A pandemia da covid-19 levou uma das bases do Sistema Único de Saúde, o Programa Saúde da Família, a interromper as ações em boa parte do País. A medida, que se fazia necessária e oferecia ampliação de acesso à saúde, melhora dos indicadores e redução das desigualdades sociorregionais, foi interrompida e/ou suspensa em muitos municípios, o que segundo os especialistas na área de saúde, deve ser pauta para os novos governantes em 2021, quando houver vacina eficaz contra o coronavírus.
Em entrevista ao RDtv, a bióloga e doutora em Microbiologia pela Escola Paulista de Medicina, Márcia Zorello Laporta, explica que desde o início da pandemia, em meados de março, o programa vem sofrendo fortes retaliações. “Desde o início do isolamento social, o PSF (Programa de Saúde da Família) sofre fortemente com uma série de problemas, desde cortes da alimentação até defasagens nos atendimentos, e isso não pode continuar, porque sabemos das várias famílias que dependem do serviço”, diz.
Para que haja a mudança, a bióloga, que é ainda professora e coordenadora geral de Extensão da Fundação Santo André, acredita que os candidatos precisam começar a discutir uma pauta voltada à atenção básica e como o setor pode ser retomado a partir de 2021. “Uma das principais atribuições municipais na Atenção Primária, o PSF ajuda a desafogar salas de emergência e ainda direciona o atendimento a quem realmente precisa, envolve a saúde como um todo, mas precisamos de estratégias que desenvolvam melhor o programa”, enfatiza.
Já para a gestora do curso de Farmácia, que é também coordenadora da Farmácia-escola e membro do Comitê de Contingência da Covid-19 da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Cristina Vidal, é preciso não só fortalecer as Unidades de Saúde da Família com novas estratégias, mas também designar novas ações e investimentos para as Unidades Básicas de Saúde. “Precisamos fortalecer todos os pontos que forneçam saúde pública à população, porque será uma demanda que não irá esvaziar, ao contrário, é uma demanda crescente que tende a despontar cada vez mais”, pontua.
Segundo Cristina, a pandemia revelou a falta de estrutura da maior parte das unidades de saúde do País, além da falta de serviços especializados e médicos em determinadas áreas. “É o momento de refletir o que falta melhorar e aperfeiçoar com estratégias e investimentos em saúde básica, para que no ano que vem as áreas sejam aperfeiçoadas e a população não sofra com escassez em nenhum setor, seja ele de atendimento individual, coletivo, especializado ou não”, completa.
O médico sanitarista e coordenador do curso de Medicina da Universidade São Judas, Marcos Calvo, reitera que fortalecer a atenção básica, as unidades de saúde e as equipes de atendimento às famílias são demandas que precisam ser adotadas pelo poder público ainda que não hajam mudanças consideráveis nas Eleições 2020. “São adaptações e necessidades que apesar de estratégias apresentadas ou não, serão cobradas da população a partir do próximo ano”, diz.
Na visão do profissional da saúde, quem pode contribuir para essas mudanças são as universidades que a partir das demandas internas, podem alinhar parcerias com os municípios. “Sabemos que o poder público tem uma série de demandas assim como as universidades. Temos alunos disponíveis para fazer estágios e os municípios precisam dessa ajuda. O que poderíamos fazer é pensar em algo que fosse bom para os dois lados, e assim nesse sentido promover uma parceria sem grandes deslocamentos, que fortalecesse as duas pontas”, sugere ao indicar os estágios como forma de inserção dos jovens no mercado de trabalho.
Segundo o médico sanitarista, se a pandemia fez com que a sociedade valorizasse ainda mais o SUS (Sistema Único de Saúde), a cobrança não deixará de existir com os próximos anos. “A cobrança ano que vem virá, e após a vacina virá com uma força muito maior. Por isso é bom que os governos se preparem com estratégias e fortalecimentos que favoreçam a população em todos os sentidos”, completa.