Com pouco mais de 100 casos confirmados no ABC, o novo coronavírus (Covid-19) continua a gerar dúvidas para a população. Acontece que, em meio ao isolamento proposto pelo Ministério da Saúde, receitas milagrosas e mensagens compartilhadas ganham força e confundem o público, que alega não saber em quem ou o que confiar para driblar o contágio da doença.
Assim, em entrevista ao RDtv, a infectologista de Santo André, Elaine Matsuda, tira dúvidas e orienta sobre como evitar o contágio da doença e cuidar da família em tempos de quarentena.
Veja a entrevista completa:
- Qual a importância das pessoas estarem em isolamento?
Elaine: A doença é de transmissão respiratória e difícil de controlar, uma vez que não temos vacina, diferente da Influenza. O falar, tossir e espirrar geram um fluxo de ar em que se você tiver uma pessoa no entorno em menos de um metro de distância, ela vai inalar as partículas virais e contrair a infecção, assim como o espirro, se eu tocar no nariz e colocar a mão em uma superfície em que outra pessoa tenha contato e leve a mão ao rosto, inocula o vírus na via aérea superior. Como não se pode enxergar o vírus, é extremamente importante o isolamento social, ainda temos uma grande parcela da população que não percebe estar infectada, porque está em período de incubação ou em quadro leve da doença.
- É aconselhável usar máscara o tempo todo?
Elaine: Não. Se estiver em locais que consiga manter um metro de distância da outra, não é necessário utilização de máscara. É importante que a população não use esses equipamentos de proteção individual para que não faltem aos profissionais de saúde.
- Para quem é indicado o uso de máscaras?
Elaine: A máscara N95 é a mais indicada para profissional de saúde de UTI, que lida com pacientes no respirador e na coleta de secreções respiratórias para exame. No atendimento fora destas condições, a máscara cirúrgica é a mais indicada para os profissionais da saúde.
- Máscara de pano deve ser usada?
Elaine: É melhor usar a de pano para reservar as máscaras cirúrgicas aos profissionais de saúde, que neste momento sofrem com a falta deste produto. Para reutilizar a máscara de pano, a orientação é lavar no chuveiro e passar a ferro para esterilizar o material, uma vez que o vírus é inativado com calor de 60ºC.
- E a utilização de luvas?
Elaine: Pior ainda. Vemos em muitos lugares pessoas usando a mesma luva durante horas, contaminadas. É uma falsa proteção de segurança pra quem está usando, porque a pessoa não vai lavar as mãos toda hora. Deixem as luvas e máscaras para os profissionais de saúde que lidam diretamente com pacientes com secreção.
- O vírus é transmitido pelo contato?
Elaine: Não. O vírus não é transmitido pela pele, mas é uma infecção de transmissão pelo contato das mãos contaminadas com nariz e boca.
- Mesmo com isolamento pode manter a caminhada ou exercícios ao ar livre?
Elaine: Pedimos um bom senso extremo da população. Sabemos que é difícil ficar em casa o tempo inteiro, mas pedimos que as pessoas avaliem o momento em que a rua está vazia para manter a caminhada. É necessário ficar a pelo menos um metro de distância da outra pessoa, respeitar até mesmo as pessoas que vêm no sentido contrário. Na saída de casa, caso as pessoas peguem elevador, a dica é usar o equipamento sozinho para evitar o contágio e transmissão.
- Qual o risco que a criança pode oferecer ao ser vetor para os avós?
Elaine: É um risco real. O mais seguro é que a criança tenha primeiro um isolamento de 14 dias antes de ir para a casa dos avós. É importante lembrar que quando se tem um isolamento em casa para proteger o idoso, é necessário um cuidado com quem entra e sai, que pode ser vetor.
- A vitamina D pode ajudar a combater o vírus?
Elaine: Não existe nenhuma comprovação que vitaminas C ou D tenham efeitos na imunidade, mas fazem parte de uma dieta saudável. Há um viés que grande parte da população tem deficiência dessa vitamina, então se fizerem um estudo em quem teve Covid-19, muitos terão essa deficiência. Acontece que assim como as vitaminas A, E e K, a vitamina D é lipossolúvel, diferente da C em que o excesso pela urina, ela pode intoxicar se for utilizada em excesso.
- Como diferenciar uma gripe comum do coronavírus?
Elaine: Não tem como diferenciar um quadro respiratório de vias aéreas superiores e inferiores dentro dessa pandemia. Por isso que todas as pessoas que têm sintomas respiratórios com febre ou não, deve ter isolamento de 14 dias a partir do início dos sintomas junto com os outros familiares.
- Em que momento que devem buscar o hospital?
Elaine: Se a pessoa estiver com sintomas leves, não é necessário, pois ao buscar o pronto-socorro, o paciente pode se expor ao coronavírus. Deve procurar o pronto-socorro somente quem sente falta de ar, frequência respiratória maior ou não estiver conseguindo respirar.
- Quanto tempo dura o vírus nas superfícies?
Elaine: Em alumínio é onde o vírus persiste por mais tempo, de seis a sete dias. Cinco dias em superfícies plásticas e dois a três dias em papel.
- Como devemos nos portar quanto a limpeza? Muitos têm usado água sanitária no chão, isso ajuda?
Elaine: O chão não é o mais importante, você leva o vírus para o chão se você tem um bebê que engatinha ou tem algum membro da família que coloca calçados em cima da cama ou mesa, lugares tocados com frequência. Mas a maior preocupação é quanto às superfícies que são tocadas com frequência como maçanetas, corrimões e interruptores. O ideal é que haja limpeza constante, de preferência com detergente, álcool líquido de 70% ou solução com hipoclorito (água sanitária).