O isolamento social motivado pela prevenção e combate ao novo coronavírus (Covid-19) fez com que quase metade das pessoas do ABC (47% do total) apresentassem queda na renda familiar após a implementação da quarentena, medida proposta pelo Governo do Estado. Para 9% os rendimentos caíram ainda mais do que a metade, conforme aponta a pesquisa sobre Impactos da Covid-19 na Economia Regional, aplicada pela Universidade Metodista de São Paulo.
Em entrevista ao RDtv, o pesquisador e professor no curso de Ciências Econômicas, Sandro Maskio, explica que um dos efeitos mais críticos observados na pesquisa foi a previsão para a taxa de desemprego na região, que deve crescer ainda mais. “Cerca de 2,5% dos 551 entrevistados na pesquisa nos relatam terem perdido o emprego logo no início na quarentena, o que já é complicado. Visando um cenário positivo estimamos que até o final de abril esse número cresça pelo menos 2%, o que equivale a 20 mil pessoas”, destaca.
Para o especialista, quem mais sofre com a crise econômica são aqueles que dependem exclusivamente da atividade do dia-a-dia, caso dos comerciantes, que estão em posições mais vulneráveis. “Quem depende exclusivamente dessa renda tende a sofrer mais, com certeza. Assim como quem não é registrado e não tem qualquer proteção trabalhista, que pode ser mandado embora sem receber seus direitos”, lembra.
Uma parcela de trabalhadores com carteira assinada (20,8% do total) enfrentam, ainda, o problema com o atraso de salários, o que dificulta o cotidiano de pelo menos 1/3 da população da região. Caso da moradora de Ribeirão Pires, Natasha Siqueira, de 25 anos, que segue com salário atrasado há um mês por conta do isolamento social ocasionado pela Covid-19.
Em entrevista ao RD, a atendente de uma loja de eletrodomésticos relata que logo no início quarentena, a empresa sinalizou que poderia haver atraso no pagamento dos funcionários, no entanto a demora chegou a extrapolar. “Estou completando um mês de atraso e até agora não sei quando vão depositar”, reclama indignada. Ela e seus colegas atuam em esquema home office, no auxílio dos clientes para a escolha de produtos no site da loja. “Todo mundo está trabalhando sem parar, dia e noite, e mesmo assim não estão cumprindo com a parte deles”, completa.
Segundo o pesquisador, para 4,5% os atrasos se agravam ainda mais pelo isolamento enquanto para outros 22,3% o atual cenário levou ao atraso das contas. “O isolamento social fez com que caísse a atividade econômica e automaticamente as rendas geradas, o que resultou em um empobrecimento da população. Isso tende a se agravar ainda mais, principalmente para a população mais vulnerável, que deve começar ainda a postergar suas dívidas”, avalia.
Quinzenalmente a pesquisa continuará a trazer os impactos regionais que o novo coronavírus traz ao País e, principalmente, para a região. Em sua primeira edição, o levantamento trouxe a informação que 54,4% da população passou a trabalhar em esquema home office, enquanto 14% passou a exercer uma parte do trabalho em casa. A mostra também apontou que 51,5% da população está empregada com carteira assinada enquanto 13,4% são autônomos e 12,1% atuam sem registro na carteira.