ABC - domingo , 6 de outubro de 2024

Mostra Internacional de Teatro de SP estreia plataforma digital

A última edição da MITsp – Mostra Internacional de Teatro de São Paulo foi atravessada e interrompida pela pandemia. Em 2020, quando a programação começou, a covid-19 ainda parecia estar restrita a países estrangeiros. No seu desenrolar, porém, a situação no Brasil se deteriorou. A ponto de, na reta final, alguns espetáculos ter de ser remanejados e até cancelados. Para este ano, quando o festival completaria sua oitava edição, seus organizadores chegaram a acreditar na possibilidade de realizar uma versão híbrida – metade presencial, metade na internet. E ainda sonham com a possibilidade de fazê-la no segundo semestre. Mas, enquanto os planos permanecem em suspenso, surge a MIT+.

Com lançamento previsto para quinta (11/3) a plataforma digital vem responder à impossibilidade de se fazer o evento nos moldes tradicionais. Ainda que não se trate, adverte seu curador, de uma edição virtual da mostra. “Desde abril vivemos mergulhados em situações digitais e há um certo cansaço disso. Temos a convicção de que a experiência presencial do teatro é insubstituível. Mas essa é a oportunidade de tornar público o grande acervo que acumulamos ao longo desses sete anos”, conta Antonio Araújo, coordenador artístico da MITsp.

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Além de ser uma chance de abrir os “baús”, resgatando registros de peças de anos anteriores do evento, também foram selecionados alguns títulos inéditos que dialogam com o presente, caso de Réquiem, de Romeo Castellucci, e Encontro, da companhia inglesa Complicité, de Simon Mc Burney. “Pensamos em propostas que se relacionassem com a doença – algo que estamos vivendo agora -, mas também com a cura, porque existe luz no fim do túnel”, aponta Araújo.

Em ambos os casos, privilegiou-se ainda uma relação pregressa de seus criadores com o festival paulista. Saudado como um dos maiores nomes do teatro contemporâneo, o italiano Romeo Castellucci e sua companhia Sociètas Raffaello Sanzio abriram a primeira MITsp, em 2014, com a apresentação de Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus.

Perturbadora, a montagem trazia um filho às voltas com a doença terminal do pai, sob o olhar impassível de uma imagem de Cristo. Agora, o diretor retorna com uma releitura da missa fúnebre de Mozart, porém faz da composição uma celebração ao ciclo da vida. A versão a ser exibida na plataforma da MIT foi gravada em 2019, durante o festival francês de Aix-en-Provence. Haverá ainda a possibilidade de assistir a uma entrevista com o encenador, gravada especialmente para o público brasileiro.

Nunca foi possível trazer uma obra do grupo Complicité para a MITsp, mas seu diretor, Simon Mc Burney, participou de um workshop durante uma edição anterior. Foi nessa ocasião que surgiu a oportunidade de ele conhecer a Amazônia – que é justamente o objeto de sua investigação em Encontro. A encenação baseia-se em um episódio dos anos 1960, quando um fotógrafo da National Geographic se perdeu na selva, na região do vale do Javari. A experiência proposta ao espectador é a de uma imersão sonora na floresta por meio do uso de fones de ouvido.

A vinculação com a história da mostra também norteou a escolha de outra das propostas inéditas: Go Go Othello, da sul-africana Ntando Cele, que esteve na MITsp em 2017. Mais recente criação da artista, a peça já foi concebida no contexto atual de isolamento e questiona a ausência de protagonistas negros na história do teatro. Com forte carga de performance, Go Go Othello busca elementos de cabaré e da estética das go go dancers. Pela plataforma, será possível conhecer mais da trajetória de Ntando Cele: ela deve participar de um workshop, uma residência artística e uma mesa de debates. Também será possível assistir a Black Off, espetáculo que a intérprete trouxe ao evento com sucesso há quatro anos.

Questões como identidade, preconceito e descolonização – que atravessam o trabalho de Cele – norteiam outras obras do acervo da MITsp que poderão ser vistas online. “A ideia de trazer a público a grande coleção que foi formada ao longo dos anos era antiga, mas ganhou forma e mais força com a situação de isolamento que estamos vivendo”, conta Nathália Machiavelli, que coordena o projeto da MIT+. Apesar das aquisições inéditas, ela considera que, na plataforma, o protagonismo recai sobre o acervo. Em 2021, será possível ver – ou rever – 25 vídeos, entre palestras, atividades formativas e montagens como Sal – reflexão sobre o tráfico negreiro, apresentada pela britânica Selina Thompson em 2018 – e Legítima Defesa, encenada em 2017. As inscrições, que são gratuitas, para reservar ingressos ou participar das atividades podem ser feitas diretamente no site mitmais.org.

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