No Dia Nacional de Combate ao Colesterol o médico e professor de cardiologia da Faculdade de Medicina do ABC, Adriano Meneghini, dá importantes dicas sobre como manter uma vida saudável e se prevenir dos males do alto colesterol. Em entrevista ao RDTv, apresentado pelo jornalista Leandro Amaral, o especialista falou sobre alimentação e prevenção das doenças causadas pelo colesterol alto que matam cerca de mil pessoas por dia, no país. Com o isolamento social imposto pela pandemia da covid-19, o médico considera que os problemas gerados pelo excesso de colesterol venham a se agravar.
Desmistificando o assunto, o médico diz que não é o colesterol que é ruim, ele inclusive é necessário ao corpo, mas o seu excesso é que faz mal. “Não só a alimentação copiosa de gorduras, como também a falta de alguns cuidados no sentido de metabolizar essa gordura, como atividade física e controle de algumas comorbidades, é que faz com que esse excesso gere doenças cardiovasculares como infartos e derrames. O controle alimentar é um dos pilares do controle do colesterol, mas não pode ser entendido como o único”, analisa.
O consumo de alimentos que contenham particularmente gorduras saturadas, como as gorduras trans, que são rapidamente absorvidas pelo tubo digestivo é que elevam o colesterol. Segundo o médico da FMABC as gorduras que encontramos in natura nos alimentos, ou nos embutidos, ou aquela gordura trans que deixa os alimentos mais saborosos, essas são as que vão fazer elevar o colesterol na corrente sanguínea e consequentemente expor o indivíduo às doenças. “O brasileiro tem um consumo de gordura muito elevado, apenas uma pequena parte da população tem dieta saudável. Grande parte das pessoas acha que a comida boa é aquela gordurosa, cozinha com banha em fez de óleo, consome alimentos que apresentam gordura na sua constituição, como carne, embutidos como mortadela, salame e alimentos que usam gordura para a textura, então tudo isso é fonte do colesterol a mais do que o corpo precisa e tudo aquilo que vai a mais acaba se depositando na parede dos vasos e artérias predispondo o indivíduo a ter um infarto, ou acidente vascular encefálico”, alerta.
O colesterol atua na produção de musculatura e hormônios e substâncias necessárias para que o corpo funcione, mas com a pandemia da covid-19, que faz com que muitas pessoas fiquem em casa com a prática de exercícios reduzida, os problemas com o colesterol tendem a se agravar. “Quanto você tem uma atividade física e um gasto energético importante, esse colesterol a mais é metabolizado. Mas numa situação de vida mais sedentária o organismo vai depositar (nas artérias). Aumento do peso, particularmente da gordura abdominal é um determinante da gordura visceral, que é excesso de colesterol guardado para uso em maior necessidade, o que não precisamos, pois nos alimentamos todos os dias”.
Deve-se ter cuidado especial não apenas com os que estão acima do peso, mas os que tem diabetes, hipertensos e que tem histórico familiar de doença cardíaca e de colesterol alto. “Todos esses predicados vão tirar da dieta do indivíduo a gordura, e ele vai ter que ter um controle rigoroso da alimentação”, diz o especialista.
Sintomas
O colesterol alto é sintomático em entre 10% e 20% das pessoas, como aquelas que tem pré-disposição genética, ou familiar, que tem dificuldade em metabolizar a gordura, nas demais não há sintomas. “Há sinais, como o aumento do peso e da circunferência abdominal; na dosagem sanguínea notando o aumento do colesterol total e triglicérides, da diminuição do HDL do colesterol, o aumento da fração LDL, mas sintomas não existem. O indivíduo passa assintomático até ter um quadro como infarto ou acidente vascular cerebral (AVC), então não dá para guiar a conduta esperando os sintomas, a conduta deve ser sempre preventiva”, diz Meneghini. “Talvez no rastro da pandemia vamos começar a chorar mil ou mil e quinhentas mortes não só pelo coronavírus, mas pela hipercolesterolemia. Essas doenças já matam mais de mil pessoas por dia no Brasil, matam mais que qualquer doença, do que a violência”, alerta o médico.
Quem tem colesterol alto por má educação alimentar tem três tipos de tratamento, as estatinas, os fibratos e a enzetimiba, além disso é necessário um tratamento multidisciplinar para a educação alimentar também. Com esse tratamento o paciente pode ser curado da hipercolesterolemia. Quem tem a hipercolesterolemia familiar, vai precisar de tratamento por toda a vida.
O médico dá dicas para tornar os alimentos mais saudáveis no dia a dia, como por exemplo trocar o óleo de soja pelo de girassol ou de milho. Mas se apenas reduzir a quantidade de óleo já ajuda, ou trocar o óleo por azeite de oliva. Reduzir o sal também ajuda a controlar a hipertensão.
Meneghini chamou atenção para a data, o Dia Nacional de Combate ao Colesterol. “A obesidade é uma pandemia para o adulto e em crianças, tem crianças obesas mórbidas com 10 anos. Estamos criando gerações de doentes cada vez mais precoces. Estamos patrocinando uma geração que, por volta dos 30 a 35 anos, se tornará inválida. Vamos chegar numa catástrofe, com o número de pessoas tirando maior do que as que colocam na previdência. Então quando a gente fala em combate, é combate mesmo porque o colesterol em excesso aumenta o tamanho do fardo que a sociedade vai ter para sustentar os indivíduos. A previsão para 2050, se continuar no nível que estamos hoje, é terrível. Hoje temos 75% das pessoas com mais de 60 anos de idade com algum tipo de doença cardiovascular, seja hipertensão, seja infarto, se no futuro vamos ter mais idosos, o número de doentes vai aumentar, portanto o momento é de reflexão para que a gente possa fazer algo para para que esse idoso de 2050 tenha qualidade de vida”, conclui.