O empreendedorismo é um dos caminhos mais desafiadores do mundo e para os negros é ainda mais complicado. Além das dificuldades já impostas, como burocracia, dificuldade no acesso ao crédito e inexistência de educação empreendedora, a população afrodescendente tem de enfrentar obstáculos da exclusão, segregação e da extrema desigualdade e preconceito para vivenciar o mundo dos negócios.
Em entrevista ao RDtv, a mestre em Administração, Alessandra Santos Rosa, que é diretora de Inovação da Prefeitura de Hortolândia e pesquisadora convidada do Observatório Conjuscs/USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul) relata que uma série de ações afirmativas tem aumentado a inserção dos negros na sociedade brasileira, inclusive na região, que possui 28% da população negra empreendedora, mas que apesar do número significativo, em especial os que trabalham por conta própria, a grande maioria dos municípios e estados inexiste legislação específica de incentivo ao afroempreendedorismo. “Situação também verificável no ABC a exceção de Diadema”, diz.
De acordo com a professora, na cidade foi instituído o Programa Municipal Afroempreendedor (lei 3.596, de 02 de maio de 2016) que articula e possibilita a troca de experiências e intercâmbios de negócios solidários para o fortalecimento econômico do segmento. O Poder Executivo cria linha especial de crédito e disponibiliza espaços públicos para fomento, apoio e incentivo para afroempreendedores.
Há legislações similares vigentes em Goiás, Distrito Federal e Rio de Janeiro, mas segundo a professora, nem todas as legislações funcionam da forma que deveria, a exemplo do Programa Estadual de Fomento ao Afroempreendedorismo no Estado de São Paulo. “Apesar de ter a finalidade de criar condições para aumentar a inclusão, a produtividade e o desenvolvimento sustentável de empreendimentos liderados por negras e negros, na geração de trabalho, emprego e renda, por meio de processos socialmente justos, economicamente viáveis e sustentável, isso ainda não acontece”, diz.
Dados do estudo do Conjuscs, com base no Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostram que, naquele ano, no ABC, os negros eram apenas 28,2% dos donos dos negócios e trabalhadores por conta própria, enquanto os brancos correspondiam a 61,8% do total. “Isso porque há, ainda, uma discussão de autoreconhecimento e autoidentificação a respeito da sua própria identidade e que faz esse número ser alterado”, explica o doutorando em Administração pela FEI e pesquisador convidado do Observatório Conjuscs, Sérgio Ricardo Gaspar.
Segundo Gaspar, pode haver disparidade nos números que pode trazer diferença ainda maior nos números recentes do estudo (2014 e 2015), que com base na Pesquisa de Emprego e Desemprego (PED) também apontam disparidade de raça/cor no empreendedorismo da região. Segundo a pesquisa, da Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade) e do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 3,8% dos negros ocupados naqueles anos eram empregadores e proprietários de empresa familiar, contra 8,8% entre os brancos.
Para os negros, o empreendedorismo nasce, mais do que para os brancos, na falta de oportunidades no mercado de trabalho. Informações do Global Entrepreneurship Monitor (GEM) relativas a 2017 mostram, no País, que 46% dos negros empreenderam por necessidade, contra 30% entre os brancos. “É a partir daí que nasce a discussão da igualdade, nas condições de participação no empreendedorismo e da necessidade de oportunidade em suas melhores condições. São políticas públicas que devem ser criadas e novas opções geradas para a participação dos negros”, relata o pesquisador.