Nunca tinha vivido uma situação tão desafiadora, cheia de contradições e que nos exige superação. É assim que Dom Pedro Cipollini, bispo da Diocese de Santo André, instituição que responde por 106 paróquias nas sete cidades do ABC, enxerga este período de pandemia do novo coronavírus (Covid-19) no mundo. Cipollini deu entrevista para o canal RDtv, nesta quarta-feira (1º/4), quando disse que a orientação dada aos párocos é que invistam na valorização da vida, pois está em primeiro lugar, e não a questão econômica.
Cipolliini afirma que muitos têm ficado desesperado com a parte econômica, mas porque vivem num sistema em que muita gente lucra mesmo na crise, como os bancos “Eles nunca têm crise”, critica. Ressalta, porém, que é preciso pensar na vida e, também, praticar a partilha. “A vida é essencial, então a igreja respeita a vida em primeiro lugar”, defende.
Dom Pedro Cipollini comenta que tem sido muito difícil para os padres não celebrarem as missas presenciais e pede para os fiéis não ficarem tristes, porque a crise vai passar. Avisa que vai resgatar nas paróquias a Liturgia das Horas, uma forma de oração ritmada ao ciclo das horas canônicas, feitas de manhã (laudes), à tarde (vésperas) e noite (completas). “São alguns salmos e hinos que ajudam bastante”, diz. E, para substituir neste momento a prática do comungar, recomenda os fiéis fazerem a comunhão espiritual e se confessarem por meio do ato de contrição perfeita. “Eles são válidos neste momento, afirma.
A respeito das missas online, o religioso conta que a diocese tem feito um esforço na parte da comunicação e no trabalho de padres experts em transmissões de mensagens na internet. O bispo confessa que tem sido interessante observar que a igreja descobriu outro modo de evangelizar, que é na grande rede online.
Importante para a Igreja Católica, a Semana Santa será também difícil na visão do bispo, porque os fiéis não podem se encontrar. “Temos rezado muito e vamos aproveitar para refletir e pedir a Deus luzes para um mundo novo, com mais partilha neste momento de escuridão”, comenta.
Dom Pedro Cipollini conta que a Diocese tem se reunido com o conselho para encontrar uma forma de se manter economicamente, para ver onde cortar gastos e garantir ajuda a quem precisa mais, porque as paróquias vivem das ofertas, obtidas durante as celebrações e confraternizações. “A igreja não precisa dinheiro só para acumular, mas pra ajudar os pobres, na periferia”, explica.
O bispo afirma que as paróquias têm falado da falta de saneamento básico e de políticas públicas para os necessitados e que o Brasil vai na contramão daquilo que poderia prepará-lo para as dificuldades. “Tem uma boa Constituição, mas uma política que privilegia os mais ricos em detrimento da maioria”, critica o religioso.