Empresas dos EUA perdem esperança de retomada rápida e reavaliam planos

Grandes empresas dos EUA estão chegando à conclusão de que as iniciativas tomadas em março e abril não foram o suficiente, e que a ressurgência de casos de Covid-19 no país resulta em mudança de estratégia, após a expectativa de que a recuperação econômica pudesse ser rápida. Executivos que antes lidavam com a disrupção em termos de meses agora estão pensando em anos. Assim, afastamentos temporários de funcionários estão se transformando em permanentes, enquanto as empresas reavaliam o cerne de suas operações e reduzem a produção em horizonte indefinido.

A Delta Airlines e a United Airlines reconsideraram os planos de elevar a disponibilidade de voos no verão (do hemisfério norte), na medida em que não se espera mais que a demanda retorne logo aos níveis anteriores aos da pandemia. A Delta informou que cortará pela metade, a 500, o número de voos extras que costuma acrescentar em agosto e que a capacidade no trimestre até setembro será, na melhor das hipóteses, 25% do observado no mesmo período do ano passado.

Newsletter RD

“Há uma estagnação da demanda no ponto atual”, disse o executivo-chefe da Delta, Ed Bastian, em entrevista a The Wall Street Journal.

Por sua vez, a American Airlines informou que 25 mil trabalhadores correm o risco de perder o emprego quando a ajuda federal chegar ao fim, em 1º de outubro. A United disse estar examinando a possibilidade de cortar 36 mil empregos, o equivalente a quase metade de sua força de trabalho nos EUA – ambas as companhias aéreas consideram que levará anos para que a demanda se reaproxime de níveis considerados normais.

A rede de restaurantes Chipotle Mexican Grill está se adaptando a pedidos para viagem, ainda que tenha acrescentado funcionários. A Vox Media, do ramo de publicações impressas e de informações pela web, informou que pode afastar 6% de sua força de trabalho, ante prolongada seca no lucrativo ramo de eventos.

Na sexta-feira, o executivo-chefe da rede de lanches Pret a Manger, Pano Christou, reportou queda de 87% nas vendas nos EUA e anunciou planos para fechar cerca de 20 lojas.
“Não podemos desafiar a gravidade e continuar com o plano de negócios que tínhamos antes da pandemia”, disse o executivo.

“O jogo será diferente”, diz Bill George, ex-CEO da companhia de equipamentos médicos Medtronic e pesquisador-sênior na Harvard Business School. Segundo ele, muitas companhias precisarão explorar estratégicas consideradas impensáveis no passado, de redes de hospitais embarcando em uma guinada de longo prazo em direção à telemedicina a fabricantes de utensílios domésticos tendo de elaborar uma forma de vender seus produtos levando em conta que muitas lojas não irão reabrir.

Há alguns sinais de que os gastos em consumo estão em recuperação, mas parte dos economistas aponta que os dados obscurecem uma nova realidade, de consumidores cada vez mais temerosos quanto ao impacto econômico de uma nova onda de Covid-19 na maior parte dos EUA.

“O risco de uma recaída da demanda está crescendo”, diz Gregory Daco, economista da consultoria Oxford Economics, que aponta que, em base semanal, houve desaceleração do consumo em 14 estados americanos e declínio em 15, com aumento confirmado das contaminações pelo novo coronavírus em 39 estados que, juntos, respondem por 90% da economia dos EUA.

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes