O Governo do Estado emitiu dois decretos na semana passada passando para a Metra a responsabilidade da concessão do BRT (Bus Rapid Transit) do ABC, além de ampliar o contrato em relação ao Corredor ABD e a área 5 da EMTU (Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos). Ao RDtv nesta quarta-feira (24/3) o arquiteto e gestor do curso de Arquitetura e Urbanismo da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Ênio Moro Júnior apontou problemas sobre o assunto, entre eles o monopólio da empresa e a escolha por um modal que não acompanha o tamanho da demanda da região.
“Acho que tivemos uma decisão equivocada pelo seguinte, o antigo (projeto do) monotrilho (linha 18-Bronze) ou até todas as pesquisas anteriores mostravam a necessidade de uma demanda diária de mais de 300 mil pessoas nesta linha, ou seja, é uma linha com muita demanda e já começaria com muito sucesso de alguma maneira”, explicou o especialista.
O extinto projeto da linha 18-Bronze foi feito em 2013 e revisado em 2014 e teria uma capacidade diária parecida com a linha 15-prata entre Vila Prudente e São Mateus (313 mil pessoas). Com o BRT a capacidade inicial seria de 150 mil passageiros por dia. “Esse BRT já começaria com os ônibus lotados”, aponta Moro.
A proposta divulgada no pacote de mobilidade feito pelo governador João Doria (PSDB) em 2019 em substituição ao monotrilho aponta que serão 20 estações passando pela Capital (Sacomã), São Caetano, Santo André e São Bernardo (na região do Paço Municipal), assim passando por áreas com menor extensão de vias e outras em que já há o modal do trólebus (Corredor ABD), algo que também preocupa o arquiteto, pois exigirá mais obras para conseguir criar vias segregadas para o novo modal.
Outra preocupação de Ênio é que o decreto emitido pelo Estado também dá para a Metra o monopólio de todos os modais intermunicipais do ABC, ou seja, além do BRT e do trólebus, a empresa passará a comandar todas as linhas intermunicipais das sete cidades com a Capital.
“Preocupa, pois uma série de decisões técnicas, de soluções, elas ficaram concentradas na mão de uma única empresa e isso não é uma garantia de qualidade”, disse.
Até o momento não houve a apresentação formal para o projeto, algo que aconteceria ainda em 2019, depois postergado para 2020, mas que devido à pandemia ainda não foi elencado oficialmente aos prefeitos por meio do Consórcio Intermunicipal Grande ABC.
Além do BRT, o Governo do Estado também prometeu a instalação da linha 20-Rosa, do Metrô, que vai ligar a Capital até Santo André, passando por São Bernardo. A proposta foi ampliada em relação ao projeto original e já teve a licitação para os primeiros estudos, mas ainda não tem uma data específica para a licitação.