Pandemia causa estragos e desvaloriza valor de mercado de jogadores e clubes

A paralisação do futebol por praticamente todo o planeta causada pela pandemia do novo coronavírus tem causado enormes prejuízos no mundo do futebol. E esse estrago pode ser maior no futuro por conta da desvalorização de jogadores e clubes para as próximas janelas de transferências. Isso vale tanto para a Europa, onde está a maioria dos atletas de ponta, como o Brasil.

Um estudo divulgado nesta semana pela consultora KPMG mostrou que esses prejuízos vão atingir muita gente. A crise econômica causada pela pandemia levará a uma queda no valor de mercado dos jogadores, que poderá superar os 20% em nomes mais conhecidos mundialmente como o brasileiro Neymar e o francês Kylian Mbappé, ambos do Paris Saint-Germain, e o argentino Lionel Messi, do Barcelona.

Newsletter RD

“A crise do coronavírus terá certamente um impacto no valor dos jogadores. As obrigações financeiras resultarão provavelmente em uma queda no número de transferências e também nos valores, em benefício dos empréstimos ou das trocas de jogadores”, analisou a KPMG em seu estudo que avaliou a perda de valor de mercado de mais de quatro mil atletas que disputam os 10 principais campeonatos na Europa: Inglaterra (primeira e segunda divisões), Espanha, Alemanha, Itália, França, Holanda, Bélgica, Turquia e Portugal.

O estudo revelou uma perda média de 20% no valor de mercado dos 20 jogadores mais caros em caso de suspensão definitiva da atual temporada, como são os casos na França e na Holanda, ou de 13% se as competições puderem ser concluídas. A Alemanha, por exemplo, já definiu que a retomada de seu campeonato nacional será no próximo dia 16. Espanha, Itália e Inglaterra têm a mesma ideia, mas ainda não definiram se terminarão seus torneios.

Os casos de Mbappé, Neymar e Messi são mais emblemáticos. Com respectivamente 21,5% e 21,7% de queda no valor de mercado devido à suspensão definitiva da temporada na França, os dois jogadores mais caros da Europa estão um pouco acima da média.

O passe do atacante francês está avaliado entre 177 (R$ 1,12 bilhão) e 188 milhões (R$ 1,19 bilhão) de euros, contra os 225 milhões de euros (R$ 1,42 bilhão) que a KMPG estimava em fevereiro, enquanto que Neymar já não valeria mais 175 milhões de euros (R$ 1,1 bilhão), mas sim entre 137 (R$ 867 milhões) e 149 milhões (R$ 943 milhões). Lionel Messi, que fará 33 anos em junho, perderia entre 23,2% e 27,5% de seu valor de mercado – para 127 (R$ 803 milhões) e 134 milhões de euros (R$ 848 milhões), respectivamente.

“Realmente é um caso único na história. A gente não tem uma queda de receitas assim, de economia, de uma forma geral tão elevada. Então o jogador entra dentro desse contexto de perdas. O jogador precisa de exposição, de campeonato, de bons contratos, fazer publicidade, fechar contrato de patrocínio. Uma série de variáveis que acaba impactando. Esse estudo da KPMG está ligado a esse momento atual da economia mundial e, obviamente, do lado esportivo. Essas perdas estão ligados a essa recessão, desaquecimento. Nunca vi nada parecido em toda a minha vida”, constatou Amir Somoggi, consultor em marketing e gestão esportiva e sócio diretor da Sports Value, em entrevista ao Estado.

“Você vai ter um jogador como o Neymar que pode se desvalorizar porque se machucou, trocou de time, se envolveu em alguma polêmica, perdeu patrocínios. Isso é até normal no futebol, estamos habituados. Agora a perda de valor de uma maneira estrutural por conta da situação da economia mundial é a primeira vez que a gente tem alguma ideia dessa questão”, prosseguiu o consultor.

Há casos que a desvalorização do valor de mercado será menor. Isso vale apenas para jogadores nascidos de 1998 em diante, que perderão em média 10% de seus valores estabelecidos no período anterior à disseminação global da covid-19. Isso é o que aponta o site Transfermarkt, especializado em negócios do futebol. Ao todo, a desvalorização supera os 9 bilhões de euros (mais de R$ 57 bilhões).

“O mercado entrou em colapso, muitos clubes podem estar ameaçados de insolvência e os planos de transferência foram suspensos devido às muitas incertezas que existem na maioria das equipes. É dificilmente concebível que os preços de transferência continuem a subir no futuro como nos últimos anos”, explicou o fundador da página, Matthias Seidel.

BRASIL – A desvalorização do valor de mercado dos jogadores também atinge o Brasil. Clubes dependem muito da venda de seus atletas para tentarem colocar as contas em dia. Um exemplo dessa perda é o atacante Everton, do Grêmio. Nascido em 1996 e considerado pelo Transfermarkt o jogador mais caro do futebol brasileiro, teve seu valor de mercado reduzido de 35 milhões de euros (R$ 221 milhões) para 28 milhões de euros (R$ 177 milhões).

Em contrapartida, como apontado pelo site, o jogador do Palmeiras Gabriel Veron, nascido em 2002, teve seu valor de mercado reduzido de 25 milhões de euros (R$ 158 milhões) para 22,5 milhões de euros (R$ 142 milhões). Uma queda menos acentuada comparada com a de Everton.

“Uma avaliação individual dos valores de mercado no âmbito de atualizações regulares e a ajuda de nossos gestores de valor de mercado ainda é necessária e ocorrerá novamente o mais rápido possível, porque nem todos os jogadores devem experimentar a mesma perda de valor devido à crise”, disse Seidel, que prosseguiu: “A atual redução geral no valor de mercado é uma reação à essa situação extraordinária, na qual não se pode descartar que dentro de poucas semanas outro ajuste tenha de ser feito”.

A nível de clubes, o Manchester City apresenta o elenco mais valioso da Europa mesmo com a crise causada pela pandemia do novo coronavírus, enquanto que Barcelona (entre 20,5% e 28,9%), Real Madrid (19,1% e 27,2%) e Chelsea (19% e 27%) são os clubes que sofreriam a maior desvalorização com seus jogadores.

No Brasil, o elenco mais valioso, de acordo com o Transfermarkt, é o Flamengo. Mas todo esse problema atual tem causado impacto apesar do clube estar com a saúde financeira em dia. O atual campeão da Copa Libertadores sofreu uma queda no valor de mercado de 30 milhões de euros, algo em torno de R$ 188,5 milhões na cotação atual. No dia 15 de março, antes da paralisação do futebol brasileiro, o time carioca valia 151,2 milhões (R$ 950 milhões) e hoje vale 121,78 milhões de euros (R$ 765,3 milhões).

Mas não foi só o Flamengo que sofreu desvalorização. O Palmeiras, dono do segundo elenco mais valioso do Brasil, teve uma queda de 18,3% no valor de mercado de seu time. Na sequência, o Grêmio ficou 19% mais barato.

Confira a lista dos 10 jogadores de futebol mais valiosos do mundo (com valores já corrigidos com a desvalorização do valor de mercado):

1.º – Kylian Mbappé (Paris Saint-Germain-FRA): entre 177 (R$ 1,12 bilhão) e 188 milhões de euros (R$ 1,19 bilhão);
2.º – Neymar (Paris Saint-Germain-FRA): entre 137 (R$ 867 milhões) e 149 milhões de euros (R$ 943 milhões);
3.º – Raheem Sterling (Manchester City-ING): entre 129 (R$ 804,6 milhões) e 134 milhões de euros (R$ 848 milhões);
4.º – Lionel Messi (Barcelona-ARG): entre 127 (R$ 803 milhões) e 134 milhões de euros (R$ 848 milhões);
5.º – Mohamed Salah (Liverpool-ING): entre 124 (R$ 773,4 milhões) e 131 milhões de euros (R$ 817,1 milhões);
6.º – Jadon Sancho (Borussia Dortmund-ALE): entre 121 (R$ 754,7 milhões) e 127 milhões de euros (R$ 803 milhões);
7.º – Sadio Mané (Liverpool-ING): entre 116 (R$ 723,5 milhões) e 123 milhões de euros (R$ 767,2 milhões);
8.º – Harry Kane (Tottenham-ING): entre 112 (R$ 698,6 milhões) e 117 milhões de euros (R$ 728,1 milhões);
9.º – Kevin De Bruyne (Manchester City-ING): entre 99 (R$ 616,1 milhões) e 112 milhões de euros (R$ 698,6 milhões);
10.º – Marcus Rashford (Manchester United-ING): entre 96 (R$ 597,4 milhões) e 101 milhões de euros (R$ 628,5 milhões).

Receba notícias do ABC diariamente em seu telefone.
Envie a mensagem “receber” via WhatsApp para o número 11 99927-5496.

Compartilhar nas redes