Sob uma chuva de críticas da comunidade do entorno por conta do cheiro forte e da fuligem oleosa que tem afetado o entorno do Polo Petroquímico de Capuava, dirigentes do Cofip (Comitê de Fomento Industrial do Polo Petroquímico do ABC) participaram do RDTv desta quinta-feira (13/05). O gerente executivo, Francisco Ruiz, e o coordenador executivo de Saúde, Segurança e Meio Ambiente, Carlos Barbeiro, citaram um levantamento feito nas empresas associadas, mas o estudo ainda não apontou a origem do problema. Ruiz trabalha no Polo há 48 anos e diz não se recordar de crise parecida.
O problema, que afeta cerca de 50 mil moradores do entorno do Polo, nas cidades de Mauá, São Paulo e Santo André, chegou a ser alvo de uma audiência pública em abril, na Câmara dos Vereadores da Capital. O Cofip não compareceu ao encontro. As câmaras de Santo André e de Mauá também se envolveram no debate. Segundo Ruiz, o Cofip, que reúne 16 empresas do Polo, não participou porque entendeu que não teria oportunidade de expor toda a apuração em torno do tema. “Não fomos porque achamos que era uma audiência pública, tinha muita gente, e achamos que não teríamos a oportunidade de expor como estamos fazendo aqui e fizemos também no Comugesan (Conselho Municipal de Gestão e Saneamento Ambiental de Santo André), onde dialogamos com os moradores e o Ministério Público, e foi muito interessante. Estamos dispostos a fazer trabalhos conjuntos, não vemos uma saída única para isso. Estivemos também com o presidente do Consórcio Intermunicipal, o prefeito Paulo Serra (PSDB), que instituiu no mesmo dia um grupo de trabalho que seguramente vai envolver os entes públicos, sindicatos sociedade civil o Cofip e as indústrias”, afirma.
O Cofip foi fundado em 2014 e tem 16 empresas. São empresas químicas, petroquímicas e envasadora de GLP (Gás Liquefeito de Petróleo – conhecido como gás de cozinha). Segundo Ruiz, o Cofip ABC faz parte de uma cadeia de valor que compõe cerca de 1,2 mil empresas médias e pequenas, para as quais o Polo fornece produtos básicos. Tais empresas representam 10% do PIB nacional e empregam cerca de 40 mil pessoas, 10 mil delas no Polo.
“Estou no Polo desde 1973, sou um decano, sempre trabalhei no chão de fábrica, e não me lembro de uma situação como essa e o que a gente deseja é que consiga resolver isso, porque tanto os moradores como as empresas sofrem com isso, porque é muito duro ser acusado e não ter uma resposta clara”, diz o gerente executivo do Cofip.
Carlos Barbeiro falou sobre as providências tomadas pelo Comitê. Disse que começaram em outubro de 2020, quando um dos nossos conselheiros comunitários consultivos nos informou da fuligem preta e oleosa que aparecia na casa dos moradores dos bairros Sônia e Sílvia Maria. “No mesmo dia que ficamos sabendo deste evento, fizemos uma vistoria completa nas empresas, fizemos uma inspeção bem aprofundada em todos os processos, reatores, chaminés, filtros, foi uma varredura completa. Instalamos um comitê de crise, formado por técnicos e diretores das empresas para fazer um acompanhamento diário. Nenhuma empresa detectou qualquer coisa que pudesse ser a fonte geradora daquela fuligem preta oleosa. Inspeções também pelos órgãos públicos como a Cetesb também fiscalizaram. Estamos muito preocupados, muito sensibilizados. Estamos trabalhando junto com a Cetesb, mas até o momento não conseguimos identificar. Isso nos intriga muito também”, comentou.
O material foi coletado e foi analisado em laboratórios de empresas do Polo. Segundo Barbeiro até onde foi possível analisar não foi identificada a origem do material. “Detectaram que essa fuligem não tem as mesmas características dos produtos utilizados nas empresas, agora uma análise mais profunda do produto químico eles não têm essa capacidade, porque esses laboratórios não foram montados para isso”, detalha. A Cetesb também faz a análise.
Para se comunicar com a população, os representantes do Cofip disseram que, além do Conselho Comunitário Consultivo, formado por 22 moradores do entorno, o comitê tem página no Facebook e o email contato@cofipabc.com.br . “As empresas do Polo são rigorosamente fiscalizadas por suas emissões, isso não quer dizer que o Cofip não está sensibilizado ou preocupado com a fuligem nas casas das pessoas, mas tem que definir de onde vem e o que é isso. A qualidade do ar de Capuava e Mauá, medida pela Cetesb nos mostra, ano após ano, a redução da poluição e melhoria da qualidade, segundo instrumentos modernos das estações de medição”, completa Barbeiro.