Após um mês da reabertura do comércio de rua e shoppings no ABC, o consumidor ainda se mostra inseguro para a retomada e as vendas não atingiram 50% da média registrada antes da pandemia do coronavírus (covid-19). Em São Bernardo, os centros de compras não venderam mais que 40% do que vendiam antes, enquanto em Santo André, a queda foi ainda maior, venderam apenas 30%. Para o infectologista Renato Grinbaum, o momento é adequado para a retomada econômica, se seguidos todos os protocolos de higiene estabelecidos.
Associações
Em São Bernardo, segundo a ACISBEC (Associação Comercial e Industrial de São Bernardo), os lucros dos lojistas de shoppings não têm ultrapassado o percentual de 40% em comparação ao que vendiam antes, o que faz com a expectativa destes comerciantes não seja otimista. Para Valter Moura, presidente da associação, ainda é cedo para analisar os números, pois o momento é de cautela, já que a retomada tem sido lenta. “O consumidor não vai de uma hora pra outra comprar como comprava antes. O processo é gradual, as compras aumentam aos poucos”, conta.
Apesar do período incerto, Moura diz que a previsão é de que o movimento das lojas seja normalizado apenas nas compras de Natal, data mais importante do ano para o varejo. Até lá, o ritmo segue lento. “Somente daqui pelo menos um mês vamos poder analisar o comportamento do consumidor. Esperamos que no Dia dos Pais, comemorado em 9 de agosto, dê para ter um parâmetro mais exato deste cenário”, afirma.
Ainda de acordo com Valter Moura, algumas lojas chegaram a vender apenas R$ 50 por dia, fato que desanima os comerciantes e faz com que procurem por outras alternativas. É o caso de negócios que preferiram migrar dos shoppings para o comércio de rua, devido aos altos custos de aluguel nos empreendimentos, atrelado a baixa porcentagem de venda que não sustentam os gastos dentro dos centros comerciais. “Muitos lojistas não tinham condições de bancar custos com funcionários, energia e aluguel pois as vendas ainda não compensam esses gastos, portanto, decidiram sair dos shoppings e atuar na rua”, explica.
O presidente ainda reitera que nada do que está previsto é certo, pois a qualquer momento a situação pode se alterar. “Em meio a pandemia não podemos ter certeza de nada. Uma segunda onda do vírus pode nos atingir e mudar o rumo de tudo. Há chances de voltarmos a estaca zero”, diz. Moura completa que a falta de conscientização da população tem atrapalhado o processo. “As pessoas precisam respeitar as medidas para que a retomada funcione”, finaliza.
Para Pedro Cia Junior, presidente da ACISA (Associação Comercial e Industrial de Santo André), o momento ainda é prematuro para comparar números e esperar grandes mudanças positivas, mas que até o momento, as vendas tem sido de 30% a 35% em relação ao normal. “Damos um passo atrás do outro. O que aguardamos é que não ocorra um retrocesso, mas para isso é preciso a consciência da população e responsabilidade dos lojistas”, afirma.
Sobre o movimento, o presidente conta que os shoppings tem a desvantagem de possuir o ambiente fechado, o que deixa os consumidores inseguros sobre a segurança do local, com isso, o índice de vendas de comerciantes de rua é superior. “Neste momento as vantagens dos shoppings de agregarem diversos tipos de lojas, estacionamento, etc, são deixadas para trás, pois a população passou a preferir comprar no comércio de rua, em locais abertos”, explica.
Além disso, o horário reduzido de funcionamento atrapalhou o processo de retomada, segundo o presidente, que afirma que a medida apenas centralizou a clientela, o que acaba por gerar aglomeração. “Esse fator não é um ponto positivo, pois fez com que as pessoas se concentrassem apenas em um horário”, afirma.
Procurados, os shoppings ParkShopping São Caetano e Praça da Moça, em Diadema, informaram que não divulgam informações sobre os índices de vendas e movimento após a retomada, mas estão dentro da normalidade e do esperado, respeitando a capacidade reduzida. Já o Mauá Plaza Shopping, o São Bernardo Plaza e o Grand Plaza (Santo André) não responderam até o fechamento da reportagem.
Momento adequado
Para o médico da Sociedade Brasileira de Infectologia, Renato Grinbaum, a retomada gradual acontece no momento certo, visto que as cidades começam a registar queda no número de casos. “Neste momento as cidades de São Paulo vivem, na maioria delas, uma diminuição do número de casos, e, com isso, a menor demanda dos serviços hospitalares. Então, o momento foi propício para uma reabertura cautelosa”, explica.
Em contrapartida, o infectologista afirma que a tendência é de que o número aumente, pois a infecção ainda não pode ser contida, apenas freada em termos de velocidade de contaminação. Mas, para ele, o mais importante é considerar a capacidade do serviço de saúde, que, por registrar diminuição da sobrecarga, mostra que no momento é possível considerar adequada a retomada. “A determinação tanto da permanência das medidas de isolamento social, quanto do fechamento do comércio e da reabertura, tem uma relação direta com a capacidade do serviço de saúde. Portanto, neste momento é possível fazer a reabertura gradualmente como já está sendo feita”, finaliza.