Aprovada pelo Congresso e sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro, a lei de auxílio emergencial para a Cultura, conhecida como lei Aldir Blanc, em homenagem ao compositor carioca que faleceu no início de maio vítima da covid-19, ainda não chegou para ajudar os produtores de cultura e os espaços culturais, um dos setores que mais sofrem durante a pandemia, com as casas de espetáculo fechadas. Para saber qual o impacto na vida os artistas o RDTv, desta segunda-feira (27/07) ouviu três profissionais para um debate, que envolveu também o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal, Edgard Brandão.
A artista plástica Prila Maria, que faz grafites, murais e esculturas 3D contou que a paralisação das atividades culturais em março atingiu em cheio uma exposição que ia acontecer na Casa da Palavra em Santo André. “Cheguei no Brasil uma semana antes do estado decretar o isolamento. Ia participar de uma exposição em conjunto com uma artista de Diadema e aconteceria uma coletiva na Casa da Palavra (em Santo André). Cheguei ao país na quarta, montei a exposição na quinta e no sábado recebemos aviso de que não ia ter exposição porque o espaço ia fechar por conta da pandemia. Foi um baque”, relata.
Prila disse que para movimentar o meio conseguiu com a coordenação da Casa da Palavra a reapresentação do seu trabalho Sem Rostos, além de reunir quatro escritores de rua e no próximo dia 6 de agosto vai estrear na plataforma da secretaria da Cultura de Santo André um novo projeto. “Que a gente fez sem verba, ajudando artistas que não tinham nem uma biografia para apresentar. Até tratamento de foto fizemos para ajudar. Esse foi um projeto que foi feito à unha”, conta. “Viver de arte é difícil, mas estou feliz porque estou comendo, e ainda pagando as contas”, disse a artista que está vivendo de algumas reservas.
Para a atriz e produtora cultural Maximiliana Reis, sócia da RMBrasil, que administra o teatro Gazeta, na avenida Paulista, na Capital, o momento é de muita preocupação. Ela relata que negociou com o dono do imóvel a Fundação Cásper Líbero, e conseguiu um desconto no aluguel, mas ainda assim está difícil manter a atividade. Uma das grandes atrações do espaço é também o maior sucesso do teatro brasileiro, a peça Monólogos da Vagina, que é apresentada há 20 anos sempre com sucesso de público. Maximiliana é uma das protagonistas.
“Foi um baque, ficamos sem chão. A peça Monólogos da Vagina está há 20 anos em cartaz e todos os integrantes dependem disso como fonte de sobrevivência. É através do público que a gente se mantém. No ano passado trabalhamos de 6 de janeiro a 8 de dezembro sempre com casa lotada, isso é um grande privilégio. No começo do ano eu tinha duas séries para fazer, pensamos em dar um tempo no espetáculo para descansar um pouco. A gente tinha uma certa reserva por trabalhar muito, mas com paralisação de tudo as pessoas ficaram sem chão. Algumas atrizes dependem de pagar o aluguel que pagava com a bilheteria”, diz a atriz e produtora.
Segundo Maximiliana a lei Aldir Blanc não soluciona o problema, mas dá ao menos um respiro. “A gente foi levando com o caixa da empresa nestes três meses, mas agora estamos ficando um pouquinho desesperados, porque a gente não sabe quando vai conseguir reabrir”, disse . Durante a pandemia o teatro Gazeta fez duas apresentações, transmitidas pela internet. “Tem que ter muito cuidado, durante essas apresentações, se gasta muito mais e se concorre na internet com outras lives”, comentou.
Cida Ferreira é artesã, ela se especializou em atender as demandas do teatro por máscaras e adereços. Com a paralisação dos espetáculos seu trabalho também parou. Ela tentou faturar com decoração de festas, que também pararam, e a situação foi piorando. O Antenor, nome de um boneco, uma de suas criações, até chegou ir para algumas festas, agora um de seus objetivos é usá-lo em mensagens de conscientização sobre o uso de medicamentos durante a quarentena. “Trabalho com adereços para teatro. Comecei a levar Antenor para festas, mas elas rarearam bastante. Não estou pagando as contas, por enquanto não cortaram luz, nem água, meu marido é professor de escola técnica que está parada também. Estamos vivendo com dificuldades”, relatou. Uma nova ideia é a confecção de máscaras de personagens que ela tanto pode fazer para artistas como para decoração.
Todas esperam manter suas atividades até a retomada e se o auxílio da lei Aldir Blanc vier logo pode garantir a sobrevivência de artistas e alguns negócios que vivem da arte. A lei tem um fundo aprovado de R$ 3 bilhões, destes R$ 565 milhões virão para o estado de São Paulo, e R$ 17 milhões para o ABC, segundo calcula o secretário executivo do Consórcio Intermunicipal Edgard Brandão. O benefício vem em três modalidades, a de auxílio emergencial, no valor de R$ 600 para o artista durante três meses; um subsídio mensal para a manutenção do espaço cultural e, por último, editais para ações culturais. Mas para isso as prefeituras tem que estar preparadas, devem ter conselho de cultura para gerir a verba.
“Já são perto de 4 mil agentes culturais cadastrados. A prefeitura municipal de São Paulo já tem um decreto e as do ABC devem seguir e publicar os seus também”, diz Brandão, que aponta algumas dificuldades. “Não é fácil destinar recurso é complicado estamos em um período eleitoral e tem a Lei de Responsabilidade Fiscal, então é importante que as cidades tenham os conselhos para que possa gerir”, aponta. “Eu aconselho que os artistas procurem os conselhos de sua cidade, mas esse recurso nem foi liberado ainda”, informa.
“O público está com fome de cultura e estou muito esperançosa”, disse Maximiliana.