Manifestações contra o racismo em diversos países marcam o ano de 2020 após o assassinato de George Floyd, em Minessota, nos Estados Unidos. Apesar de nunca ter saído das pautas, a questão racial voltou a ser discutida de forma ampla, após diversos crimes contra pessoas negras ocorrerem de forma agressiva, o que gerou repercussão nacional e internacional.
Em entrevista ao RDtv, Helton Fesan, advogado que ajudou a instituir o Conselho da Igualdade Racial de Santo André, falou sobre a ligação do assassinato nos EUA e as manifestações no Brasil. “É importante perceber que não é um ato gerado pelo George Floyd, mas foi a gota d’água, foi mais uma das mortes que presenciamos todos os dias. Toda a vez que temos um risco da democracia vem a toda o problema racial, porque são irmãos gêmeos, o fascismo e o racismo, o ataque a democracia sempre vai gerar um efeito ligado as questões sociais”.
Sobre o que as manifestações podem ajudar, Fesan ressalta a importância do movimento e diz que o sistema precisa mudar. “Quando você privilegia um grupo você prejudica o outro. O sistema está tentando sobreviver a todo custo, para preservar a estrutura que foi montada, mas a sociedade está dizendo que precisamos mudar isso. A primeira consequência positiva foi a visibilidade, que se deu porque a sociedade ia ruir, as relações não conseguiriam prosseguir”, ressalta.
Cícero Martinha, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Santo André e Mauá, relatou que o que é visto nas fábricas é o retrato da sociedade. “Constatamos claramente, que nas empresas os cargos de maior risco têm uma quantidade maior de negros. Se você ver o chão de fábrica e o administrativo da para ver a diferença”.
Também ligado as questões raciais, Ney do Sindicato, Diretor do Departamento de Igualdade Racial, comentou sobre a atuação do setor após os episódios em todo o mundo. “Estamos indo mais nas fábricas e conversando com as pessoas, principalmente com negros, falando sobre as questões de salário. Aqui no Brasil não é diferente dos EUA, você vai na periferia e vê como as pessoas são tratadas. O número de trabalhadores vem diminuído devido a pandemia, antes também, e essa classe é a mais prejudicada”, informa.
Para completar, Helton explicou de forma simples como a agressão aos negros é maior e o motivo do Estado precisar repensar o formato da sociedade. “Temos que entender que as coisas são diferentes, enquanto questões sociais não somos e não queremos ser iguais, quando falamos que todos somos iguais é em questões de direitos. Fisiologicamente somos diferentes, temos necessidades diferentes. Igualdade não é fazer com que todo mundo seja igual, isso é fascismo, o que nós queremos são direitos iguais, temos que ser tratados pelo estado de maneira igual”.
“O sistema é montado para proteger uma violência. Existe um conceito jurídico de legalidade, que é o que esta na lei e legitimidade, que é o que é justo. A abordagem policial é legal, mas não e legitima, a forca policial é um braço do estado e o estado não chega na periferia, não chega com coisas básicas, mas consegue chegar com o policiamento, e óbvio que a sociedade vai ter esse olhar, deixa de ser legitimo. Não é justo que a forca policial esteja na comunidade, pois o estado não entra com outras coisas lá. No momento que temos essa ilegitimidade você vai ter violência, a policia vai entrar e aquela sociedade vai reagir, para a policia se fazer valer ela precisa ser extremamente mais violenta, essa é uma questão estrutural, não adianta apenas pregar isso, mas os policiais precisam parar de matar na periferia, e para isso o estado precisa levar todos os bens que a sociedade produziu para esse local”, completa.