Atendimentos psicológicos chegam a cair 52% na região

Por mais que haja queda, Diadema notou maior procura por atendimentos mentais (Foto: Yanalya, Freepik)

Neste ano, os eventos presenciais do Setembro Amarelo, mês que marca a conscientização sobre o suicídio, precisaram ser suspensas devido a pandemia do coronavírus (covid-19). Embora o contexto seja atípico, a psicóloga Katia Costa, de Ribeirão Pires, afirma que o momento é de conscientização e apoio familiar. Devido as medidas de isolamento social, o número de atendimentos na rede municipal de saúde mental caiu de 22% a 52% na região. Por mais que haja queda, Diadema, por exemplo, notou maior procura por pacientes com quadros de ansiedade, violência doméstica e intensificações de sintomas.

Apesar de nenhum serviço de Saúde Mental ter sido suspenso nos nove Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) de São Bernardo – exceto as atividades em grupo -, o município teve queda de 44,3% nos atendimentos, em comparação ao ano passado. Nos primeiros sete meses de 2020, foram realizados 74.869, já no mesmo período de 2019, foram 134.511.

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A cidade também conta com o Pronto Socorro de Saúde Mental 24h, localizado na rua Pedro Jacobucci, número 470, vila Euclides, e em todos os equipamentos voltados a serviços psicossociais são desenvolvidas atividades de conscientização em relação ao suicídio.

Em Santo André, a queda foi de 52% em comparação com o ano anterior. No período de pandemia, a cidade permaneceu com os atendimentos de atenção à crise, acolhimento diurno, internação, visita domiciliar, individual, grupos, como também apoio na modalidade virtual.

Ao todo, os atendimentos de psicologia e psiquiatria em São Caetano diminuíram 22,3% de janeiro a agosto, comparado ao ano passado. A cidade conta com a USCA (Unidade de Saúde da Criança e do Adolescente), bem como os CAPS, que trabalham em regime porta aberta, prestando atendimento a todos que buscam por ajuda. Os casos que precisam de acompanhamento, são enquadrados em projeto terapêutico com profissionais específicos para cada tipo de necessidade.

Já Diadema, apesar de não informar os números do ano passado, comunicou que houve redução na demanda dos cinco Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) do município, que, em média, realizam 5.600 atendimentos mensais. Em contrapartida, a prefeitura esclarece que notou uma procura maior de pacientes com quadros de ansiedade, violências domésticas e com intensificação dos seus sintomas.

Com as atividades coletivas suspensas, as avaliações passaram a ser feitas no modelo individual, como também virtual, com maior espaçamento entre as consultas presenciais. Devido a utilização dos espaços na agenda médica para atendimento às situações de crise, a rede evita, assim, o encaminhamento de usuários ao Hospital Municipal, para não expor os pacientes e sobrecarregar o sistema de saúde. Para isso, os CAPS também tiveram o horário de visita restrito, das 14h às 15h e das 19h às 20h.

Mauá teve baixa de 33% na quantidade de atendimentos este ano. Embora sem aumento na demanda, a cidade mantém as unidades do CAPS a livre demanda. No Setembro Amarelo, o município participa da campanha com exposição de vídeos educativos, decoração temática nos equipamentos de saúde e nas oficinas terapêuticas.

Se comparado a 2019, Ribeirão Pires teve queda de 43,3% no período de janeiro a julho em atendimentos nos Centros de Apoio Psicossociais da cidade, mesmo com a permanência dos serviços de forma virtual durante a pandemia, e presencial em casos de emergência. Além das atividades via internet, os CAPS do município mantiveram o acompanhamento terapêutico a partir de contato telefônico semanal ou quinzenal, de acordo com a gravidade do caso.

Durante o mês de prevenção ao suicídio, a rede de Ribeirão Pires promove atividades voltadas aos pacientes e à conscientização de familiares e comunidade, como o reforço de orientações sobre suicídio; doação de pipas confeccionadas pelos usuários do CAPS AD para as crianças atendidas no CAPS I; entrega de frases motivacionais; ação de sensibilização junto à população na área de comércio e palestras online.

Atendimentos a distância

Em Ribeirão Pires, as equipes da Secretaria de Saúde da cidade adotaram o teleatendimento, no horário de funcionamento dos CAPS, para ações individuais, em grupo, orientação familiar, manejo de crise e orientações gerais sobre saúde mental. As oficinas culturais de dança e música foram mantidas, bem como propostas de atividades físicas e de relaxamento gravadas em vídeo e enviadas para os pacientes.

A psicóloga Fernanda De Nadai, coordenadora de Saúde Mental da cidade, conta que as abordagens sobre luto têm sido trabalhadas de forma especial em um novo grupo familiar. “Este é um momento de perdas, em que famílias não podem se despedir de seus entes queridos. Mantemos o contato com esses familiares, utilizando técnicas de abordagem cognitivo comportamental específicas para a demanda de covid-19 via WhatsApp ou salas de encontro virtuais”, diz.

Já Diadema construiu um plano de ação em cada CAPS e Serviço de Residência Terapêutica (SRT), com miniequipes que atendem usuários estáveis do quadro psicossocial que estão em isolamento social e usuários não estabilizados, em maior vulnerabilidade psicossocial, que requerem avaliação presencial. Os atendimentos nas 20 Unidades Básicas de Saúde (UBS) atendem demanda espontânea, e os profissionais realizam o monitoramento dos pacientes, via telefone ou WhatsApp, e atendimento presencial de casos graves.

A psicóloga Katia Costa, de Ribeirão Pires conta que a campanha é uma oportunidade para praticar empatia e acolher quem precisa de ajuda. “Quem tem depressão não quer tirar a vida, e sim a dor que sente dentro de si. O mal não é visto, mas sentida por quem passa”, comenta a especialista.

A profissional ainda conta que a taxa de suicídio mais alta entre homens é um reflexo de que expor sentimentos a pessoas de confiança e procurar ajuda de um especialista é a melhor saída, já que pessoas do sexo masculino tendem a esconder sintomas de doenças psicológicas.

Para quem sofre de depressão, ansiedade ou pânico, a especialista recomenda terapia psicológica e acolhimento familiar. “É importante que a família entenda as doenças emocionais e proporcione o tratamento, sem julgamentos ou atos que piore o caso de quem sofre dessas patologias”, explica.

Em relação aos atendimentos virtuais, Katia Costa explica que, embora alguns pacientes tenham insegurança em fazer a consulta em casa, o fluxo de procura continua não teve quedas significativas. “Muitas pessoas não se sentem à vontade para prosseguir o tratamento em casa, com medo de algum parente ouvir a conversa e gerar conflitos”, conta.

Centros de Valorização da Vida

Para quem precisa de ajuda, o CVV (Centro de Valorização da Vida) oferece apoio 24h no telefone 188 ou pela página da internet https://www.cvv.org.br/. Para se voluntariar no centro é necessário ter 18 anos e se inscrever no site citado anteriormente.

Recebemos dados do comparativo de 2019 e 2020 dos atendimentos das três unidades do CVV no ABC até o primeiro semestre deste ano. Em Santo André no ano passado 18.615 pessoas foram atendidas e neste ano 23.342, houve um crescimento de 25,39% nos atendimentos. São Bernardo no ano anterior fez 23.473 auxílios e neste ano 27.455, obteve um aumento de 16,96%. A única cidade que apresentou queda foi São Caetano ao todo foram 21.176 ajudas prestadas em 2019 e nesse ano 17.326, a queda foi de 18,18%.

Carlos Correia é voluntário do CVV, em São Caetano e conta como é feito o processo de integração de novos integrantes “Após a seleção os candidatos passam por 13 encontros, onde é feito treinamentos com prováveis situações que irão passar e depois de uma entrevista, quem passou por essa fase faz plantões acompanhado até se sentir seguro”, explica Correia qual relatou que atualmente 60% da equipe atua em casa por conta da pandemia.

Para Patrícia Moretti, voluntária do CVV de Santo André, os atendimento mesmo com a queda apresentada em São Caetano continuam com as médias parecidas ao ano anterior “A procura durante o primeiro semestre, em termos quantidade, tem sido parecida, em torno de 9.000 abordagens diárias e os temas relacionados a pandemia foram, sem dúvida, recorrentes em grande parte das ligações”, relata Patrícia e ainda diz que os atendimentos sempre foram essenciais e com o isolamento social se tornou ainda mais imprescindível.  (Colaborou Nathalie Oliveira)

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