A vacinação contra a covid-19 para os profissionais da educação tem sido priorizada como forma de garantir a segurança da categoria com o retorno do ensino presencial. No entanto, enquanto algumas cidades avançam com a aplicação das doses, alguns profissionais reclamam do não recebimento do imunizante. É o caso de Maria Duciléia Lopes de Araújo, professora da rede pública de Santo André.
Em entrevista ao RD, Maria explica que estava afastada durante o último final de semana, data em que os profissionais foram agendados para o recebimento da primeira dose. A professora já retornaria ao trabalho presencial nesta segunda-feira (7/6), já que sua licença médica chegava ao fim no domingo. Entretanto, conta que foi impedida de receber a vacina, apesar de já ter feito o cadastro e até recebeu o protocolo. “Fui comunicada que não poderia receber a primeira dose do imunizante, pois o departamento havia avisado que todos os funcionários de licença médica não poderiam se imunizar neste momento”, conta.
Maria explica que, após ser avisada, entrou em contato com a Prefeitura para questionar a situação. Direcionada para a GAPE (Gerência de Administração de Pessoal da Educação), conta que uma funcionária lhe informou que por se tratar de “um caso excepcional”, a professora estaria autorizada para receber o imunizante. Porém, após conferir com a coordenadora da escola onde trabalha, descobriu que seu cadastro havia sido cancelado devido à licença médica. “Fiquei extremamente triste e me coloco no lugar das professoras da rede particular que, sem imunizante até o momento, retornaram muito antes. Das professoras do Estado e das professoras de creches conveniadas com a Prefeitura, que ficaram de fora”, lamenta.
Além de ter retornado, sem vacina, nesta segunda-feira, a professora conta que uma funcionária que esteve na escola nos últimos dias testou positivo para a doença. “Eu não tive contato mas as pessoas que estão lá, e que tiveram contato com ela, estão inseguras e tensas. Eu que chego sem receber o imunizante também. É um momento muito tenso”, explica.
Outro caso
Outra educadora da rede pública de Santo André, que optou por não se identificar, passa pela mesma situação. Afastada por questões de saúde, mas ainda sem ter retornado ao ambiente escolar, a professora que trabalha em uma creche municipal da cidade ressalta que sua maior indignação se deu após uma publicação feita pelo prefeito [Paulo Serra] nas redes sociais. “O post dizia que todos os profissionais seriam imunizados neste final de semana, o que não é verdade”, conta. Maria Duciléia também se surpreendeu com o post, foi quando teve a ideia de gravar um vídeo, onde relata a situação dos profissionais que estiveram ou estão afastados. “Os pais dos meus alunos devem achar que fui imunizada, o que não aconteceu. O pessoal não sabe que há uma parcela de professores que não foi imunizada”, explica.
Após a publicação do vídeo, a pedagoga pode ter uma maior dimensão do problema. “Após perceber que há outras pessoas nessa mesma situação, para mim não é mais interessante que somente eu consiga essa vacinação. Acho que todos de licença têm o direito, até porque uma hora irão voltar. O ideal é imunizar todo mundo agora, acho benéfico até para a rede como um todo, é uma questão de segurança, uma medida de contenção do vírus”, completa.
Imunização na região
A equipe do RD procurou as prefeituras do ABC para obter informações sobre a atual situação da imunização destes profissionais. Diadema conta com 3.030 profissionais da educação acima de 47 anos aptos a tomarem a vacina contra a covid-19. Destes, 2.520 tomaram a primeira dose e 1.532 a segunda dose. O município ainda não deu início à vacinação dos profissionais abaixo de 47 anos.
Na primeira etapa da vacinação dos profissionais das redes municipal, estadual e privada, Mauá imunizou 2.623 com a primeira dose e 2.403 com a segunda. Nesta quarta-feira (9/6), o município passa a vacinar os profissionais de 18 a 46 anos em cinco UBSs (unidades básicas de saúde) e no Ginásio Poliesportivo Celso Daniel, que funcionará como drive-thru. O público-alvo é de 3.500 pessoas.
Em Ribeirão Pires, todos os profissionais da educação do ensino regular das redes municipal, estadual e particular, entre 18 e 46 anos, foram vacinados. No total, 1.387 trabalhadores foram imunizados com a primeira dose da AstraZeneca/Fiocruz. A segunda dose será aplicada em agosto. Outros 1.100 profissionais com 47 anos ou mais já haviam sido vacinados no mês passado com a Coronavac. As aulas presenciais serão retomadas no dia 28 de julho.
São Bernardo informa que 11.877 doses foram aplicadas em profissionais com 47 anos ou mais, destas, 5775 são referentes à primeira dose e 5.267 à segunda. Nesta segunda-feira foi aberto o agendamento para a aplicação da primeira dose em profissionais de 45 e 46 anos.
São Caetano antecipou a vacinação dos profissionais da educação regular da rede pública (municipal e estadual) com doses remanescentes. Entre a primeira e segunda estratégia (na última semana), 2.915 foram vacinados. Destes, 1.670 (vacinados no grupo 47 ou mais) já tomaram as duas doses.
Rio Grande da Serra e Santo André não retornaram até o fechamento desta reportagem. (Colaborou Gustavo Lima)