O professor de Economia e Coordenador do Observatório Econômico na Universidade Metodista de São Paulo, Sandro Maskio, vincula a recuperação da economia à vacinação contra a covid-19. Segundo sua análise o decréscimo da economia do país que deve ficar entre 3% e 3,5% neste ano, foi ruim, mas não tão sério, já que 2015, um ano sem pandemia também teve resultado fechamento negativo em 3%. Na ótica do especialista, não haverá um 2021 melhor sem a vacinação de toda população.
“2020 deve fechar com queda entre 3 e 3,5%, o que até nos surpreendeu num ano de pandemia, o que prova um certo grau de resiliência de alguns setores da economia, que mesmo com uma pandemia dessa magnitude ainda manteve uma queda não tão expressiva como a gente imaginava no começo. Lembrando que a economia fechou com queda de 3,5% em 2015; de 3% em 2016 e não tinha nenhuma restrição. Esse ano retraindo o mesmo que 2015, mostra que, apesar de tudo, a atividade econômica mostrou certa resiliência”, avalia o professor.
Maskio, que participou do RDTv desta quinta-feira (10/12), citou os dados da última semana publicados pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) que apontaram para 14 milhões de desempregados no país e um percentual de 30,4% de mão de obra subutilizada. “Isso mostra a fraqueza da economia, enquanto o governo arrecada menos e o número de famílias em situação de vulnerabilidade aumenta. Um impacto social negativo que não se conserta a curtíssimo prazo, exige tempo, exige mercado de trabalho e política pública”, analisa.
Para o professor da Metodista, apesar da carência de dados econômicos específicos do ABC, o que se nota é que a região segue as demais quanto às dificuldades econômicas, mas com um agravante; é ainda muito dependente da indústria, que vem sofrendo com problemas na produção e cortando pessoal. “Os dados do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados) mostram que, embora nos últimos meses o ABC mostrou recuperação significativa – só em outubro gerou 6 mil e poucos postos de trabalho -, ao longo do ano perdemos pouco mais de 16 mil postos de trabalho, isso é um volume muito grande, principalmente no setor industrial. Não é uma situação confortável e ainda mais agravada no ABC quanto ao comportamento do mercado de trabalho. O ABC tem uma dependência forte do setor industrial, que tem suas vantagens, mas é um setor que tem sofrido muito nos últimos anos”.
Recuperação
Apesar de buscar manter o otimismo, o economista Sandro Maskio não vislumbra uma recuperação rápida da economia como alguns setores apontam, mesmo após a pandemia. “Eu não acredito nessa recuperação em “V”. Eu destacaria dois fatores mais fortes, primeiro a falta de confiança do setor empreendedor, sem falar que o Governo Federal tem se especializado em colecionar confrontos. Outro fator que me leva a não acreditar na recuperação da economia é algo que o mundo inteiro está sentindo de abastecimento dos insumos de produção. A retração provocada pela pandemia, trouxe um desajuste da organização desse sistema produtivo. Há vários setores com muita dificuldade de operar, o setor automobilístico talvez seja um dos principais com a dificuldade de insumos de produção, isso tem impactado até o mercado de carros usados. Para alguns modelos de carros novos há fila de espera de seis meses e isso tem aquecido o mercado de carros usados. Então não comungo dessa expectativa e recuperação em V por esses dois fatores; a falta de confiança do setor empreendedor e a dificuldade para obter insumos de produção”.
O coordenador do Observatório Econômico da Metodista, apesar de não apostar em uma recuperação rápida, acredita que 2021 será melhor. “Será um ano de muita incerteza, até porque não se sabe ainda a extensão da pandemia. É muito difícil ter uma perspectiva que está muito atrelada a questão da vacina, da imunização que deve demorar alguns meses. Se eu fosse otimista a economia voltaria a seu estado natural, se tudo desse muito certo, a partir do segundo semestre do ano que vem, mas apostando que tudo dê muito certo. Acho que não vai ser tão ruim como 2020, pois a gente aprendeu a conviver com a pandemia, a se proteger”.
Para Maskio a falta de clareza e parceria entre as instâncias do poder é que geram mais instabilidades. “Há uma disputa política entre governo de São Paulo e o Governo Federal, infelizmente, isso não deveria ser alvo de disputas, há uma falta de clareza e a estratégia parece um tanto quanto conturbada. Não consigo enxergar a estratégia e, infelizmente, isso afeta as expectativas para 2021”, conclui o professor.