Em entrevista na série especial RD Momento Econômico do RDtv, o co-fundador da Aceleradora de PME e da Criatégia Design, Marcos Batista, disse nesta quarta-feira (19/05) que falta para as iniciativas como Hubs de Inovação e Fablabs o entendimento das questões regionais para uma melhor governança destas ações. Batista é especialista em startups e mentor da Batalha das Startups da Record News.
Batista é do ABC, foi aluno da ETE (Escola Técnica) Lauro Gomes e tem escritório na região. Hoje ele atua nas suas empresas, a Aceleradora de PME e a Criatégia. E participa de eventos onde ajuda os empresários a entenderem quais são as dificuldades e as barreiras que impedem os pequenos de crescer.
Marcos Batista começou falando da mudança do consumo desde a pandemia da covid-19. “O consumidor foi impactado pela transformação digital, por todo esse mundo de uma sociedade pós-digital e essas mudanças causam impacto na maneira como a gente consome e como fazemos as coisas. A covid-19 antecipou alguns anos mostrando para nós que o consumidor já está adaptado ao que a gente chama de multicanal, então o consumidor hoje está mais consciente, está dono da razão, mais conectado e mais exigente. Os nossos empresários precisam se relacionar com os novos consumidores; falar menos dos produtos e serviços e começar a falar mais das transformações que a gente promove na vida das pessoas. A maioria das organizações e profissionais que enfraqueceram ou morreram nos últimos anos não falharam em fazer as coisas certas, mas sobretudo fazendo a mesma coisa certa durante muito tempo. É difícil sair de uma zona de conforto, mas é preciso mudar a lógica de fazer certo para fazer melhor, esse é o grande trabalho”, diz o empresário.
Batista defende profundas mudanças nesse raciocínio sobre o valor das empresas e dos produtos. “Hoje a gente produz valores, estamos ligados a uma causa e todo produtor, de qualquer que seja o negócio, precisa produzir valores, mesmo para quem não compram dele. Se alguém diz que algo está caro quer dizer que não vê o valor do produto”, sustenta. E não tem um momento de parar para pensar; esse pensamento de mudança tem que acontecer o tempo todo. “Ficamos 8 mil anos ligados ao setor agrícola, depois veio a revolução industrial e ficamos 300 anos, e desde meados de 1990 estamos com o pensamento de serviços, ou seja, vem cada vez mais diminuindo esse tempo de mudança de mentalidade. Quantos anos vamos levar até a próxima mudança? A aprendizagem tem que ser contínua. Mas não é simples renunciar a ferramentas e crenças antigas. Eu que tenho duas organizações, que já estão conceituadas diante da nova economia, mas tem hora que dá um nó na cabeça. Tem que ter uma rede de networking. Eu trabalho a minha rede tenho parceiros, eu mudei organograma da minha empresa”, relata.
De acordo com Marcos Batista, virou moda criarem-se hubs de inovação, espaços de aceleração e fablabs, pelos poderes públicos, mas ele diz que sem planejamento e integração essas iniciativas já nascem fadadas ao fracasso. “Caiu na graça do poder público fomentar essas coisas, mas vejo a governança com muita falha, porque vejo pessoas querendo copiar modelos, como do Vale do Silício, querendo copiar modelos com culturas totalmente diferentes. Querem montar esses espaços, mas vejo muita coisa no início e depois falta governança. As startups estão copiando e já não têm tanta inovação assim. Tem que entender a cultura local, o seu DNA, como retém seus talentos, como dar mais visibilidade para começar a ter a valorização da sua marca, da sua cidade. Só depois ter essas estratégias de hubs de inovação”, analisa.
Um exemplo de análise da conjuntura local é o ABC conhecido pela indústria metalúrgica e as montadoras, mas muitas delas já deixaram as cidades. Marcos Batista faz uma análise específica da região. “O ABC tem que rever a sua votação industrial. A região é uma potência, mas não consegue se colocar em lugar nenhum. Que marca tem no ABC? Era lugar de operários e metalúrgicas, muitas foram embora, mas ainda tem uma importância em renda e economia. A gente não atrai nenhuma visibilidade para a nossa região, daqui saíram pessoas que ganharam prêmios e esses talentos nunca foram trabalhados nas cidades. Fica difícil falar porque não vejo os movimentos nessa direção e os que tem são fragmentados, não tem um movimento para chegar a onde a gente quer. Temos administrações de quatro em quatro anos e se muda por caprichos. Nunca se constrói uma identidade”, finaliza Batista.