Na pior década para a economia do País, que teve crescimento médio de 0,26% entre 2011 e 2020, os economistas ouvidos pelo RDTv sobre o tema apontaram que são urgentes políticas públicas para socorro aos pequenos empreendedores, como crédito a custo baixo, para que estes mantenham as portas abertas e os empregos. Participaram da entrevista o delegado regional do Corecon (Conselho Regional de Economia) e gestor da Escola de Gestão e Negócios da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), José Carlos Garé e o professor de Economia e diretor Executivo do Instituto de Fomento da Fundação Santo André, Antônio Fernando Gomes Alves.
Para os dois especialistas, o resultado da pior década para a economia brasileira se deve ao baixo investimento em educação, em pesquisa tecnológica, enquanto que em outros países o movimento foi inverso. “Se teve redução do PIB médio, ou nós produzimos menos riqueza ou em quantidade insuficiente, significa que perdemos geração de riqueza. 4,1% de queda é muita coisa, isso impacta em geração de emprego e por consequência geração de renda, que impacta na capacidade de consumo e na qualidade de vida das pessoas, não apenas quanto a compras, mas quanto a moradia e saúde. Isso é muito ruim porque a condição de redução de crescimento econômico impacta no desenvolvimento econômico, ninguém pode se desenvolver se não tem riqueza para distribuir”, analisa Garé. “Além disso também deixamos de ser a 9ª economia mundial para ser a 12ª, sendo que já ocupamos a quarta posição no ranking da economia, hoje perdemos para outras economias o que é um péssimo sinal”, continua o professor da USCS.
Antonio Fernando Gomes Alves chama atenção também para a redução da arrecadação tributária e, com a pandemia e maior necessidade de investimento do poder público, a conta não vai fechar e o custo do investimento, por exemplo no pagamento de auxílio emergencial, vai ter que sair dos tributos. “Esse crescimento pífio trouxe uma consequência muito maior para empresas e todo o comércio, que resulta numa arrecadação menor e, obviamente, um gasto maior do governo. Estamos em processo de uma volta do auxílio emergencial, isso impacta nas contas públicas e obviamente elas não fecham; alguém vai ter que pagar e o governo vai terceirizar a essa conta”, analisa.
Para Alves a pandemia não somente acelerou a retração econômica, mas cristalizou o retardamento da recuperação. “Então não tem uma recuperação de médio prazo mesmo tendo investimento por parte do governo”.
Garé aponta que a queda do PIB brasileiro só não foi maior por causa do agronegócio, o que mostra que a produção industrial é a mais afetada. “Já temos um retrocesso de produção industrial, sem dúvida que essa é a parte mais afetada e a pandemia potencializou e deverá potencializar mais ainda pelas incertezas que nós temos. Estamos perdendo espaço ao longo do tempo. Outros países estão fazendo o que deixamos de fazer”, comenta.
O professor da Fundação Santo André afirma que a crise do comércio exterior do país se deve ao atraso tecnológico. “Se nós não acompanharmos esse nível tecnológico, de fazer uma tecnologia de ponta, que sustente e dê valor agregado a produtos, não teremos mercado para consumo”, disse Alves, que foi acompanhado por Garé no mesmo raciocínio. “O nosso cenário não é muito promissor até por uma questão educacional, nós não temos uma capacidade de pesquisa e desenvolvimento, o que é pífio no Brasil e isso está se distanciando cada vez mais da necessidade do que deveria ser. Se não investe em pesquisa e desenvolvimento, não cria tecnologia e nada de novo, vamos continuar dependendo do que o mudo cria e nós vamos absorver”.
Perspectivas
Antonio Fernandes Alves diz que, no momento de pandemia, o país também tem que pensar em vacinar os trabalhadores, que estão na atividade presencial, assim que os grupos de risco forem vacinados. Ele aponta que os prefeitos da região devem investir rapidamente em geração de emprego e formação de mão de obra, se quiserem que as cidades saiam da crise econômica agravada pela pandemia. “O ABC precisa de medidas de geração de emprego e renda para ontem. Claro que o auxílio é essencial para suprir a população em suas necessidades básicas, mas falo de retomar os centros de apoio ao trabalhador que possibilitem um empreendedorismo social fomentado pelo poder público. Se não tivermos, no nível municipal, alternativas de transferência de renda mediante a tributação não tem alternativa que dê sucesso sozinha. É preciso pensar em contenção de arrecadação nesse momento e de transferência de recursos do poder público para os atores e agentes econômicos para que se recuperem rapidamente”, conclui.
O delegado regional do conselho de economia aponta o que já vem sido destacado por outros especialistas que é o crédito facilitado e barato principalmente para os pequenos empreendedores. “Mas que esse crédito chegue efetivamente na ponta, porque já vimos a dificuldade que as pequenas empresas, que são grandes geradoras de empregos, tiveram. Então é preciso crédito para que as pessoas tenham, num primeiro momento, capital de giro para não fechar seus negócios e manter a empregabilidade para nós passarmos por essa fase”, resume Garé.