O Dia Mundial da Adoção, comemorado nesta segunda-feira (25/05), trouxe uma reflexão importante sobre o tema. Segundo a assistente social do Grupo de Apoio à Adoção Laços de Ternura, de Santo André, Maria Inês Villalva, há motivos para comemorar a data pois a cada ano o tema é mais discutido com a queda de preconceitos e, mais importante, conseguindo colocar as crianças em famílias. Uma preocupação nova, porém, é o aumento do número de crianças nos abrigos; em Santo André, por exemplo, há 120 vagas nas entidades e 110 já estão ocupadas, na média histórica o número de internos não passava dos 100. Esse salto de 10% coincide com o período de pandemia da covid-19.
“Tem o que comemorar pois as famílias estão muito mais abertas à adoção e temos conseguindo espaço para falar do assunto, que há pouco tempo era tema invisível. O preconceito está diminuindo, não se ouve mais falar de filho de criação. Acho que a gente caminha para um futuro muito melhor, sim”, comenta Maria Inês que também é coordenadora técnica da Feasa (Federação das Entidades Assistenciais de Santo André) onde surgiu o Grupo Laços de Ternura através do trabalho voluntário de várias pessoas. O grupo está prestes a completar 20 anos.
Segundo a coordenadora os impactos da pandemia nos processos de adoção acontecem principalmente na parte jurídica, já que boa parte das atividades dos fóruns está parada. “As entrevistas não estão acontecendo e isso traz um certo atraso nos processos de adoção e para aquelas pessoas que estão querendo iniciar no processo”, relata. De outro lado as instituições estão cada vez mais cheias. “As crianças não estão saindo do serviço de acolhimento ou, se estão saindo, isso ocorre em proporção muito menor. A gente também teme que a pandemia traga mais situações de violência, abandono e negligência e mais crianças precisem de vagas no acolhimento. Pode ter aí um colapso de vagas. Em Santo André são 120 vagas no serviço de acolhimento, até última informação que eu tive eram 110. Antes não passava de 100, agora a gente percebe que está caminhando para uma superlotação. Desde a pandemia já teve dez vagas ocupadas, se o isolamento permanecer por mais tempo a chance de superlotação é iminente”, preocupa-se.
Burocracia
Bastante criticada como uma das barreiras da aproximação entre pretendentes a adoção e as crianças abrigadas, a burocracia diminuiu, mas ela é necessária para o preparo também das famílias pretendentes, segundo avalia a coordenadora da Feasa. “O processo de adoção já foi ainda mais moroso do que é hoje, lentamente a gente está avançando. A adoção precisa de alguns procedimentos precisa de um processo de habilitação muito cuidadoso para que se garanta que a criança não seja novamente vitimizada. A justiça tem que se cercar de todos os cuidados. Isso é uma responsabilidade muito grande. Essa morosidade acontece porque a Justiça não está tão aparelhada, mas também esse tempo é muito importante para que as famílias se preparem. Essa família tem que estar muito segura, preparada, entender determinados comportamentos e efetivar uma adoção segura, consciente e responsável”, explica Maria Inês Villalva.
O tempo de espera por uma criança também depende do perfil que os pais indicam quando se inscrevem no fórum. Crianças recém-nascidas, meninas e brancas são mais procuradas. A adoção tardia, aquela com crianças acima dos cinco anos tende a ser mais rápida.
Outro efeito da pandemia foi a suspensão dos encontros mensais do grupo Laços de Ternura, que não ocorreram nos meses de março, abril e maio, mas para junho a situação vai mudar pois o grupo está organizando o primeiro encontro através de videoconferência. Cerca de 100 pessoas participam dos encontros presenciais. “A pandemia está nos isolando das famílias e a gente está com muita saudade. Vamos ter reunião virtual do grupo em junho. Além disso o nosso atendimento pessoal e pontual, continua. Quando os integrantes do grupo precisarem conversar podem nos acionar a qualquer momento”, diz Maria Inês.
O GAA Laços de Ternura é um trabalho voluntário que conta com uma advogada, duas psicólogas e assistente social, para fazer esse atendimento. “Eu acredito na adoção e defendo com unhas e dentes como forma de formar uma família. A adoção é uma alternativa muito importante para essas crianças que estão privadas de conviver com a família biológica. Nosso trabalho não é procurar uma criança para a família, mas é procurar uma família para a criança, nosso maior interesse”, destaca Maria Inês.
Verba
A pandemia também trouxe outro efeito perverso para as entidades ligadas à Feasa e outras que precisam de doações para continuarem com seus trabalhos, cuidando de crianças, idosos, deficientes ou famílias carentes. “Está faltando é dinheiro. As entidades precisam captar recursos pois nenhuma se mantém só com convênios e com verba pública. Os bazares que organizavam estão fechados, noites das pizzas não tem mais; as notas fiscais paulistas, com a diminuição do consumo, caíram muito. Essas instituições estão com dificuldades para continuar a socorrer as famílias mais necessitadas.
Qualquer doação pode ser feita através da Feasa. Informações no telefone 4436-7477 que funciona também no aplicativo WhatsApp.