Moradores dizem que foram esquecidos no meio da obra do Cassaquera

Moradores de um núcleo habitacional no bairro Homero Thon, à margem do Córrego Cassaquera, em Santo André, dizem que foram deixados no local onde vão passar as obras de canalização e construção de complexo viário. A maior parte dos moradores, cerca de 2/3, foi removida do local, mas o restante não foi encaminhada para outra moradia e hoje as obras estão na porta de 75 famílias, que correm o risco das casas ruírem por conta da intensa movimentação de máquinas.

Um dos líderes do grupo de moradores, Edson Lima da Silva, de 43 anos, relata que a obra começou a ser planejada há cerca de seis anos e que os moradores foram transferidos para conjuntos habitacionais e conforme saiam as casas foram demolidas. Ocorre que nos entremeios da comunidade algumas casas ficaram sozinhas, isoladas umas das outras entre escombros das habitações vizinhas, mato, entulho e do movimento intenso de máquinas há poucos metros de suas paredes ameaçando a segurança.  “Entre 2013 e 2014 foi aprovada uma verba através do PAC2 (Segunda fase do Programa de Aceleração do Crescimento) do governo federal de R$ 39,8 milhões para urbanização e produção habitacional para os núcleos Pedro Américo/Homero Thon. A prefeitura removeu a maior parte dos moradores e estes ficaram aqui esperando a construção de novas unidades habitacionais que seriam feitas no próprio terreno, mas não fizeram, e também não sabem explicar porque não removeram essas famílias”, explica.

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Silva disse ainda que há uma semana a prefeitura tem mandado equipes nas casas tentando convencer as famílias a deixarem os imóveis e aceitarem o auxílio-aluguel. “Agora estão querendo tirar um direito adquirido das pessoas que estão há seis anos aguardando para pagarem um auxílio aluguel que não paga o suficiente para garantir moradia digna. As famílias não têm recursos para completar o valor”, diz o representante dos moradores.

Morador com os três filhos no que sobrou da frente de sua casa. (Foto: Rede Social)

Roseneide Maria Souza, que mora com a filha em uma das casas que ficaram à beira da obra teme pela sua segurança e diz que não tem como arcar com a diferença de um aluguel em outro lugar. “Nossas casas não têm estrutura para aguentar todo esse movimento de máquinas é o dia todo. As paredes tremem. Agora querem nos pagar um aluguel social de R$ 460. Onde vou morar com isso? Em Santo André não dá. Não temos como completar esse valor. E os nossos apartamentos que foram prometidos?”, questiona a moradora.

Edson Silva, conta que, em reuniões com a prefeitura no início do projeto, foi dito que o dinheiro daria para remover todas as famílias. “Ficamos seis anos aguardando e agora dizem que não tem dinheiro”, diz o morador que cita ainda que há pelo menos duas famílias com risco iminente de desabamento de suas casas e são famílias em vulnerabilidade social. Uma delas é de um rapaz que vive com os três filhos, ficou viúvo por causa de um acidente, outra é de uma moça que mora com a mãe que é acamada, ela precisa andar 30 metros para acessar a rua”, comenta.

Em nota, a prefeitura de Santo André sustentou que, para remover as famílias é necessária a construção de unidades habitacionais que dependem de verbas federais. “A urbanização do Núcleo Pedro Américo/Homero Thon é objeto de contrato vinculado ao PAC. Todavia, como parte integrante da urbanização está prevista a produção habitacional através do programa federal Minha Casa Minha Vida (MCMV) para atendimento das famílias que não puderam ser consolidadas na área. Neste sentido, parte das famílias foram reassentadas em conjuntos habitacionais fora da área de intervenção dos núcleos, sendo que as famílias remanescentes foram vinculadas à futura produção habitacional (através do Minha Casa Minha Vida) que acontecerá no momento em que o Governo Federal descontingenciar os recursos destinados à faixa 1 do programa”, diz o informe.

PAC

A nota, da prefeitura de Santo André aponta ainda que já foi feito o processo licitatório (chamamento, aprovação da Caixa Econômica Federal e no Governo Estadual pelo programa Casa Paulista) e que espera a liberação dos recursos financeiros pelo Governo Federal. A prefeitura também informou que acompanha a situação dos moradores. “Caso seja observada situação que apresente risco às famílias ocupantes, os procedimentos necessários para desocupação das edificações comprometidas serão prontamente adotados. A Defesa Civil de Santo André esclarece que mantém um trabalho constante na região e nas vistorias já realizadas não foram constatados danos estruturais nas casas. De todo modo, o departamento responsável vai levantar os registros e nesta terça-feira (02/03) fará uma nova vistoria nestes locais apontados pela reportagem”.

O Semasa (Serviço Municipal de Saneamento Ambiental de Santo André) informa que já realizou vistorias técnicas em cerca de 200 residências para verificar e monitorar possíveis impactos causados pelas obras de canalização do córrego Cassaquera. O Semasa mantém o Plantão Social onde os munícipes tiverem reclamações ou demandas referentes aos serviços, eles podem entrar em contato pelo número 9.3750-3181.

Obra

Segundo a prefeitura de Santo André cerca de 40% das intervenções do complexo Cassaquera estão concluídas. Atualmente, os serviços acontecem em seis frentes de trabalho: construção da nova base do canal, colocação de aduelas (estruturas de concreto armado), concretagem de vigas de coroamento, construção de guias e sarjetas, implantação de dispositivos de drenagem e compatibilização das marginais do canal. A previsão é de que as obras, que recebem financiamento de R$ 40 milhões pela CAF – Banco de Desenvolvimento da América latina, terminem no fim deste ano.

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