A pandemia do novo coronavírus (covid-19) determinou o isolamento social em todo o mundo, o que fez com que o número de diagnósticos e atendimentos na oncologia e mastologia diminuíssem consideravelmente. Segundo levantamento da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), cerca de 70 mil diagnósticos de câncer deixaram de ser realizados entre março e julho deste ano, reflexo da nova realidade que pode levar, ainda, a um aumento nos índices de tumores descobertos em fase mais avançada.
De acordo com o Oncologista da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) e membro do Comitê de Tumores Mamários, Max Senna Mano, entre os tumores mais incidentes no País, o câncer de mama é o mais comum, perdendo apenas para o câncer de pele. “É é uma doença de crescimento constante, com uma estimativa de 66 mil novos casos por ano, com um ritmo acelerado de crescimento e proporcional às taxas de envelhecimento da população”, explica ao lembrar ainda que mulheres sem filhos e/ou com filhos demais tem maiores tendências para desenvolver a doença, assim como aquelas que já possuem casos na família.
Em entrevista ao RDtv, o oncologista diz que apesar da pandemia, o cenário exige esforços contínuos no sentido de aumentar a taxa de cobertura da mamografia, assim como o nível de alerta das mulheres para alteração da mama, com auxílio de autoexames. “Precisamos dobrar os esforços para que as pessoas se cuidem, não só no mês de outubro, em que há a campanha do Outubro Rosa de conscientização sobre o câncer de mama, mas ao longo do ano todo, para que a doença seja diagnosticada da forma mais precoce possível e assim seja tratada o quanto antes”, orienta.
O objetivo do especialista é que as doenças sejam descobertas ainda em fase inicial, no estágio 1, para que não hajam nódulos difíceis de serem retirados ou alterações extremamente complicadas. “Nossa meta é detectar o quanto antes para que o risco seja o menor possível. Por isso que sempre lembramos: sabemos que a pandemia existe, mas não podemos esquecer que as outras doenças continuam existindo e devemos nos cuidar, como sempre aconteceu”, enfatiza.
Para o oncologista, as campanhas de conscientização acendem alerta para que a população esteja munida de informações sobre as formas de tratamento e impactos positivos da descoberta de tumores logo no início de seu desenvolvimento, fatores primordiais para a redução das taxas de letalidade do câncer de mama. “Nossa luta pelo diagnóstico precoce significa mais pacientes curados, por isso a importância da campanha. Mas percebemos que nos últimos meses tivemos uma queda na realização da mamografia, o que não pode acontecer”, diz o médico.
Sem atenção no estágio inicial da doença, em um cenário de pós-pandemia, há grandes chances de um aumento considerável de diagnósticos tardios, o que poderá levar a maiores índices de óbitos, conforme explica o especialista. “O exame de imagem na qual a mama é comprimida permite que sejam identificados tumores menores que 1 cm e lesões em início. Não há o que ter medo, e isso pode levar a uma vida mais saudável e sem qualquer tipo de complicação”, enfatiza.
De forma geral, a mamografia deve ser realizada anualmente por todas as mulheres acima dos 40 anos e a decisão por adiar ou não o exame só deve ser tomada ou aconselhada pelo médico. “Em casos de pacientes com câncer na família ou qualquer anormalidade como nódulos ou caroços na axila, o ideal é que se busque um profissional da saúde mais cedo ainda, porque isso pode sim indicar o princípio de um câncer de mama”, completa.
As chances de cura chegam a 95% ou mais quando o tumor é descoberto no início, sendo o tratamento menos invasivo, o que melhora, em muito, a qualidade de vida durante e após o tratamento da doença.