Na linha de frente do combate ao novo coronavírus, profissionais da saúde passaram a ganhar reconhecimento da população pelos serviços prestados, mas apesar disso, Renata Pietro, embaixadora da Federação Mundial de Cuidados Intensivos e presidente do Departamento de Enfermagem da AMIB (Associação de Medicina Intensiva Brasileira) relatou, em entrevista ao RDtv, que as condições e dificuldades enfrentadas pelos trabalhadores da saúde ainda precisam ser discutidas.
Uma das principais queixas da embaixadora é com relação a falta de proteção financeira deixada para as famílias que perderam um parente que atuava no seguimento. “Se o profissional morrer não há beneficio qualquer para os filhos ou família, hoje fazem mais falta os profissionais de enfermagem do que de outras áreas”, comenta.
Ainda que o momento atípico necessite de mais profissionais da saúde e por mais tempo na linha de frente Renata diz que nenhum profissional da saúde se recusa a ir trabalhar apesar de não ganharem o descanso necessário para recompor saúde mental e física. “Fica difícil reduzimos o descanso desses profissionais, ainda mais nesse momento, todos estão de quarentena, mas esse profissional é quem está na linha de frente, e quando olhamos para a enfermagem eles trabalham 40h semanais ou mais. É uma classe operária muitas vezes submetida a jornadas intensas de trabalho”.
Segundo a embaixadora, 80% dos profissionais da saúde é composto por mulheres, que possuem outras jornadas, em casa ou com estudos. “O aplauso é legal, mas precisamos fazer com que esse profissional tenha um salário digno e condições mínimas de humanização. Precisamos trazer um olhar mais atento a esse profissional. A OMS (Organização Mundial da Saúde) diz que pessoas que lidam com extremo estresse precisam ter o turno regulamentado em 30h, mas isso ainda não existe por aqui” comenta Renata, que ainda falou sobre a luta de conseguir o benefício.
“Em São Paulo foi aprovado, conversamos com cada um dos deputados que votaram a favor, mas chegou no governador e foi vetado. Quando falamos em redução é uma folga a mais para esse profissional, sabemos que a saúde mental é muito importante nessas condições, até porque nenhum profissional sai de casa para cometer um erro ou uma falha” salienta.
Outra questão levantada por Renata é com a proteção dos profissionais para evitar que sejam contaminados. “Não temos esse número concreto pois muitos casos são subnotificados, mas perder profissionais qualificados nesse momento é muito ruim leva em media dois anos para se formarem. É uma categoria grande e sem voz”, completa.