Estimado na queda do PIB (Produto Interno Bruto) nacional, a soma de todos os bens e serviços produzidos na região encolheu R$ 5,6 bilhões em 2020, mas a perda do ABC pode ser ainda maior se considerada a grande participação da indústria na economia regional, setor que perdeu muito durante a pandemia da covid-19. Essa é a conclusão do estudo assinado pelos professores Jefferson José da Conceição e Gisele Yamauchi, que integra a 16ª Carta do Observatório de Políticas Públicas, Empreendedorismo e Conjuntura da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) lançada nesta quinta-feira (04/03).
De acordo com o estudo, projetando na economia regional a queda de 4,4% do PIB brasileiro, o produto interno do ABC caiu do patamar de R$ 128,3 bilhões, em 2019, para R$ 122,7 bilhões no ano passado. Mas os pesquisadores alertam no estudo que o prejuízo no ano da pandemia pode ser maior por conta das perdas na indústria e nas exportações, que têm grande presença na região. “Um tombo significativo, isso sem contar com a indústria e o comércio exterior que já vinham sofrendo desde 2015 com o processo acentuado de queda do PIB”, aponta a nota técnica.
Para o professor Jefferson José da Conceição, que coordena o observatório econômico da USCS, o ano de 2020 parece que não acabou, seus efeitos perduram em 2021 e com o aumento do número de casos e a alta ocupação dos leitos hospitalares que forçam medidas mais restritivas de circulação de pessoas, a situação econômica tende a piorar ainda mais. “Estamos vendo o agravamento de 2020 continuando este ano e isso nos traz um cenário nada otimista. O consumo não tende a subir por causa do fechamento do comércio e também porque as famílias, que estão com renda menor ou sem renda, preferem se concentrar naquilo que é essencial. Mesmo quem pode prefere guardar, isso faz com que os com bens de maior valor fiquem para depois, por exemplo, se ia trocar de carro, espera mais um pouco. As pessoas estão concentrando os gastos na alimentação e medicamentos”, analisa o economista, que destaca a importância do auxílio emergencial para as famílias mais vulneráveis e que traz uma recuperação mais rápida da economia.
O estudo cita como exemplos as quedas de 35% na produção de carros, de 25% da produção de caminhões e de 26% no faturamento das indústrias de autopeças. As exportações do ABC reduziram-se de US$ 3,8 bilhões em 2019 para US$ 2,6 bi (queda de 31%) em 2020. As importações também caíram bastante, de R$ 3,8 bi para R$ 2,2 bi. Como grande reflexo da pandemia vem também o desemprego que, segundo o Caged (Cadastro Geral de Emprego e Desemprego) do Governo Federal, apontou para uma queda de 11.979 postos de trabalho apenas nos onze meses compreendidos entre janeiro e novembro de 2020.
Exemplos de retração não faltam no setor automobilístico. Depois da saída da Ford de São Bernardo em 2019, que culminou nos últimos meses na decisão da montadora de fechar todas as fábricas no país, empresas como a fabricante de faróis e lanternas Arteb e a de peças para reposição Nakata, anunciaram demissões esse ano. Se nada for feito de forma articulada e de forma regional, estima o professor da USCS, a região não vai se recuperar, mesmo após superada a pandemia da covid-19. “Já estamos vivendo uma economia de guerra, são tempos de novas relações de consumo, de trabalho em que as empresas têm que se reinventar, mas não vejo investimentos em infraestrutura visando a recuperação, nem regional, nem nacional. O governo federal deveria criar um plano nacional com medidas de grande impacto que orientem as famílias e os empresários sobre como agir”, comenta Jefferson da Conceição.
Para o economista a região pode ser protagonista não só do próprio futuro no pós-covid como também apontar a direção para o país. “É hora do ABC dar um salto, mostrar do que é capaz e ajudar a encontrar saídas, para isso precisamos adotar uma série de medidas, como substituição de impostos, investimentos na saúde, voltar a nos conectar com as cadeias de petróleo, gás e defesa, aumentar a articulação com as universidades, formalizar acordos para manter os trabalhadores mais em casa com o governo ajudando, criar agendas de inovação, mas tudo isso exige lideranças, mas não vejo o Consórcio Intermunicipal usando todo o seu potencial, ele já deveria ter um plano de recuperação, pois é um espaço de planejamento”, conclui o professor da USCS.