Crise econômica e desemprego em alta são dois fatores que levam a redução de beneficiários dos planos de saúde privada e a procura maior pelo serviço público. Mas a pandemia da covid-19 criou um cenário atípico, com a alta no número de pessoas que resolveram ter seu convênio médico. Especialista ouvido pelo RD aponta que a falta de exames e consultas na rede SUS (Sistema Único de Saúde) fez com a procura pela rede privada aumentasse.
Segundo os dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), desde de julho do ano passado houve um aumento do número de beneficiários dos planos de assistência médica. Após quedas que ocorreram em maio e junho de 2020, houve uma curva ascendente, saindo dos 46,7 milhões para 47,6 milhões em janeiro deste ano.
“A saúde em geral oscila conforme o emprego no setor privado, principalmente aquele com carteira assinada. Porém, a pandemia acabou criando uma curva atípica, mesmo com o número de empregos formais em queda. A pandemia virou uma variável atípica neste momento”, comentou o professor da área de Gestão e Negócios da Universidade São Judas, Miguel Huertas Neto.
Para Huertas Neto, um dos principais pontos para o aumento na procura da rede privada é a dedicação quase que exclusiva do setor público para o combate ao novo coronavírus, o que acabou tirando o acesso a exames e consultas. “Por coincidência a minha esposa trabalha em uma UBS (Unidade Básica de Saúde) e ela fala que, realmente, não estão fazendo exames e consultas, então as pessoas resolveram procurar a saúde privada exatamente para ter esse acesso”, explica.
Outro ponto que chama a atenção é que a tendência de alta acontece nos planos coletivos, trabalhadores que acrescentam dependentes ao seu plano. De julho para cá os planos empresariais cresceram de 31,5 milhões de pessoas para 32,2 milhões em janeiro.
O plano individual também apresentou aumento, porém, com maior oscilação. Em dezembro de 2020, o número de beneficiários individuais era de 9,043 milhões e em janeiro deste ano caiu para 9,036 milhões.
Ainda segundo a ANS, no Estado de São Paulo em janeiro de 2020 eram 17,3 milhões de beneficiários e no primeiro mês de 2021 o número chegou a 17,3 milhões. O mesmo é visto nos planos odontológicos com o aumento de 9,2 milhões para 9,9 milhões no mesmo período.
Aliás Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo são os únicos estados onde pelo menos 30% da população conta com auxílio privado para assistência à saúde. O levantamento da ANS foi feito em um período que foi suspensa qualquer tipo de alta nos preços dos planos de saúde, fato que foi retomado em 2021.