Faltam algumas semanas para o início das eleições municipais 2020, marcada para 15 de novembro, e a educação está, certamente, entre os assuntos de maior impacto e destaque entre quem busca o candidato ideal para votar. No entanto, de acordo com os profissionais da educação, apesar do tema-chave, a grande maioria dos candidatos ainda não apresentou grandes propostas para o setor, principalmente para a educação básica, área mais prejudicada de acordo com os especialistas.
Em entrevista ao RDtv, o coordenador do Observatório de Educação da USCS (Universidade Municipal de São Caetano do Sul), Paulo Garcia, explica que apesar da falta de planejamento dos candidatos, é preciso examinar cada opção em relação ao tema. “A educação é um dos setores mais precários do País, com somente 10,6% das escolas com infraestrutura. Não podemos deixar de cobrar a questão neste momento, que é crucial para mudarmos essa realidade”, defende.
De acordo com o educador, a pandemia do novo coronavírus (covid-19) intensificou ainda mais uma das questões que mais dificulta o setor no Brasil, a desigualdade social. “Precisamos pensar na melhoria das escolas, suas conectividades e do aprendizado, que hoje sofre defasagem ainda na educação básica. Se já havia desigualdade entre ensino particular/público, agora na pandemia a situação só piorou”, diz. “É momento de cobrar os candidatos sobre os projetos e investimentos do que deverá ser feito no setor”, completa.
Segundo Garcia, somente com o período de distanciamento social, houve uma perda de aprendizagem em pelo menos 50% dos estudantes para aqueles que são de classes sociais mais baixas, os estudantes negros e pardos. “E os efeitos serão muito maiores com o passar do tempo. A pandemia não afeta as classes sociais mais altas, e sim as mais baixas, as que dependem exclusivamente do Governo”, enfatiza.
A avaliadora do INEP (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas) e MEC (Ministério da Educação), Elaine Escobar, concorda que a conectividade nas escolas públicas precisam melhorar, assim como os investimentos e infraestrutura em sala de aula, além da qualidade de ensino. “Se pensarmos em um cenário de pós pandemia, o aluno da rede pública será o mais afetado, e ele precisará urgentemente desse investimento redobrado”, afirma.
Na visão da avaliadora, o reflexo da desigualdade social também vai poder ser visto nos resultados dos exames mais disputados do País, a exemplo do Enem (Exame Nacional do Ensino Médio). “O aluno pertencente a classe social mais alta e que ao longo da pandemia teve um acesso mais facilitado a um material de estudo, tem uma chance maior de obter um resultado melhor, e isso é também reflexo da falta de investimentos”, explica Elaine, que é também coordenadora de cursos da Saúde da Universidade São Judas, em São Bernardo.
Para a ouvidora, mestre e coordenadora do Núcleo de Práticas Jurídicas da Fundação Santo André, Juliana Pereira, o ideal é que, assim que houver uma vacina 100% eficaz contra a doença, além de um plano de retorno, haja investimento no setor da educação como um todo, até que se atinja o nível superior. “O que percebemos é que quando os alunos chegam no ensino superior, carregam uma defasagem que deveria ter sido sanada no ensino fundamental, e isso é resultado da falta de investimentos no setor, o que precisa ser solucionado”, diz.
Segundo a coordenadora, falta investimento na área, capacitação aos estudantes, incentivo à educação e inclusive ao nível superior. “Hoje esse é o grande sonho do aluno, se formar, trabalhar no que gosta e ter sua própria carreira. Ele precisa desse apoio e desse incentivo, por isso a necessidade dessa cobrança nas eleições”, afirma.
Todos os profissionais da educação defendem, ainda, a criação de um Plano Nacional de Educação, que seja colocado em prática e monitorado pelos nomes eleitos e profissionais da educação.