Conselho de notáveis recomenda que Witzel radicalize isolamento “para ontem”

Um conselho composto por cerca de dez profissionais renomados de Saúde entregou ao governador do Rio, Wilson Witzel, uma carta em que pedem a radicalização do isolamento social no Estado – ou seja, o chamado lockdown. As medidas, discutidas em reunião na última quinta-feira, 30, incluem o bloqueio de estradas e uma proibição efetiva da circulação de pessoas e veículos, que tem aumentado nas últimas semanas.

O governador, por sua vez, disse em entrevista ao programa Roda Viva que deveria partir do Judiciário a imposição de um lockdown. Para isso, conta com uma ação do Ministério Público, órgão com o qual se reúne nesta terça-feira, 5. No conselho de notáveis, porém, o entendimento é de que a adoção de novas medidas deve partir do Executivo.

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“A judicialização desse processo cria uma série de dificuldades operacionais. Seria muito mais adequado que o governo assumisse a responsabilidade e explicasse as medidas com clareza à população”, afirma o ex-ministro da Saúde José Gomes Temporão, que integra o conselho e comandou a pasta durante a pandemia de H1N1, em 2009. “É uma decisão para ontem. O que acontece hoje vai se expressar em mortes daqui a duas semanas.”

Há uma avaliação de que os números superlativos observados nos últimos dias no País, tanto os de infectados quanto os de mortos, estão relacionados a dois aspectos – ambos provocados pelo governo federal. O primeiro é que, segundo Temporão, a política econômica não está a serviço da Saúde, o que faz com que a população precise sair às ruas para se sustentar financeiramente. A segunda seria a própria postura do presidente Jair Bolsonaro, que trocou o ministro da Saúde e “dá mau exemplo” por meio de suas atitudes.

“Esses dois fatores fizeram com que, nas últimas semanas, tenha se percebido, em metrópoles, que o porcentual de pessoas que mantêm o isolamento caiu a até 50%. Isso faz com que a velocidade de transmissão aumente”, diz. “Cenas de pessoas morrendo em casa, nos hospitais, aguardando leitos, respiradores… Esse é o dia a dia da subnotificação, tanto de casos quanto de óbitos.”

Com base no entendimento de que a ocupação das ruas de hoje será a tragédia numérica de daqui a duas semanas, o conselho estabeleceu diretrizes que foram encaminhadas ao governador. Elas incluem: bloqueio de estradas do Estado; proibição efetiva da circulação de pessoas e veículos que não sejam de áreas essenciais; criação de um plano para a futura saída do isolamento, que passa por testar mais a população; mobilização de lideranças comunitárias para passar a mensagem pró-isolamento; e a disseminação da importância das medidas com empatia, “sem autoritarismo”.

As medidas também seriam adotadas com base numa análise de cada região, de acordo com quão afetada ela foi. Os conselheiros, que se reúnem periodicamente entre si e com o secretário estadual de Saúde, Edmar Santos, destacam a importância de se passar as informações com clareza, sem dar ares de “polícia sanitária”.

Quanto à futura saída do isolamento, Temporão aponta que um lado positivo do caso brasileiro é que outros países, como os europeus e os Estados Unidos, vivem etapas avançadas da crise, o que nos permite observar o que está sendo feito por lá.

“Podemos aprender com isso também, mas para isso temos que ter alguns critérios: entre outros, que o uso universal de máscara veio para ficar. Quando sairmos, todos devem usar máscaras”, diz. “E vamos ter que ter dados substantivos de que o número de óbitos está caindo. Temos que ter uma capacidade de atendimento de leitos de UTI e de respiradores, entre 30 e 50% de oferta ociosa, de retaguarda. E tem que testar mais. Não necessariamente todo mundo, mas saber: usar critérios científicos para estabelecer padrões de disseminação do vírus.”

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