O lançamento do Mapeamento ABC População Trans, iniciativa do Consórcio Intermunicipal Grande ABC e da Sociedade Civil, acabou acarretando uma série de críticas por parte do presidente da ONG ABCD’S, Marcelo Gil. Em entrevista ao RDtv nesta quarta-feira (17/3), o ativista relatou que tem suspeita de que os motivos para a pesquisa não sejam os adequados e que este tipo de levantamento deveria ser feito pelos municípios.
Segundo a entidade regional, o levantamento foi idealizado após reunião entre o poder público, a sociedade civil e os grupos sociais no dia 29 de janeiro, “com o objetivo de viabilizar os pleitos, o mapeamento vai reunir indicadores que servirão de base para o desenvolvimento de políticas públicas específicas. As pessoas transgêneras, transexuais e travestis poderão contribuir com a iniciativa, de forma voluntária, fornecendo as informações por meio de preenchimento de formulário digital. A ação tem como foco principal edificar caminhos para tirar a invisibilidade a população LGBTQIA+”, explicou em nota.
Para Marcelo, existe uma suspeita que o levantamento tenha como real objetivo relatar a situação para o setor imobiliário. Além disso, considera que esse tipo de situação deveria ser realizado individualmente pelos municípios, antes da regionalização.
“Nós não somos contra o mapeamento da população trans. É preciso fazer esse mapeamento, mas que se faça o mapeamento responsável, porque o mapeamento responsável já deveria ter sido feito pelas prefeituras há muito tempo”, explicou.
O ativista considera que a falta de coordenadorias LGTBQIA+ nos governos municipais, somada a falta de lideranças desta comunidade em cargos de direção, coordenação ou secretarias voltadas ao assunto acabam atrapalhando na criação e ações afirmativas nas mais diversas áreas. Gil exemplifica a falta de ações para este grupo com a falta de política de auxílio para a população trans que está realizando a transição hormonal.
A reportagem indagou as sete prefeituras sobre as ações para essa comunidade, apenas duas responderam. Diadema relata que o secretário de Segurança Alimentar, Geraldo Antônio da Silva, faz parte da comunidade LGBTQIA+, inclusive como militante. Ainda afirmam que existem propostas para este grupo para garantir a diversidade no ambiente de trabalho e o combate à discriminação.
São Bernardo também relata que mantém políticas públicas e a articulação de esforços por direitos, e a execução de ações e projetos específicos, além de conversas dentro da Secretaria de Cidadania e Pessoa com Deficiência para articular novas políticas. Nenhum dos dois municípios soube informar o número de integrantes em cargos de coordenação ou direção, algo considerado como imprescindível por Marcelo Gil, principalmente pelo lugar de fala e o entendimento completo das necessidades desta comunidade.
Pandemia
Outro ponto questionado é a pouca ajuda do setor público em relação aos problemas sociais em decorrência da população LGBTQIA+. “Muitas trasvestis, transexuais, por exemplo, realizam show em boates. DJs estão sem trabalho, a cultura foi muito prejudicada. Estamos há um ano buscando ajuda como cestas básicas, mas fora a Coordenadoria Estadual, não temos ajuda municipal. Contamos com o auxílio de entidades e algumas outras pessoas, mas nada das prefeituras”, relatou Marcelo Gil.
A vulnerabilidade desta população durante a pandemia do novo coronavírus foi tema de um estudo denominado Diagnóstico LGBT+i, do coletivo Vote LGBT, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). O levantamento feito com 10 mil pessoas de todas as regiões do país, ainda no ano passado, demonstrava que 42,72% apontavam impacto na saúde mental. 54% relatavam a necessidade de apoio psicológico e 17,62% estavam impactados financeiramente pela falta de trabalho. O levantamento foi feito entre 28 de abril e 15 de maio de 2020, ainda no início da primeira onda.