Bolsa fecha em baixa de 1,46%, aos 100.627,33 pontos, com pressão sobre Guedes

O presidente Jair Bolsonaro foi o protagonista desta quarta-feira, ao cobrar publicamente a equipe econômica por uma solução que o satisfaça quanto ao valor do Renda Brasil, programa distributivo que substituirá o auxílio emergencial, o qual se mostrou vital para recuperação de sua popularidade em meio à pandemia. A reação do mercado foi em direção única: dólar spot a R$ 5,63 na máxima do dia, avanço dos juros futuros e Ibovespa na faixa de 99 mil pontos no pior momento da sessão.

Ao final, o principal índice da B3 mostrava perda de 1,46%, aos 100.627,33 pontos, com piso a 99.359,36 e pico a 102.521,38, saindo de abertura aos 102.118,76 pontos. O giro financeiro foi de R$ 29,3 bilhões, bem acima do observado nas duas sessões anteriores, que estiveram entre os mais fracos do mês, à espera do Renda Brasil.

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Assim, em dia favorável no exterior, com S&P 500 e Nasdaq renovando máximas históricas tanto no intradia como no encerramento, o descolamento se impôs ao Ibovespa, com perdas espalhadas por empresas e setores, deixando poucas exceções positivas, como Intermédica (+3,24%), Magazine Luiza (+2,44%) e Marfrig (+1,35%), na ponta do índice na sessão.

No lado oposto, Eletrobras ON cedeu 4,71%, seguida por Embraer (-4,57%) e Cemig (-4,23%). Entre as blue chips, Petrobras PN caiu 2,84% e Banco do Brasil ON, 2,41%. Com o desempenho desta quarta-feira, o Ibovespa perde 0,88% na semana, 2,22% no mês e 12,99% no ano.

“Complicado, o sinal não foi bom. Estamos incorrendo em erros do passado recente – nem saímos daquela situação para que volte a ocorrer do mesmo jeito. Está se tentando evitar o que é impopular, para ficar apenas com o que é popular, mas, para dar um benefício maior, vai ter que cortar em algum lugar, tem que ter compensação”, diz Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset. “Neste momento, o que se defende são práticas relativamente simples: tem que respeitar o fiscal; fora disso, o custo é elevado”, observa o economista, acrescentando que a história é “muito curta” para que se deixe de perceber que, hoje, o nível de endividamento público é pior e as condições econômicas permanecem muito adversas para que se opte por nova aventura.

No meio da tarde, o Ibovespa tocou mínima abaixo dos 100 mil pontos, com perdas superiores a 2% na sessão. Pouco depois, declarações do presidente da Câmara, Rodrigo Maia, contribuíram, ainda que discretamente, para que o índice deixasse o piso do dia, no momento em que aumentavam os rumores de que o ministro da Economia, Paulo Guedes, insatisfeito, jogaria a toalha. “Está na hora de o governo fazer uma proposta (para o Renda Brasil) olhando para o Orçamento”, disse Maia. “Devemos trabalhar para aquilo que tem convergência e apoio da equipe econômica”, acrescentou.

“Há um problema muito sério no governo, de comunicação ou de entrosamento. Não dá para saber ao certo o que, de fato, está acontecendo: há muita confusão, muito ruído, para se prever qual será o desfecho”, diz Pedro Paulo Silveira, economista-chefe da Nova Futura, acrescentando que a incerteza recomenda viés “defensivo” para as ativos. “Não dá para saber direito em que direção se vai, mas o Posto Ipiranga está perdendo status, não tem aquele poder absoluto que, desde a campanha, se dizia que teria. O momento é ruim para o Guedes e para o mercado”, conclui o economista.

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