Profissionais da saúde do Hospital Municipal Universitário de São Bernardo relatam serem vítimas das más condições de trabalho, que oferecem riscos para contágio do novo coronavírus (covid-19). Segundo uma técnica de enfermagem, que prefere não ser identificada, não há aventais apropriados para a equipe e as máscaras descartáveis são limitadas a duas unidades por plantão, que possui 12 horas de duração.
Segundo ela, as más condições de trabalho na unidade de saúde afetam os trabalhadores desde o início da pandemia. A profissional, que atua na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal, explica sobre a alegação do hospital para os funcionários do setor. “A justificativa para não oferecer aventais impermeáveis é de que os recém nascidos ficam dentro de incubadoras, portanto o risco de contaminação é pequeno. O que não é verdade, pois para os manipular, precisamos ter contato com eles”, diz.
Ainda segundo a técnica, a utilização de máscaras descartáveis é controlada. “Só podemos usar duas por plantão, que dura 12 horas”. A orientação contraria a OMS (Organização Mundial da Saúde), que recomenda que as máscaras sejam descartadas após cada uso em procedimentos. Se utilizada após este período, o equipamento perde a eficácia, o que deixa o profissional exposto ao contágio. Sobre o uso de álcool em gel, a funcionária ressalta que o produto fica disponível apenas na UTI. “No berçário utilizamos álcool comum”, explica.
A falta de locais para descanso também é um problema no hospital. Visto que não possuem espaços específicos para isso, os trabalhadores precisam passar o intervalo dos turnos fora da unidade, ou até mesmo nas cadeiras da recepção. “O Coren (Conselho Regional de Enfermagem) fala que a empresa precisa fornecer local apropriado para descanso, mas lá não funciona”, aponta.
Outro ponto levantado pela técnica, é que os profissionais não recebem dissídio há quatro anos. “Já foram abertos processos. A Fundação ABC nos deve 10 salários, mas querem pagar apenas um, dividido em duas vezes”, conta. Segundo a funcionária, a Prefeitura realiza os pagamentos de 2017 e 2019 apenas agora, mas o restante ainda continua inadimplente.
Questionada, a Prefeitura informou que os EPIs estão disponíveis em todas as unidades de internação para uso dos profissionais. O fornecimento e orientação de uso dos itens está pautado nas diretrizes técnicas do Ministério da Saúde. “A recomendação é que seja feita a troca da máscara cirúrgica mediante saturação (por umidade ou sujidade, por exemplo). Em relação ao espaço físico, está em andamento projeto de mudança para nova estrutura hospitalar (Hospital da Mulher), onde serão contemplados espaços para descanso durante os intervalos intrajornada”, diz a nota.
A cidade promoverá, nesta quinta-feira (07/05), o pagamento do reajuste salarial concedido aos 8.547 profissionais da Saúde de acordo com a classe salarial e a jornada de cada servidor. O aumento contempla o dissídio da categoria, que estava defasado desde 2016.