Pesquisa realizada pelo Instituto Travessia, encomendada pelo jornal Valor, mostra que 78% dos brasileiros considera que a consequência econômica da pandemia é devastadora. A consciência dos brasileiros sobre os danos econômicos causados pela pandemia do novo coronavírus ficou muito mais evidente nas duas últimas pesquisas entre fevereiro e abril. O instituto ouviu mil pessoas entre os dias 15 e 16 de abril em todo território nacional.
O analista e sócio do Instituto Travessia, Renato Dorgan, participou do RDTv desta quinta-feira (06/05) e falou sobre a pesquisa e o quanto a pandemia afetou a economia e a percepção dos brasileiros sobre o tema. “As pessoas tinham expectativa de que no final do ano passado a pandemia ia acabar aí veio uma nova onda muito mais forte, mais mortes, e isso afetou demais principalmente as pessoas de baixa e média renda”, comentou. Para o analista, além da perda dos empregos e a redução do salário, ao mesmo tempo o preço dos alimentos aumentou muito no período. “A carne chegou a preços de frutos do mar o arroz dobrou de preço”, comenta o especialista.
O histórico da pesquisa do Instituto Travessia mostra que a percepção de que a situação é devastadora aumentou significativamente entre fevereiro e abril. Em março de 2020 os entrevistados que consideravam essa resposta correspondiam a 54%, um mês depois esse número subiu dez pontos percentuais e em julho já chegava a 69%. Passados oito meses, e com o agravamento da pandemia, e a ânsia pelas vacinas, o índice de quem considerava os danos à economia devastadores chegou a 72% em fevereiro e em abril já era 78%. “O que nos impressiona é a explosão entre março e abril, ligada ao aumento de casos de covid-19, com quase quatro mil mortes por dia. Essa superonda, o comércio fechado dá uma perspectiva de caos. E tem um plus ainda; o auxílio emergencial acabou em dezembro e em fevereiro as pessoas tiveram uma percepção pior”, comenta Dorgan.
Outro aspecto da pesquisa é que 82% dos entrevistados, em abril deste ano, consideraram que sua renda familiar foi prejudicada na pandemia e 17% consideraram que não foi. Segundo o analista e sócio do instituto os que avaliam não terem suas finanças impactadas são aqueles das classes B1 e A, que ganham mais. “Até quem continuou ganhando a mesma coisa, foi afetado, porque as coisas aumentaram muito”, comenta. A pesquisa também apontou que 56% dos entrevistados disseram que seus empregos ou de algum de seus familiares foram prejudicados pela pandemia, índice dois pontos percentuais acima do registrado em fevereiro deste ano.
O instituto também perguntou aos entrevistados sobre suas preocupações. Ao responderem a pergunta: “O que mais te preocupa em relação ao futuro?”, a resposta mais frequente foi a demora na solução da covid-19, apontada por 25%, em seguida vem o desemprego, com 24%, violência foi citada por 20% e a perda de aprendizado com a paralisação das escolas ficou com 13%.
Ainda de acordo com o levantamento, 47% dos entrevistados disseram que a situação econômica do país só deve melhorar em 2022 e 35% disseram que vai demorar muito. O ano que vem é ano de eleição e as questões econômicas, ainda relacionadas aos efeitos da pandemia devem pautar a próxima campanha política para presidente, governadores, deputados estaduais, federais e senadores, na opinião de Dorgan. “A questão econômica vai ser essencial na eleição presidencial de 2022. Com desempregados, empreendedores quebrados, uma inflação de alimentos difícil de controlar e um achatamento de classes, essas serão as grandes discussões, além da questão assistencial em si. O auxílio emergencial mudaria totalmente a disputa; o Lula entra diretamente nessa pauta, quando o consumidor olha para traz e lembra que tinha acesso ao consumo. Para a economia reaquecer a Reforma Tributária é essencial, a continuação na diminuição do estado, que devolva mais para o cidadão serviços de qualidade. Se o centro se unir em torno de um candidato que consiga mostrar para as massas que vai conseguir aumentar a renda, educação e saúde com qualidade, talvez pode até ser que o Bolsonaro vá para o segundo turno”, conclui Renato Dorgan.