Profissionais de saúde e maioria dos pais são contra aulas presenciais

Retorno das aulas presenciais foi anunciado pelo governo do estado, mas está condicionado a queda dos números da covid-19.(Foto: Letícia Teixeira/PMSCS)

Mesmo sem uma pesquisa quantitativa, a maioria dos pais é mesmo contra a volta dos filhos às aulas presenciais. Diante do anúncio, pelo governador João Doria (PSDB), de que as aulas na rede estadual voltariam em setembro, o prefeito de Diadema, Lauro Michels (PV) fez nesta quarta-feira (24/06) em sua página no Facebook uma enquete sobre o assunto. Foram mais de 800 respostas e a quase totalidade delas foi pelo não retorno das crianças às aulas presenciais. As escolas particulares, que investiram no ensino online durante a pandemia, se preparam para o retorno, que deve ser gradual, primeiro para os alunos mais jovens e somente quando a situação de contágio estiver mais controlada. De outro lado profissionais de saúde consideram preocupante a volta.

O médico intensivista, Ronei Renato Rubbo, que atua na rede privada e hospitais públicos, teme que cada passo dado na direção da flexibilização da quarentena dois sejam dados para trás. “As crianças ficam doentes também, não há nenhum nível de segurança para o retorno às aulas. Isso foi feito na Espanha, mas depois de três meses de lockdown, aqui não teve isso, o isolamento não chegou a 50%, por isso temo uma segunda onda”, considera o médico que acabou por se infectar pelo novo coronavírus e se recupera há duas semanas em casa. “Foi terrível, a gente sente o bafo da morte. A doença é extremamente agressiva e rápida”, comenta.

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Para o médico e diretor do Centro de Virologia do Instituto Adolfo Lutz, Luís Fernando de Macedo Brígido, o retorno só seria justificável para atender as famílias em situação de vulnerabilidade, que não têm onde deixar os filhos para ir trabalhar. “O processo deveria iniciar com reposição de matérias para que todos os alunos possam se atualizar e logo depois focar na educação sanitária, para que as crianças entendam o que é biologia, como funciona a transmissão do vírus e a importância das noções de limpeza e higiene. Essa medida fortalece a ideia das crianças como disseminadoras da informação”, diz.

A presidente da Associação das Escolas Particulares do ABC (Aesp-ABC), Oswana Fameli, é muito cautelosa ao falar sobre retorno dos alunos aos colégios. Ela relata que as instituições estão preparando-se, mas que isso deve ser gradual, seguido protocolos rigorosíssimos de saúde. “Vamos seguir o protocolo estabelecido pelo Sieeesp (Sindicato dos Estabelecimentos de Ensino do Estado de São Paulo) o qual estamos buscando uma rede de medicina da região para assinar junto. Com os pais voltando a trabalhar, precisam ter onde deixar os filhos menores. Já os maiores, que são mais autônomos e que podem ficar em casa tudo bem, para quê mexer no que está funcionando? Nossa preocupação agora é com os menores”, relata.

Oswana Fameli diz que retorno deve ser gradual e começar pelos alunos menores. (Foto: Caíque Alencar)

Oswana disse ainda que a volta, mesmo que gradual e começando pelos alunos menores, não é viável agora, com a curva de transmissão em ascendência. “Isso só quando for seguro o retorno. O ABC pode passar para a fase amarela, na próxima semana, dali mais 15 ou 20 dias poderia ingressar na verde. Aí poderia começar esse processo”. Ela considera que os investimentos feitos nas escolas durante a pandemia, para o ensino à distância, devem ficar. “Os professores deram um show, tenho um orgulho muito grande desses profissionais que transformaram suas casas em sala de aula. Essa é uma linda transformação que não pode se perder”, comenta.

Pai de aluno da escola municipal José Martins, em Diadema, Edgler Laurindo dos Santos, de 51 anos, disse que não considera seguro mandar o filho para a escola. “Eu não mandaria, pois Diadema não tem nada, nem hospital de campanha; eu não mando porque a escola não está preparada para isso, até o ensino está muito fraco”, comenta o pai que é membro do Conselho de Escola.

Marina Silvério, moradora do bairro Baeta Neves, em São Bernardo, tem dois filhos na escola municipal Anita Magrini Guedes, e diz que não vai mandar os filhos para a escola, mesmo que em setembro o retorno seja autorizado. Recentemente ela perdeu um irmão para a covid-19. “Para mim não é seguro, vivi e estou vivendo esse drama na minha família. A sociedade ainda não está preparada para retomar nessa velocidade e as pessoas estão subestimando demais. Agora você imagina com as crianças. Pelo amor de Deus, vão aprender o quê em 3 meses?”, indaga.

Claudia Ferreira Lima, mãe de uma menina de 9 anos e um garoto de 7, ambos estudantes do Colégio Singular de São Bernardo, também prefere manter as crianças em casa. “Só sou a favor quando houver medicação ou vacina (no momento) tenho medo de enviá-los. Eu não mandaria, inclusive outras mães e pais têm o mesmo pensamento”, comenta.

Mas há opiniões diferentes quanto a esse assunto. Patrícia Favoretto, mãe de aluna do Colégio Singular, em Santo André, considera que, com todos os cuidados, se sentiria tranquila em mandar a filha para a escola. “É seguro e necessário, apesar de achar que esse ano está perdido para a educação. Na minha opinião, e na minha experiência com essa doença – que inclusive meu pai de 73 anos, com enfisema pulmonar, teve contato e só descobrimos porque ele fez o exame de sangue e estava imune – não é assim tão perigosa no que se refere a mortalidade. Pelo menos 80% da população terá contato e muitos já tiveram e nem sabem. Temos que tomar as medidas de higiene, que na verdade são boas até para evitar outras doenças, mas parar a vida não, porque os pais estão trabalhando e as crianças estão com os avós e esses, sim, são o grupo de risco”, analisa.

 

Campanha visa salvar escolas particulares do fechamento

Muitas escolas particulares do ABC têm passado por dificuldades financeiras em diferentes níveis desde a suspensão das aulas presenciais. Apesar da implantação do ensino online, muitos pais, também afetados com perda de emprego ou salários reduzidos romperam contratos, outros negociaram descontos, o que levou as instituições, que ainda não iniciaram processo de demissões em massa, a problemas de caixa. Uma campanha, que deve ter início na próxima semana, visa valorizar a escola particular.

Segundo Oswana Fameli, a campanha será feita através de 15 outdoors pela região. “É um apelo para que os pais não tirem os filhos da escola e dessa forma não deixem que as escolas fechem”, explica.

Atualmente o ABC tem aproximadamente 8 mil pessoas entre educadores e pessoal de apoio trabalhando nas escolas particulares, que atendem a aproximadamente 50 mil alunos. “Ainda não houve um movimento de demissão em massa porque apelamos para que sejam mantidos os empregos, mas a situação está difícil. Eu avalio que a escola particular deve ser considerada um serviço essencial e como tal precisamos de ajuda, como a redução de impostos, para continuarmos atendendo senão, principalmente as pequenas escolas vão sucumbir”, analisa Oswana.

(Colaborou Amanda Lemos)

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