Apesar de a pandemia da covid-19 não fazer neste momento tantas vítimas, a doença ainda mata dezenas de pessoas no ABC. Os hospitais de campanha, muito importantes como retaguarda nos primeiros meses da crise do novo coronavírus, passam a ser desativados, uma atitude acertada segundo o médico e professor titular da Faculdade de Medicina do ABC, Elie Fiss, baseado na redução dos casos mais graves e nas internações. Mas o pneumologista chama atenção que a pandemia não acabou e, por isso, a população não deve abandonar os cuidados.
O ABC chegou a ter seis hospitais de campanha. Um em Mauá, já desativado; e três em Santo André, onde a unidade do estádio Bruno Daniel também já encerrou atividades, mas permanecem abertos no Ginásio Pedro Dell´Antonia e na UFABC (Universidade Federal do ABC); Ainda estão ativos os hospitais de campanha de Ribeirão Pires e de Rio Grande da Serra. Diadema não montou hospital de campanha, e São Bernardo dedicou o Hospital de Urgência para os pacientes com covid-19. No sábado, (27/09) foi fechado o hospital estadual montado no Ibirapuera, na Capital, que recebeu ao todo 2.344 pacientes das cidades de toda a Grande São Paulo.
Fiss comenta que à medida que reduzem as internações as vagas e os leitos de UTI (Unidade de Terapia Intensiva) estão mais disponíveis. “Eu penso que se não tivessem os hospitais de campanha, onde é que se colocaria tantos doentes graves? Seria um caos. Agora avalio como acertada a decisão de fechar alguns dos hospitais de campanha, os governos têm seguido o ritmo da pandemia”, diz.
Não sobrecarregar CHM
Santo André fechou em setembro o Hospital de Campanha do Estádio Bruno Daniel que atendeu 431 pacientes. Já os outros dois hospitais provisórios continuam ativos. Até quinta-feira (25/9), a unidade Pedro Dell’Antonia tinha atendido 2.404 pessoas e a da UFABC outras 763. O secretário de Saúde, Márcio Chaves, diz que não há previsão para desativar os hospitais sob lonas na atual situação. “O número de mortes e de casos na cidade mantém ritmo de queda, mas não podemos fechar os hospitais de campanha, porque dessa forma pode sobrecarregar o CHM (Centro Hospitalar Municipal)”, afirma. Juntos, os três hospitais de campanha consumiram R$ 8 milhões.
O hospital de campanha de Mauá foi fechado em agosto. No local foram atendidos 17.182 pacientes, mas nem todos ficaram internados. Do total, 3.518 tiveram atendimento no local, mas se trataram em casa, 1.539 ficaram internados um dia e 291 hospitalizados por sete dias, em média. Três pessoas morreram dentre os atendidos no local. O município gastou R$ 900 mil para implantar o hospital provisório e R$ 3,2 milhões no gerenciamento.
Ribeirão Pires informa que não tem previsão para encerrar as atividades do hospital de campanha. Em nota, informa que o equipamento será mantido enquanto houver demanda por internação de casos confirmados ou suspeitos de coronavírus. Até o dia 14 de setembro, a unidade realizou 316 internações e registrou 215 altas e 47 transferências para hospitais de referência. Foram registrados 38 óbitos por covid-19 na unidade. No dia 16, havia 20 pacientes internados no local, que custou R$ 1,8 milhão.
Em São Bernardo, desde a inauguração do Hospital de Urgência, em maio, até o dia 16/09, foram internados 1.267 pacientes no equipamento, dos quais 849 receberam alta e outros 265 vieram a óbito. Naquela data haviam 116 pacientes internados, entre UTI e enfermaria. Outros 67 pacientes estavam nos outros 4 hospitais permanentes da rede municipal para tratamento da covid-19, que, juntos com o HU, disponibilizam 517 leitos – 151 de UTI e 366 de Enfermaria. A Prefeitura informa que não tem data para desativar os leitos específicos para covid-19 no HU.
Rio Grande da Serra instalou leitos de campanha em um anexo à UPA (Unidade de Pronto Atendimento). São 5 unidades de baixa e um de alta complexidade. Porém, a Prefeitura não informa o número de internações.
Vírus ativo
Elie Fiss diz que não é hora para baixar a guarda. Afirma que o afrouxamento de medidas de isolamento e o aumento de circulação de pessoas nas ruas, principalmente, em agosto e setembro, são fatores que podem fazer o vírus voltar a circular.
“As pessoas ficaram muito tempo isoladas e estão saindo agora, mas os cuidados devem continuar”, diz o médico ao acrescentar que, além da máscara e da higienização frequente das mãos, o isolamento ainda é a forma mais eficiente de prevenção. “Deve-se tomar muito cuidado, porque a pandemia ainda está aí. Eu mesmo atendi três pessoas com covid de uma mesma família que foram em uma festinha, que tinha 12 pessoas. Também atendi uma família onde as pessoas ficaram doentes porque um jovem foi a um barzinho e depois contaminou os pais. No retorno das atividades tem de ter todo cuidado”, afirma.
O secretário de Saúde de Santo André, Márcio Chaves, acrescenta que, apesar dos números da doença na cidade continuarem caindo, a Pasta identificou um número maior de jovens infectados e com um comprometimento pulmonar muito grande devido à procura tardia pelo atendimento médico.