancestralidade tudo que advém daí acaba sendo um avanço, porque realmente começamos de um lugar com uma violência brutal, sem precedentes. Do ponto de vista das políticas públicas acho que tivemos avanços, principalmente dos governos democráticos e populares como do presidente Lula e presidenta Dilma, e isso trouxe uma consciência maior das políticas públicas, pois durante a pandemia as pessoas entenderam o que seria da nossa existência se não houvesse a existência do Sistema Único de Saúde”, exemplificou Vânia Viana, cientista do trabalho e pesquisadora convidada do Conjuscs/USCS.
No ponto de vista político, para Allana Mattos, coordenadora estadual do Movimento de Mulheres Olga Benário, o atual cenário brasileiro dificulta o entendimento sobre avanços, principalmente levando em conta o aumento da violência contra a mulher negra.
“Só nesse ano 65% dos feminicídios que ocorreram no país foram de corpos negros. É realmente muito difícil falar de avanços em um momento em que vemos um crescimento absurdo das taxas de insegurança alimentar e da fome, e saber que isso tem gênero e raça, e que afeta principalmente famílias chefiadas por mulheres negras”.