Depois do anúncio, nesta segunda-feira (22/02), de São Bernardo suspender as aulas e determinar toque de recolher entre as 22h e 5h para frear o aumento de casos da covid-19, outras cidades devem seguir a linha de medidas mais restritivas. O Consórcio Intermunicipal tem reunião extraordinária marcada para esta quarta-feira (24/02) para tratar do assunto. Em nota, a assessoria da entidade regional informa apenas que o assunto a ser tratado será a decisão de “novas medidas de combate à covid-19”.
As prefeituras informam que defendem que as estratégias contra a pandemia devem ser planejadas de forma regional. “Santo André entende que a adoção de medidas mais restritivas deve ser tomada regionalmente, de forma unificada entre os municípios do ABC. Nesta terça-feira (23/02) encerra-se a semana epidemiológica da cidade. Com os números e dados em mãos, poderemos avaliar o cenário e também a adoção de possíveis medidas. O assunto será debatido nesta quarta-feira (24/02), quando os prefeitos da região farão reunião virtual via Consórcio ABC para definir eventual aumento nas medidas de restrição. A avaliação sobre suspensão de aulas também será feita neste encontro”, informou a prefeitura de Santo André. Na cidade a ocupação de leitos de enfermaria na rede pública e particular é de 53,8% e nas UTIs a ocupação é de 75,6%.
A situação mais grave do ABC é a de Mauá, onde a ocupação de leitos de enfermaria está em 100%, já as UTIs estão com lotação de 70%. Em nota, a Prefeitura aguarda que as medidas mais restritivas sejam impostas pelo Estado, que também prometeu anunciar mudanças na quarta-feira (24/02). “O encaminhamento de pacientes a hospitais de fora do município é regulado pelo governo do Estado em que há apoio dos serviços desta esfera para atendimento de pacientes covid. Estamos acompanhando a situação da covid-19 na cidade e conversando com as prefeituras da região sobre o aumento do número de casos. Além disso, aguardamos as medidas de restrição à mobilidade do governo do estado, por meio do Plano São Paulo, previstas para serem anunciadas nesta quarta-feira, além de reunião do Consórcio. Mauá também está viabilizando a locação de leitos de UTI e não descarta a instalação de um hospital de campanha na cidade”.
Da mesma forma o prefeito de Diadema, José de Filippi Júnior (PT), diz que espera que o Estado endureça as medidas de prevenção ao novo coronavírus. “Nós vamos ver o que o Estado definir, debater com os demais prefeitos do Consórcio e seguir uma linha enquanto região. Uma medida tomada sozinha tem menos eficácia do que uma medida coletiva”, sustentou o prefeito. Na cidade os leitos sob gestão municipal a ocupação é de 37,5% para UTI e 78,7% para enfermaria.
Em janeiro deste ano, a Cross (Central de Regulação e Oferta de Serviços de Saúde), órgão estadual, direcionou o encaminhamento de 21 moradores de Diadema com suspeita ou confirmação de covid-19 para hospitais em São Bernardo. Em fevereiro, foram 29 pacientes. Apesar de Diadema e Mauá terem sido citadas nominalmente pelo prefeito de São Bernardo, Orlando Morando (PSDB) como cidades que mandam pacientes para atendimento na cidade, não são apenas elas que mandam doentes. Ribeirão Pires enviou três pacientes para São Bernardo somente este ano. Em Ribeirão, o retorno às aulas já estava definido somente para abril. Morando disse que não vai mais receber pacientes de Diadema e Mauá, que já ocupam 60 leitos na cidade.
Estado
A Secretaria Estadual de Saúde minimizou a preocupação do prefeito Orlando Morando quanto a ocupação de leitos e diz que há oferta no estado e que os pacientes não vão ficar sem atendimento. “A região da Grande São Paulo possui uma rede robusta e apta a atender casos de covid-19, com taxa de ocupação de UTI de 68,8%. Portanto, há condições de atender os pacientes. No decorrer da pandemia, Estado e municípios seguem atuando juntos para expandir a rede. Em dezembro, a Secretaria repassou mais de R$ 8 milhões para fortalecer a assistência no Hospital de Urgência de São Bernardo”, informou a secretaria em nota.
O estado tem mais de 100 leitos na região divididos entre os hospitais Mário Covas, em Santo André, e Serraria, em Diadema. “Em janeiro, foram ativados 35 leitos para covid-19 no Hospital Estadual Mário Covas, sendo 10 de UTI. Esta unidade e o Hospital Estadual de Diadema juntos contam com mais de 100 leitos destinados exclusivamente à assistência aos casos da doença, sendo 45 de UTI. Ambos são referência para casos graves de coronavírus e têm ocupação variável nos setores no decorrer do dia em virtude de fatores como altas, óbitos ou transferências, por exemplo. A secretaria mantém também ainda um esquema especial de gestão de leitos hospitalares, para dar prioridade à internação de pacientes com quadros respiratórios agudos e graves, com suporte da Cross para as transferências.
Bloqueios
Em entrevista ao RDTv, na manhã desta terça-feira (23/02), Morando disse que os bloqueios só deixarão passar quem estiver se movimentando por uma questão de urgência. A movimentação gerada pelas medidas mais restritivas da prefeitura de São Bernardo, farão os prefeitos se reunirem em assembleia extraordinária no consórcio nesta quarta-feira (24/02).
“Nós vamos utilizar uma força extra da nossa GCM (Guarda Civil Municipal) e vou ter também a Polícia Civil e a Polícia Militar para que tenhamos uma ronda intensificada, blitzes, bloqueios exatamente para termos esse controle e fazer com que o toque de recolher seja cumprido na sua íntegra. Vamos autuar os comerciantes que não respeitarem e também as pessoas físicas e também vamos discutir a possibilidade de autuar o veículo daqueles que estiverem se deslocando em horário inadequado”. O estabelecimento que descumprir as medidas e for flagrado funcionando após as 22h será fechado e terá que pagar R$ 9 mil de multa.
O prefeito informou vai tomar medidas para evitar a circulação de pessoas nas ruas, como bloqueios serão realizados em parceria com a Polícia Militar. “São medidas difíceis que tivemos que adotar, porém em proteção a nossa população. Disparou o número de internações no último final de semana e nós atingimos 87% de ocupação dos leitos públicos e 91% dos privados, então tomamos essas medidas para que o problema não se agrave mais, para que não haja estrangulamento no atendimento”
As pessoas perguntam o porquê das escolas. Elas trazem uma movimentação muito grande, só de alunos da rede municipal e estadual chegamos a 150 mil alunos e por volta de mais de 20 mil funcionários entre educadores e as empresas terceirizadas. Isso passa de 200 mil pessoas se contarmos com profissionais e alunos da rede privada. Ao suspender as aulas presenciais, nós estimulamos que essas pessoas não se desloquem, que permaneçam em isolamento social”, explicou Morando, em entrevista ao RD. De acordo com a decisão da prefeitura, as aulas na rede privada, voltam a ser suspensas a partir do dia 1° e não volta na rede pública.
Uma nova avaliação será realizada no dia 15. “Se tivermos uma queda de ocupação de UTIs temos toda a disposição de retornar as aulas presenciais e liberar a rede privada”, completa o tucano sobre as aulas.
Quanto ao toque de recolher, ele foi adotado dentro da mesma orientação de evitar a circulação de pessoas. “A ideia é evitar o deslocamento de pessoas, evita as chamadas festas residenciais que tem se mostrado uma vilã nesse momento difícil. Anunciamos com antecedência para que o setor privado possa se organizar. Empresas que trabalham em três turnos, o trabalhador sai antes das 22h. O que a gente não quer é as pessoas se deslocando aumentando o risco de serem infectadas e aumentando a ocupação de leitos. O toque de recolher é para que não tenhamos que chegar a lockdown, que prejudica demais a economia e é isso que não queremos”, justificou.
Variante
O prefeito Orlando Morando disse suspeitar de que a nova variante da covid-19, mais transmissível, já estaria entre os doentes na cidade. “Notamos que a velocidade de transmissão está mais rápida e a intensidade de pacientes que demandam hospitais numa idade menor aumentou muito, daí a nossa suspeita de que a nova variante possa estar em circulação, mas não temos confirmação ainda”.
A preocupação do prefeito é que haverá muita dificuldade em contratar leitos particulares, já que a rede privada está com 91% da capacidade ocupada. “Nossa preocupação é não ter para onde mandar, a não se que eu possa, com autorização do governo do estado, criar mais leitos dentro do próprio hospital de urgência, o que não é uma medida fácil. Também precisamos que o governo federal volte a financiar leitos de UTI que foram suspensos no ano passado”.
Para evitar o colapso da rede do município, Morando disse que não vai mais receber pacientes de outras cidades, como Diadema e Mauá, que têm cerca de 60 pacientes com covid-19 internados em São Bernardo. “Já conversei com os dois prefeitos e informei que a partir de hoje não vamos mais ter como receber pacientes de outras cidades.