Os representantes dos comerciantes na região do ABC criticaram a recente determinação do governador João Doria (PSDB) sobre o início da flexibilização da quarentena na Capital em detrimento às cidades da região metropolitana que continuam com a proibição de abertura dos comércios não essenciais. Os presidentes das associações comerciais apontam prejuízos incalculáveis e temem a quebra de inúmeros pequenos estabelecimentos.
Em entrevista ao RDTv nesta sexta-feira (29/05), Pedro Cia, presidente da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André); José Eduardo Zago, presidente da Aciam (Associação Comercial e Industrial de Mauá); Gerardo Pedro Sauter, presidente da Associação Comercial, Industrial e Agrícola de Ribeirão Pires (Aciarp) e Alessandro Leone, vice-presidente da Aciscs (Associação Comercial e Industrial de São Caetano do Sul (Aciscs), disseram que é possível uma reabertura imediata dos pequenos comércios respeitando regras sanitárias como o distanciamento entre as pessoas no interior dos estabelecimentos, fornecimento de álcool em gel e barreiras acrílicas.
“Não mudou nada nada ele (governador) simplesmente fatiou a região metropolitana em pedaços menores. O governador já conhece os números do ABC, o que nos deixa mais indignados. Nossos números são melhores que os da Capital e ficamos uma semana para depois”, disse Pedro Cia. “Não consigo entender o governador que já tem os dados, poderia flexibilizar já a partir de agora. Nossos números são melhores teria que ser um processo inverso, o ABC abrir primeiro” disse Leone.
O vice-presidente da Aciscs diz que não há fronteiras entre os municípios e os consumidores vão sair e ir até São Paulo consumir. “As pessoas vão sair do ABC para consumir na cidade de São Paulo se os shoppings abrirem. Não falaram nada das escolas, os pais vão trabalhar e os filhos? Ficam com os avós? Me parece que estão batendo cabeça”, preocupa-se Alessandro Leone.
Para Gerardo Sauter já há um plano para a reabertura e não seria tudo de uma só vez, primeiro voltariam os pequenos comércios. “Ainda bem que ele voltou atrás para analisar o ABC. O que já tá ruim hoje ia ficar pior. O estudofeito pela Facesp (Federação das Associações Comerciais do Estado de São Paulo) já está pronto para gente voltar sem essa bagunça; começa com os negócios pequenos e depois vai seguindo para as maiores”, destacou.
Em Mauá, segundo o presidente da Aciam, 80% do comércio manteve as portas fechadas durante a quarentena e a abertura na Capital trará caos ao ABC. “. A gente não sabe o limite de município. São Paulo vai ganhar muito em cima disso e o ABC vai perder demais. Não sei quem foi o gênio que fez isso, mas minha posição é voltar com segurança, luva, máscara o que der para fazer proteção como barreiras de acrílico e álcool em gel”, analisa.
Segundo Leone a expectativa é grande de reabertura na próxima semana, mas o fato de abrir não quer dizer que as coisas vão voltar à normalidade. “A expectativa não é nada agradável. O fato de estar aberto não quer dizer muita coisa”, disse o representante da Aciscs. Da mesma opinião é Gerardo Sauter. “Se não flexibilizar o mais rápido possível não vai ter mais comércio pequeno”, diz o presidente da Aciarp.
Números
Pedro Cia considera que o prejuízo já e enorme e que o ano já está perdido para o comércio. “O prejuízo é imensurável, ainda não temos os números definidos, mas é grande, mesmo trabalhando em delivery, essa retomada é muito lenta. O ano de 2020 está praticamente perdido por tudo que foi planejado e 2021 também. O estrago foi muito grande na economia, o ABC já perdeu mais de 7,2 mil vagas de emprego, um público que vai deixar de consumir, não vai comprar, só o essencial”.
A Aciscs encomendou uma pesquisa que é feita através de um questionário distribuído aos associados. Essa pesquisa que está para ser concluída e os resultados serão divulgados na próxima semana. Baseado nas respostas dos primeiros questionários Leone aponta para uma perspectiva nada otimista. “Estamos fazendo uma pesquisa até o dia 31, com 25 questões para saber a perspectiva de futuro do comerciante. Pelos primeiros questionários a situação é muito triste o que não é diferente do restante do ABC. Não é otimista, tem muita gente com perspectiva de abrir e não sabe se vai continuar de pé, porque o consumo não vai ser o mesmo. As medidas do governo federal não chegam ao pequeno empresário; os bancos não estão nem aí, precisam de uma garantia real para dar esse crédito e quem pode dar é essa garantia é o governo federal que não dá. A verdade é uma só, não temos para onde correr”.
Eduardo Zago diz que os governos poderiam fazer mais. “Não vamos ter como ajudar essas pessoas, governos deveriam abrir mão e os bancos não estão flexibilizando. Não quero ir contra a decreto de governador ou prefeito, ninguém quer uma revolução, mas se não nos mobilizarmos não vamos ter resultado nenhum. Vamos ter um maior índice de desemprego se essa flexibilização não vier logo para o ABC, as mortes vão aumentar, por fome, por violência ou por saques. Estou bastante chateado, dizem que o que não tem remédio remediado está, então vamos aguardar”, concluiu.
Apesar da dificuldade atual e a pesquisa apontar para um futuro nada promissor, o vice presidente da Aciscs prefere o otimismo. “Vamos superar, pois o brasileiro é empreendedor, vai levar tempo, mas vamos sair dessa”, concluiu.