Os professores da rede municipal de Ribeirão Pires cobram da prefeitura a recuperação salarial referente aos dois últimos anos. Segundo os educadores ouvidos pelo RD, o último reajuste dado à categoria foi em 2019 e outros benefícios, como o cartão alimentação também não tiveram correção. Os trabalhadores reclamam que estão trabalhando em casa, em carga horária maior, sem qualquer auxílio da administração quanto aos gastos extras, como internet, computadores e energia elétrica.
“Nosso último reajuste foi em janeiro de 2019. Passou 2020, e a gente compreende a situação grave da pandemia, mas o dinheiro da Educação não se mistura com o da Saúde, porque não tivemos o reajuste se nós continuamos trabalhando e até mais horas de forma on-line”, reclamou uma professora com mais de 20 anos na rede municipal e que pediu para que seu nome não fosse revelado por medo de represálias.
“A prefeitura economizou com o nosso trabalho remoto, cortaram o nosso vale-transporte, alegando que a gente não está indo trabalhar presencialmente, mas esse dinheiro ajudaria muito a cobrir pelo menos parte do que investimos do nosso dinheiro para trabalhar em casa”, disse a servidora municipal, que tem no seu salário a sua única renda para o sustento da casa onde vive com a filha que ficou desempregada em meio à pandemia. “As coisas aumentaram muito durante a pandemia, a gente vai no mercado e cada vez é uma surpresa, tudo está muito mais caro, porém o nosso salário encolheu”, lamenta.
Outra professora da rede, que também pediu para que seu nome não fosse colocado na reportagem, conta que não encontrou apoio nas entidades representativas da categoria, nem no Sindserv de Ribeirão Pires nem no Sineduc (Sindicato dos Professores das Escolas Públicas Municipais de Ribeirão Pires). “Estamos trabalhando, cumprindo horário de trabalho, mas não querem nos ouvir. Essa situação é muito ruim”, disse a educadora cuja renda é a principal da casa, já que o marido é autônomo e tem encontrado dificuldades de trabalho na pandemia.
Uma professora que atua na rede a quatro anos disse temer pela aprovação da PEC (Proposta de Emenda Constitucional) que pode congelar os salários dos professores por até 15 anos. “Nosso medo é esse já estamos com uma defasagem grande, e se isso acontecer o medo é que o salário fique congelado já defasado. As minhas perdas nestes dois anos já são de R$ 4 mil”, calcula a professora. “A gente quer receber pelo menos o que a lei do magistério manda, o problema é que ninguém nos dá um parecer, nem um sindicato, nem outro, menos ainda a prefeitura. Nossa situação é bem difícil, tenho três filhos. Sorte que meu esposo está trabalhando em home office também, mas a empresa dele deu toda infraestrutura”, comentou.
Os dois sindicatos foram procurados pela reportagem, mas não retornaram aos pedidos de entrevista feitos por e-mail, telefone e aplicativo de mensagens.
Segundo a prefeitura a rede municipal tem 845 professores, sendo 67 contratados temporariamente e 778 estatutários. As aulas presenciais estão suspensas na rede municipal até abril.
Em nota, a administração informa que foi impedida de reajustar os salários na pandemia e que tem intenção de dialogar com a categoria sobre a reposição das perdas. “Está em vigor, desde maio do ano passado, Lei Complementar N° 173/2020, do Governo Federal, que proíbe União, estados e municípios afetados pela calamidade pública decorrente da pandemia do coronavírus a ‘conceder, a qualquer título, vantagem, aumento, reajuste ou adequação de remuneração a membros do Poder ou de órgão, servidores e empregados públicos e militares…’. A determinação é válida até 31 de dezembro de 2021. Apesar das restrições legais e de ordem financeira – o município herdou neste ano cerca de R$ 240 milhões em dívidas das gestões anteriores e trabalha para manter o equilíbrio financeiro diante do cenário da pandemia – a administração municipal está avaliando possíveis alternativas para atender não apenas os professores, mas todo o funcionalismo público municipal. Isso inclui as perdas salariais e a não equiparação do salário dos professores ao Piso Nacional ocorridas na última gestão”, diz o informe.