Por conta das medidas de restrição e isolamento social adotadas na pandemia da Covid-19, um dos setores que mais sofreu foi o de logística, que está intimamente ligado ao movimento do comércio. Na região do ABC a movimentação de frotas teve uma queda muito superior registrada no estado. Levantamento da Cobli, startup de rastreamento e monitoramento de frotas, mostra que o índice estadual revela queda de 24% na movimentação, enquanto que em São Caetano, por exemplo o índice de queda foi mais do que o dobro, 50%; em Santo André, a redução de veículos de frota na rua foi de 49%.
A análise leva em consideração o total de quilômetros rodados pelas frotas entre os dias 23 de março – quando as medidas de restrição comercial começaram a entrar em vigor – e 19 de abril. De acordo com o levantamento, com base em seu próprio banco de dados, a área de arte, cultura, esporte e recreação foi a que mais sofreu impacto, com queda de 77%, seguidos pelo setor de alojamento e alimentação, cuja baixa foi de 41%.
Um segmento que chamou atenção e está entre os que mais tiveram redução de movimentação de frotas foi o da indústria de móveis. Segundo Rodrigo Mourad, diretor executivo da Cobli, esse dado pode ser explicado na redução da atividade da construção civil, com obras sendo adiadas. “Nossas conversas com clientes do setor têm mostrado que muitas obras e reformas estão sendo postergadas visando reduzir contatos com terceiros e postergar despesas para um momento quando tenham mais segurança financeira”, relata.
No ABC os índices de três cidades ficaram acima da média do estado: Santo André (-49%), São Caetano (-50%) e São Bernardo (-28%). As demais cidades tiveram números muito abaixo, apesar de serem vizinhas e terem praticamente o mesmo perfil: Mauá (-12%), Diadema (-3%) e Ribeirão Pires (+11%). “Há três principais fatores puxando a variação por região: número de contágios, políticas públicas e matriz de indústrias. O ABC é uma região com indústrias de transformação muito fortes como a automotiva, que foi um dos setores mais impactados tanto na cadeia de suprimentos quanto na sua distribuição. Compras não recorrentes como veículos e imóveis sofreram um impacto grande conforme a população que, em geral, parcela essas aquisições, e aguarda por uma maior segurança financeira para fazer compromissos de mais longo prazo”, analisa o CEO da Cobli.
Para Rodrigo Mourad com as medidas de restrição de circulação, como o rodízio ampliado na Capital e a quarentena esticada até 31 de maio a circulação de frotas tende a cair ainda mais. “Conforme o desemprego da população e o endividamento das empresas está aumentando, mais aquisições estão sendo postergadas ou canceladas. Também, há um efeito chicote em algumas indústrias. Por exemplo, na indústria de proteínas animais, vimos um crescimento grande na movimentação nas primeiras semanas, representando uma estocagem da cadeia até os supermercados e consumidores, nas semanas subsequentes, houve uma redução e depois a indústria se estabilizou em um novo normal para a quarentena”.
Esse novo comportamento de consumo, vai também balizar novas formas de análise do mercado. O efeito chicote do mercado a que Mourad se refere, é perfeitamente ilustrado com o levantamento feito pela Apas (Associação Paulista de Supermercados), que chegou a registrar alta 48,5% na primeira semana de quarentena no estado. Esse pico foi registrado no dia 19 de março, quando alguns itens chegaram a faltar nas prateleiras. Essa demanda reduziu-se mas se manteve acima dos 20% até o final daquele mês.
Para Mourad a pandemia trouxe uma nova realidade de consumo. “Conversei na última semana com uma empresa que produz pães congelados em Minas Gerais. Eles perceberam um aumento de sua demanda, pois as pessoas estão indo menos ao mercado e padarias e optando cada vez mais pela aquisição de alimentos de fácil estocagem e consumo, para evitar exposição desnecessária. Estes exemplos ilustram que empresas e pessoas estão se adaptando à nova realidade e muito do consumo é diferente do que era antes”, conclui.