Os secretários municipais de educação, Rosi de Marco (Rio Grande da Serra), Cacá Vianna (Diadema), Flávia Banwart (Ribeirão Pires) e Wagner Cipriano (Mauá) debateram por mais de uma hora, no RDTv desta quarta-feira (01/07) o assunto “volta as aulas presenciais” já que o governo do estado anunciou um indicativo de retorno às salas de aula em 8 de setembro. A questão principal levantada pelos secretários foi a falta de recursos para a implantação de protocolos e para a continuidade de aulas em ambiente virtual, ao passo que também seguem as aulas presenciais, o chamado ensino híbrido. Os gestores da educação municipal dizem não ter como afirmar quando efetivamente as escolas abrirão as portas para os alunos.
Além do recurso financeiro, Cacá Vianna chamou atenção para a questão psicológica do retorno à aulas, tanto de pais, alunos como também dos professores. “Antes de protocolos e ações visando o retorno temos que dar segurança à rede, a questão emocional é muito importante; tem que ver como as pessoas estarão emocionalmente. Antes de voltar tem que ter garantias financeiras do governo federal. Não sei se dia 8 de setembro Diadema volta, nem sei o ABC, volta. Estamos discutindo isso no consórcio. Mas Diadema vai ouvir toda a rede”, destacou.
O secretário de educação de Mauá, Wagner Cipriano, concorda que o estado chamou a responsabilidade indicando uma data, mas considera também que sem aporte, sozinhos os municípios não vão conseguir implantar protocolos para um retorno seguro. “O governo do estado deu o dia 8 de setembro e com isso eles chamaram a responsabilidade da data e temos que construir alguma coisa. Em Mauá temos rede majoritariamente de educação infantil, cerca de 98%, e a preocupação é construir um protocolo que leve em consideração a vida. O ano letivo para nós tem sido desafio enorme; o estado soltou protocolo, mas não falou nada sobre o orçamento”, critica.
Flávia Banwart disse que antes de cravar uma data para o retorno quer discutir com os pais os protocolos. “Primeiro tem que avaliar a questão emocional que nos preocupa muito, vamos receber pessoas fragilizadas que perderam familiares ou que tem comorbidades e ao mesmo tempo pensar a parte pedagógica e gestão organizacional e higiene. O que nós queremos é levar esses protocolos para uma discussão com os pais, nos conselhos. Temos um documento quase pronto para levar a discussão para esse colegiado”, anuncia.
Rosi de Marco tem a mesma preocupação com a sua rede em Rio Grande da Serra, e avalia que tudo o que precisa ser feito esbarra na falta de recursos. “A preocupação é com a saúde, com o distanciamento, o manuseio, a higiene e a alimentação, todos esses protocolos estão sendo pensados para atender a expectativa e atender a comunidade. Questões emocionais e de saúde estarão em primeiro lugar, mas não é simples, é complexo, é novo. Se não tiverem condições o retorno será adiado. Para psicopedagogo precisamos de recursos. No nosso caso precisamos de um aporte financeiro, tanto a nível estadual como federal”.
Uma nova fórmula para o Fundeb (Fundo de Manutenção do Ensino Básico) e investimento em aparelhamento das escolas é o que propõe Caca Vianna. “Diadema perdeu repasses significativos no Fundeb. O Brasil precisa de investimento na educação básica, pois tem um déficit social muito grande, tem regiões em que a internet não pega. Não dá para falar num retorno quando se precisa de investimento público. 8 de setembro está muito longe, vamos viver um dia de cada vez, abrindo diálogo com o governo federal para que ele possa transferir para os municípios o que eles tem de direito. Eu defendo aumento do Fundeb em 10%”, calcula.
Para Wagner Cipriano foram várias iniciativas da prefeitura de Mauá no sentido de incluir todos os alunos, além da parceria com a Google for Education, para superar as dificuldades da exclusão digital escolas também ofertaram acesso aos conteúdos impressos. “Às aulas online tivemos adesão de 70% e estamos criando um protocolo de recuperação das defasagens, principalmente em alunos em saída, como exemplo para o aluno do nono ano que vai para o médio. Precisamos aumentar também a digitalização, mas se não houver aporte nesse momento, no ano que vem não vai ter condições de tocar tudo. Agora precisa pensar a educação daqui para frente e criar ferramentas ou teremos um fosso cada vez mais aberto entre a escola pública e as particulares. Os pais tem que ser ouvidos e temos preocupação muito grande com os desgastes que os professores estão vivenciando. A gente percebe esse desgaste”, analisa.
“O Fundeb não dá conta da educação. Fazer educação com o que se recebe é muito difícil, temos que priorizar e na pandemia priorizar mais ainda. Se tivermos esse possível retorno nem todos os alunos vão voltar imediatamente, vamos ter a fase o ensino híbrido. Chegou o momento em que todo gestor vai ter que implantar essa questão tecnológica, conciliar e buscar formas e recursos. Nesse momento é que gostaríamos de ter respaldo. Não gosto de dizer que foi um ano perdido, mas que foi um ano de tanto esforço. Se tiver que estender vamos, mas vamos minimizar os prejuízos; procurar aplicar ferramentas e recursos pedagógicos para resolver os déficits de aprendizagem”, conclui Flávia Banwart.
“Não vejo que é ano perdido”, disse Rosi de Marco, que continua: “é de aprendizado para todos, um momento de repensar com o ensino híbrido quais serão os próximos investimentos. Pensar na sala de aula com os nossos professores que fizeram um trabalho maravilhoso. Vejo o carinho com que preparam as aulas. Tem sido uma troca bacana entre as escolas. Nosso diálogo tem sido no consórcio para que os municípios tenham linhas minimamente gerais. Com o Estado não teve diálogo. Temos que ter segurança nesse retorno não é só criar protocolos”, conclui a secretária de educação de Rio Grande da Serra.
O secretário de Mauá pregou a participação das universidades na colaboração com o ensino público. “Tem dentro das nossas redes os nativos digitais e tem grupos que não nasceram nessa lógica. Tem que buscar apoio nas universidades, na região temos a UFABC (Universidade Federal do ABC) onde existem especialistas importantes para nos dar um suporte adequado. Precisa de diálogo franco entre escola e família, isso nunca foi tão necessário. Para suporte psicológico estamos em contato com UFABC e nas próximas semanas vamos avançar em uma boa estrutura. Mas para tudo isso precisa de investimento”, conclui Wagner Cipriano.