Para ampliar vacinação, governos usam prêmio, desconto em transporte e arraial

Para promover a vacinação contra a covid-19 em todos os grupos e garantir a volta para a segunda dose, governos têm apostado em prêmios, descontos de transporte, “corujões” e até arraial da vacina. Entre os Estados que adotaram estratégias diferenciadas estão Maranhão, Rio Grande do Sul e Paraíba, além de cidades como Maceió e Campo Grande. Segundo o Ministério da Saúde, cerca de 3,8 milhões de brasileiros estão com a segunda aplicação atrasada.

O governo maranhense oferece até R$ 10 mil para quem tomar a segunda dose. Ao todo, serão sorteados 700 prêmios de R$ 1 mil, 200 de R$ 5 mil e 100 prêmios de R$ 10 mil. O governador Flávio Dino (PSB) disse ao Estadão que o governo deve investir cerca de R$ 3 milhões nessa ação. Segundo ele, os efeitos já são sentidos desde que essa e outra ação, os arraiais de vacinação (mutirões com decoração e música juninos), foram iniciadas. “Desde que foram lançadas, a curva de vacinação cresceu nitidamente”, afirmou.

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Josenir de Jesus, de 65 anos, foi um dos que ganharam o prêmio máximo. “Emoção em dose dupla. Ao mesmo tempo em que a gente se imuniza contra o vírus, recebe a boa notícia de um dinheiro que chega em boa hora para quitar as dívidas”, contou o morador de Urbano dos Santos, a cerca de 270 km de São Luís. O Maranhão também se destacou na campanha de vacinação com o caso de Alcântara, que anunciou ter imunizado 100% dos adultos.

Já o governo gaúcho criou a “corrida do bem”, com um prêmio em dinheiro para prefeituras – R$ 1,25 milhão em duas parcelas nos dias 20 de julho e 20 de agosto. A divisão da verba seguirá critérios populacionais, de modo que cidades menores, com menos de 10 mil moradores, ganham até R$ 50 mil. Nas maiores, a gratificação pode chegar a R$ 150 mil. A gestão Eduardo Leite (PSDB) sugere que os valores sejam aplicados na atenção primária.

Mas a Famurs, entidade que representa os municípios, não gostou da ideia. Segundo o presidente da federação, Emanuel Hassen de Jesus (Maneco), “o problema da vacinação no Rio Grande do Sul e no Brasil como um todo é a falta de vacinas e não eventual incapacidade dos municípios de vacinar”.

Diretora do Departamento de Ações em Saúde do Estado, Ana Costa vê “equívoco” de compreensão. “Talvez até porque as pessoas não estão acostumadas que no serviço público se trabalhe premiação por méritos.” O governo reconhece a dificuldade de vacinar alguns grupos, como aqueles com comorbidades, e diz tomar outras providências, como enviar listas aos municípios e mobilizar associações comunitárias.

Na Paraíba, a “competição do bem” vai dar bônus aos profissionais de saúde. Cada equipe das cidades que atingirem a meta vai receber R$ 3 mil do Estado. Serão contemplados 20 municípios por mês. “Estamos com expectativa boa de aumentar a imunização, principalmente em áreas mais distantes na zona rural”, diz Fabiana Ferreira, que coordena a Atenção Básica de Monteiro, a 360 km de João Pessoa. A previsão é de atingir todos os adultos até outubro. “Além da distância, temos a questão da quantidade de vacinas, que chegam a cada 15 dias.”

Transporte

Em Campo Grande, parceria entre a prefeitura e a Uber garante deslocamento até o posto de saúde sem custo, desde que o valor não passe de R$ 25. Ao todo, a parceria prevê R$ 100 mil em descontos de viagem, mas a Uber não informou quantas já foram feitas desde que o benefício entrou em vigor, em 1.º de junho. A empresa também não informou quantas pessoas usaram o desconto até o momento.

“Eu acho que faltou divulgação. Eu e muitas pessoas que conheço não sabiam desse benefício”, disse a empresária Fabiana Siqueira de Resende, que ainda comentou ser um serviço extremamente importante para facilitar o acesso à vacinação. Aos 44 anos, ela tomou a única dose – Janssen – no último sábado.

Segundo a empresa de aplicativo de transporte, em todo o Brasil, são previstas 370 mil viagens com desconto para esse fim. Governos como o da Paraíba e de Maceió também fecharam acordos de códigos promocionais, além de parcerias com a Central Única das Favelas .

Em outros casos, vacinação noturna é a aposta. Em Maceió, o horário estendido, das 9 às 21 horas, voltou a ser praticado no dia 18, em quatro pontos de imunização. Em João Pessoa, mais de 20 mil pessoas receberam a primeira dose contra a covid-19 no “corujão” que durou 24 horas e terminou na manhã de sábado. Bertioga, no litoral paulista, retomou o “corujão” no ginásio local de esportes. A ação dura até quarta-feira e ocorre das 17 às 21 horas.

Diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações Renato Kfouri diz que cada região tem particularidades e, por isso, estratégias customizadas são bem-vindas. Outros países, como Estados Unidos e Israel, também promoveram brindes e sorteios. “O que faz alguém ser vacinado no interior do Maranhão não é o mesmo que motiva no Jardins, em São Paulo, no Leblon, no Rio, ou em Porto Alegre”, diz ele.

Em alguns casos, porém, há ressalvas. O epidemiologista da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) Alcides Miranda discorda da medida gaúcha. “A impressão que passa muitas vezes para o senso comum, ao fazer esse jogo de recompensar quem vacinar mais, é de que a vacina depende dos municípios e não da coordenação estadual”, critica.

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